“Jogar contra Stefanos no saibro não é muito mais fácil do que enfrentar Rafa”.
A opinião de Alejandro Davidovich Fokina merece crédito. Muito crédito.
Desde o ano passado, Tsitsipas encorpou seu jogo sobre a terra batida, a superfície onde foi formado, e faltou muito pouco para ele ganhar Roland Garros em cima de Novak Djokovic dois meses depois de ter erguido o troféu de Monte Carlo. Aliás, na semana seguinte, ficou a um palmo de derrotar o próprio Nadal dentro de Barcelona.
Trocando em miúdos, Stef precisa cada vez mais ser respeitado sobre o saibro. Desde 2018, ele já fez finais em todos os grandes torneios sobre a superfície, à exceção de Roma, onde perdeu uma semi para Rafa e endureceu demais uma quartas contra Nole. De seus oito ATPs, metade aconteceram no saibro e este bi em Mônaco foi o terceiro troféu seguido no piso.
O próprio grego sabe que seu jogo se encaixa muito melhor no saibro hoje. Ele deu uma aula de apuro tático na semi de sábado contra Alexander Zverev, onde abusou do topspin para fazer o adversário disputar todos os pontos. Mas isso não é exatamente uma novidade. Naquela final de Barcelona do ano passado contra Nadal, usou do mesmo artifício.
Isso o torna um tenista bem perigoso, porque o deixa com muitas armas. É dono de um excepcional trabalho de pernas, enorme resistência física, sabe jogar na rede e tem um saque que não chega a ser espetacular, porém tem efetividade. Ninguém ousaria colocá-lo acima de Nadal ou Djokovic na lista de favoritos para Madri, Roma ou Paris. Porém, livre do problema no cotovelo e do apagão emocional pós-virada de Roland Garros, eu diria que ele surge no momento como maior risco aos recordistas de Grand Slam.
Primeiro fora do Big 4 a defender um título de Masters nos últimos 20 anos, acredito que ele esteja cometendo um erro ao manter presença em Barcelona, onde deve jogar na quarta-feira mas daí em diante entrar em quadra todo dia. Ainda que haja uma semana de buraco até Madri, seria talvez mais sensato mirar os grandes torneios, lembrando sempre que Roma é grudado no Masters espanhol e depois só existem sete dias até Paris.
Fokina também se dispôs a esse sacrifício, mas o argumento do espanhol é forte: ele não pode se recusar a jogar em casa. Admite no entanto estar esgotado, e não é apenas uma questão física mas acima de tudo emocional. Ele viveu um torneio extremamente intenso, com jogos duros e adrenalina no topo.
Quem acompanhou seu início de carreira deve se lembrar que Alejandro era mais ou menos o Carlos Alcaraz de hoje, tido como a esperança espanhola de renovação. Dono de um tênis de golpes pesados, jogando sempre na base da energia, o descendente de pais russos se mostrou logo temperamental demais e isso foi atrapalhou sua evolução. Perdeu muitas vezes para si mesmo, diante da incapacidade de controlar a ansiedade.
Por isso mesmo, Monte Carlo tem tudo para ser um grande marco na sua carreira, ainda que eu o veja muito mais limitado ao saibro e portanto bem diferente de Alcaraz. O certo é que a Espanha, que ainda tem a top 3 Paula Badosa, não pode mais reclamar da perspectiva que se abre para seu futuro.
As meninas brasileiras dominam
O final de semana também marcou uma excelente vitória brasileira no Zonal Americano da Copa Billie Jean King Cup, a ex-Fed Cup, ou seja o mundial por equipes femininas. Num grupo que tinha Argentina e Colômbia, desfalcadas é verdade, perdemos uma única partida em nove realizadas e no duelo decisivo contra o Chile sobraram o tênis mais agressivo de Bia Haddad Maia e de Laura Pigossi.
Uma grande campanha que coloca o Brasil no playoff de novembro. O adversário e o local serão indicados por sorteio. Se vencermos, subiremos mais um degrau e iremos ao qualificatório do Grupo Mundial em 2023. É verdade que temos apenas Bia no top 70 hoje, além é claro da ainda afastada Luísa Stefani. Mas Pigossi deu um salto de qualidade e ainda contamos com Carol Meligeni, sempre em boa atividade, em simples e em duplas.
Aliás, a marca deste grupo é essa versatilidade. Todos podem jogar qualquer coisa e em todo tipo de piso, o que ajuda muito a capitã Roberta Burzagli. E acima de tudo existe união e amizade entre elas, o que não é muito comum no circuito feminino. O caminho se mostra promissor.