Enquete criada por TenisBrasil há 19 anos, os resultados dos Melhores do Ano – que na verdade inclui também questões sobre a expectativa para a temporada seguinte – sempre me provocam curiosidade e reflexão. Afinal, optei desde o início por oferecer dois paineis distintos: um para o voto ‘popular’ e outro para os chamados ‘especialistas’, que são treinadores, jornalistas e alguns convidados especiais sempre muito próximos ao dia a dia do tênis. Por vezes, surgem dissonâncias valiosas e em 2019 não foi diferente.
Na pesquisa encerrada na sexta-feira, algo notável: os dois grupos deram votação expressiva para o ‘fato do ano’ não a uma conquista, como é bem natural, mas a uma das mais dolorosas derrotas do tênis moderno. Os dois match-points perdidos por Roger Federer em Wimbledon e consequentemente o 21º troféu de Slam que escapou ganharam com margem de 46% entre os especialistas e 45% para os internautas. Mais incrível ainda: os paineis quase desconsideraram o título do próprio Novak Djokovic no torneio. Ao menos, 61% dos especialistas e 67% do juri popular cravaram que esse foi o jogo do ano.
Bianca Andreescu e Cori Gauff lideraram como surpresas da temporada para os convidados, mas os internautas ficaram com as façanhas de Daniil Medvedev. A jovem canadense ganhou de longe como a que teve maior evolução técnica (56% e 59%) e ainda apareceu no jogo feminino do ano (69% e 48% para sua vitória em cima de Serena Williams no US Open). Por tudo isso, minhas indicações pessoais foram para Andreescu e sua arrancada incrível ao estrelato com um tênis bem agressivo.
Felix Aliassime foi considerado a revelação masculina pelos especialistas (54%) porém o público preferiu Matteo Berrettini (38%). Fico com o garoto canadense, apesar de seu segundo semestre fraco. Houve concordância nos dois paineis quanto a Medvedev ter tido a melhor evolução técnica (51% e 65%), superando Stefanos Tsitsipas (33% e 27%). Também votei no russo e para mim o essencial esteve em sua versatilidade nos pisos, do saibro lento ao sintético veloz.
Alexander Zverev, é claro, recebeu maciça votação como a grande decepção do ano, e destaco aí o segundo lugar de Nick Kyrgios nos dois paineis, acentuando a frustração que o australiano causa: mão genial e cabeça geniosa. Já a vitória de Phillip Kolhschereiber sobre Djokovic em Indian Wells venceu apertado entre os especialistas (28%) mas com folga entre os internautas (40%) como a grande ‘zebra’ do masculino, o que concordo plenamente.
Por fim confesso ter me surpreendido que tanto especialistas como o público tenham votado mais no ouro de João Menezes (25% e 34%) e no fim do Brasil Open (25% e 21%) do que no caso de doping de Bia Haddad (20% e 22%) como o ‘fato do ano’ do tênis brasileiro. Acho que o afastamento da tão promissora Bia foi uma das notícias mais inesperadas e desalentadoras que recebi nos últimos anos. O julgamento aliás ainda segue misterioso.
Vou deixar para o próximo post as indicações para 2020 e vamos ver também o quanto o pessoal acertou em relação ao que apostou para 2019.