Recomeço e sucesso parecem ser palavras decisivas na carreira de Bia Haddad Maia. Como ela bem lembrou, há exatamente um ano salvava match-point num quali de ITF de US$ 25 mil. Tanto esforço depois, ela está numa raríssima final de Grand Slam, algo que apenas três brasileiras obtiveram na história, e pode entrar na seleta lista de 11 tenistas nacionais, e apenas cinco adultos, que já ergueram um troféu desse gigantesco porte.
Bia outra vez empurrou a parceria com a cazaque Anna Dalinina, para quem perdeu uma final de Copa Gerdau juvenil e lembrou de última hora para jogar a seu lado em Sydney e Melbourne, já que a argentina Nadia Podoroska se contundiu. A cazaque, conta Bia, estava na Tunísia e houve pouco tempo para treinar. Ainda assim, ganharam Sydney e embalaram. Venceram nas duas campanhas as japonesas Shuko Aoyama e Ena Shibahara, que são top 10 do ranking. Nesta noite, venceram o primeiro set e sacaram para o jogo, mas mantiveram cabeça após perder a chance inicial e dominaram também o 3º set.
A chance de se tornar a primeira brasileira a ganhar um Slam desde Maria Esther, no US Open de 1968, passa por uma missão quase impossível, já que do outro lado da quadra, à 1h de domingo, estarão as experientes e super entrosadas Barbora Krejcikova e Katerina Siniakova, donas de dois Roland Garros, um Wimbledon, da recente medalha olímpica e da ponta do ranking. Não daria para ser mais difícil. Fato curioso levantado por Felipe Priante de TenisBrasil: na final juvenil de Paris de 2013, Bia perdeu justamente para elas.
Não importa o resultado. A temporada 2022 começa de forma extremamente animadora para Bia, que está jogando um tênis de grande qualidade. Já se garante como 41ª no ranking de duplas – pior apenas que o top 10 de Luísa Stefani em toda Era Aberta – e isso permitirá jogar e faturar também nessa especialidade nos torneios de maior gabarito. Quem tem visto os jogos, percebe uma Bia muito vibrante em quadra mas bem madura e serena nas comemorações. “Não me surpreende o que está acontecendo, eu confio muito no meu tênis”. Nós todos também.
Barty tenta a glória contra surpresa Collins
A número 1 do mundo Ashleigh Barty está a um passo de seu terceiro diferente troféu de Grand Slam e de acabar com o longo jejum de títulos locais no Australian Open, que vem desde 1978. Se mantiver o favoritismo, terá erguido Slam em todas as superfícies possíveis, o que condiz com sua versatilidade.
Demoliu a terceira norte-americana seguida, desta vez cedendo quatro games a Madison Keys. Seu jogo mais exigente da campanha foi o 6/4 e 6/3 sobre Amanda Anisimova, nas oitavas, quando também perdeu seu único game de serviço até aqui. O máximo que Keys conseguiu foram dois break-points, um em cada set.
Na final das 5h30 deste sábado, talvez o maior adversário de Barty sejam seus nervos diante do feito histórico e da pressão pessoal. Seus jogos têm dado a maior audiência da tevê no país nos últimos 10 dias.
Claro que não pode menosprezar a força bruta de Danielle Collins, ainda que ela chegue a sua primeira final de Grand Slam aos 28 anos e como 30ª do ranking, dando um passo a mais em relação à campanha no Australian Open de 2019. Barty tem 3 a 1 no histórico contra Collins, mas perdeu justamente o mais recente, num dos WTA de Melbourne de 2021.
A vitória impiedosa sobre a polonesa Iga Swiatek foi a sétima de Collins sobre uma top 10 na carreira. Tem apenas dois títulos de WTA menos expressivos na carreira e passará a figurar entre as 10 melhores do ranking na próxima semana.
Collins tem golpes retos e agressivos, com um dos melhores backhands do circuito. Ficou no universitário norte-americano até 2017, ganhou rapidamente destaque na WTA e ainda superou cirurgia no ovário no ano passado.
Sua campanha neste Australian Open teve viradas duríssimas diante de Clara Tauson e Elise Mertens e depois atuações mais firmes frente a Alizé Cornet e Swiatek. Sabe que, para ter chances, terá de encurtar pontos e deixar Barty na defensiva. Difícil, mas nunca inviável.
E mais
- Nadal busca a sexta final em Melbourne diante de Berrettini, às 0h30 desta sexta-feira. No único duelo entre eles, venceu no US Open de 2019.
- O italiano tenta repetir a campanha de Wimbledon. Se conseguir, irá superar o próprio Nadal no ranking e entrar para o top 5.
- Segundo Moyá, Rafa perdeu quatro quilos de água na maratona contra Shapovalov. A previsão em Melbourne é de 30 graus e chuva na hora do jogo, o que pode exigir fechamento do teto.
- Nadal tem 82% de pontos após acertar o primeiro saque no torneio contra 78% de Berrettini.
- Medvedev e Tsitsipas estão longe de ser bons amigos. O russo tem 6 a 2 no histórico, com vitória do grego no mais recente, no saibro de Paris. No piso duro, o placar é de 5 a 1. Na semi de 2021, Medvedev passou em sets diretos.
- Ambos tiveram campanha exigente. O grego começou inseguro, ganhou de Fritz com grande esforço mas jogou fez melhor exibição do ano contra Sinner na rodada anterior.
- Medvedev ganhou apenas seu terceiro jogo de cinco sets em 10 já feitos e evitou match-point contra Aliassime, o que marcou sua 50ª vitória de Slam.
- Aliassime mostrou que a chance contra Medvedev está numa postura bem ofensiva e que boa parte da construção dos pontos passa por bolas anguladas. Isso é claro exige confiança.
- Kyrgios também pode ganhar seu primeiro Slam, ao lado do amigo Kokkinakis. Os dois fazem campanha notável e enfrentam no sábado os compatriotas e surpresas Ebden e Purcell.