Carlos Alcaraz viveu dois dias distintos em Miami. Na quinta-feira, fez um dos jogos mais espetaculares da temporada e superou um brilhante Miomir Kecmanovic com direito a uma contabilidade digna de Roger Federer: 52 de seus 102 pontos na partida foram winners. Hoje, contra o atual campeão Hubert Hurkacz, errou quase tanto que acertou porém foi o tenista com maior controle emocional nos dois tiebreaks disputados. De um jeito ou de outro, o espanhol achou o jeito de vencer. Um veterano de 18 anos.
O pupilo de Juan Carlos Ferrero tem duas excepcionais qualidades, que são antagônicas, e talvez seja essa rara dualidade que o faça tão deslumbrante. Defende-se como um leão, dono de velocidade e antecipação notáveis, mas ao mesmo tempo é capaz de atacar com diferentes armas, sejam golpes de base extremamente precisos e fortes, a destreza de curtinhas desconcertantes ou transições à rede inteligentes.
Num passe de mágica, sai da defesa para o ataque, algo que necessariamente nos lembra de Novak Djokovic. Também me causa admiração, e seria interessante observarem isso com atenção, sua capacidade de fazer escolhas certas, ou seja quando optar pela cruzada ou pela paralela, usar curta ou um topspin profundo, lob ou bola no pé. Já cansei de dizer aqui que essa habilidade no encontro da jogada mais adequada, em frações de segundo, é o dom que me faz gostar tanto de Rafa Nadal.
Por falar em Rafa, caso vença Miami, Alcaraz mais uma vez lembrará façanhas do ídolo espanhol, que também ganhou o primeiro Masters 1000 aos 18 anos, em abril de 2005 no saibro de Monte Carlo.
Mais um campeão de Masters inédito
Quem também está radiante com sua campanha em Miami é o norueguês Casper Ruud. Depois de três semifinais de Masters 1000 no saibro, ele acabou superando a barreira logo no piso duro, ao superar com folga o surpreendente argentino Francisco Cerundolo. Com isso, haverá certamente um novo campeão de Masters 1000, o quinto diferente nos últimos nove disputados e o segundo estreante em 2022, depois de Taylor Fritz.
É bem verdade que Miami é considerada a quadra sintética mais lenta do circuito, inferior até a alguns torneios de saibro, mas ao mesmo tempo não se pode negar a campanha sólida de Ruud, que tirou adversários de estilos tão distintos como Alexander Bublik, Cameron Norrie e Alexander Zverev, todos reconhecidamente bons nesse tipo de superfície.
O noruguês usou muito de sua solidez do saibro, mas também sacou de forma mais ofensiva e se aventurou diversas vezes na rede. É dono também de físico privilegiado, mas tudo isso me parece insuficiente para superar Alcaraz, para quem perdeu sem grande chance no saibro de Marbella muito antes de o espanhol assombrar o circuito.
Swiatek é favorita contra Osaka
Duas jogadoras em momentos muitos distintos decidem neste sábado a chave feminina de Miami. De um lado, a embalada Iga Swiatek tenta seu terceiro 1000 consecutivo, consagrando de vez sua chegada à liderança do ranking, invicta há 16 partidas e sem perder set no torneio.
Do outro, está a japonesa Naomi Osaka, ex-número 1 que começou Miami ameaçada de sair do top 100. Conseguiu reagir à eliminação chorosa de Indian Wells e, apesar de estar ainda distante do seu melhor nível, tem se mostrado fisica e mentalmente mais forte. E sacando de novo bem. Vamos ver se vai funcionar diante das devoluções muito firmes que a polonesa tem feito.
Claro que o favoritismo é naturalmente de Swiatek. Sua adversária não decide um título desde a conquista do Australian Open do ano passado, então seu quarto troféu de Slam. O único duelo entre elas não tem grande significado, já que a vitória de Naomi em 2019 veio sobre uma Iga quase iniciante. Fossem outros tempos, Osaka deveria ganhar sobre a quadra dura, sua superfície predileta, mas Swiatek evoluiu rapidamente no piso, como dizem as conquistas de Doha e de Indian Wells.
O título seria muito mais importante para Osaka, que já recuperou 41 posições no ranking e pode terminar como 30º colocada. Seria essencial para a retomada completa de confiança. Iga, ao contrário, está às portas da temporada europeia de saibro, onde se espera muito dela. Eventual título da polonesa a deixará quase 1.700 pontos à frente de Barbora Krejcikova, uma liderança consideravelmente folgada.