Quem diria, o tênis brasileiro voltou a ter uma jogadora de respeito sobre a grama, algo que não acontecia desde os sete troféus de Grand Slam de Maria Esther Bueno. É bem verdade que o piso natural do esporte beirou a extinção a partir da metade dos anos 1970 e hoje o calendário de primeira linha não tem mais do que oito torneios sobre a superfície, que se torna assim um tremendo desafio para qualquer profissional.
Beatriz Haddad Maia se achou na grama e esse sucesso tem muito a ver com a melhoria de sua movimentação, algo essencial no difícil piso. O fato de ser canhota ajuda muito e ela tem sabido explorar isso com o saque. Aliás, por várias vezes nas duas últimas semanas pudemos vê-la forçar bem mais o primeiro serviço do que o habitual, o que também será um aliado quando a quadra dura voltar.
Confiante depois dos títulos em Nottingham, Bia fez três jogos incríveis em Birmingham. Dominou seu ‘espelho’ Petra Kvitova – a bicampeã de Wimbledon que sempre procurou copiar – com grande desenvoltura. Venceu uma partida que parecia perdida contra Magdalena Frech, uma máquina de devolver bolas, e certamente a sorte ajudou quando veio a suspensão no final do terceiro set.
Quando voltou com 2/4 atrás nesta sexta-feira, se impôs do começo ao fim, mesmo quando a polonesa sacou para o jogo. Por fim, viu a experiente Camila Giorgi mostrar as garras e não se abalou. Pouco a pouco, entrou no ritmo e ganhou 12 dos últimos 14 games da italiana, que já fez quartas em Wimbledon. Assombroso.
Mais campeã no caminho
A dureza continua. Outra campeã de Wimbledon, Simona Halep será neste sábado a 18ª adversária de nível top 20 que Bia irá enfrentar na carreira. Até agora, foram cinco vitórias, duas delas nesta notável temporada, ambas sobre Maria Sakkari (3 e 5 do ranking), As outras três vieram contra Karolina Pliskova (3, em 2011); Sloane Stephens, 4 em 2019; e Samantha Stosur, 19 em 2017.
A romena de ótima agilidade, golpes firmes mas segundo saque muito atacável já cruzou o caminho da brasileira outras duas vezes. A primeira foi sobre a grama de Wimbledon, há cinco anos, e o placar foi equilibrado, 7/5 e 6/3. Já no Australian Open de cinco meses atrás, Halep marcou fáceis 6/2 e 6/0.
Com as ótimas atuações em Nottingham e Birmingham, nossa canhota de 26 anos tem agora 15 vitórias em 42 duelos diante de adversárias de nível top 50. Nesta temporada, foram 6 em 14 e Giorgi, 26ª na lista desta semana, foi a segunda de mais alta classificação.
Por falar em ranking, já é possível para Bia sonhar em aparecer como número 30 na segunda-feira. A única barreira para isso é outra romena, Sorana Cirstea, que faz a segunda semi em Birmingham contra Shuai Zhang. A brasileira garante o posto se Cirstea perder neste sábado ou se ambas forem à final, mas aí a campeã levará a melhor. Cirstea já foi 21ª.
Algo bem importante de se observar é que Bia ocupa neste momento o 29º posto no ranking feminino da temporada, com 846 pontos marcados desde janeiro. Com esse total, ela certamente terminará o ano pelo menos entre as 80, o que significa que seu lugar no Australian Open já está garantido. O tênis brasileiro agradece.
Nadal faz as malas
Outra grande notícia desta sexta-feira foi a decisão de Rafael Nadal em viajar segunda-feira para Londres, seguir firme nos treinos e disputar ao menos duas partidas de exibição no Hurlingham Club. Não é exatamente um torneio, mas sim uma porção de jogos. E a lista de participantes está nobre, com Novak Djokovic, Casper Ruud, Carlos Alcaraz e Felix Aliassime. Não se sabe ainda quem testará o campeão da Austrália e de Roland Garros, que não joga um torneio na grama há três anos.
Na entrevista que deu, Rafa conta que as dores não desapareceram, mas estão muito menores. Ele estranhou a falta de sensibilidade no pé esquerdo, porém diz estar se adaptando. O espanhol não quis garantir sua presença em Wimbledon, preferiu afirmar que ‘vai tentar jogar’ e que tudo depende da evolução do tratamento feito com pulsos de radiofrequência.
E mais
- Ainda é tempo de destacar: com a queda de Djokovic para o terceiro lugar do ranking na segunda-feira, não há qualquer representante do Big 4 entre os dois líderes do ranking pela primeira vez desde 2003.
- Isso também levará a um fato histórico: será a primeira vez que Wimbledon não terá os dois ponteiros do ranking desde 1974 (o sistema foi criado em agosto de 1973, portando depois do torneio daquele ano).
- Serena Williams enfim voltará às quadras. Ganhou convite para jogar Eastbourne e Wimbledon, que foi exatamente seu último torneio. Não se sabe quais condições físicas ou técnicas da norte-americana, mas não duvidem que ela jogará na Central, que está comemorando 100 anos de mudança de sede.
- A ATP soltou o calendário de 2023 e cumpriu a ideia de esticar para 12 dias os Masters de Madri, Roma e Xangai, subindo as chaves para 96 participantes, o que também acontecerá com Canadá e Cincinnati em 2025. A WTA ainda não se pronunciou.
- Havia a promessa que a ATP liberaria eventos 250 na segunda semana dos Masters para não prejudicar os jogadores de ranking mais próximo do 100, mas pelo menos em 2023 isso não vai acontecer.
- Uma boa e uma má notícia para Thiago Wild. Ele entrou no quali de Wimbledon, mas o Ministério Público o denunciou por violência doméstica e psicológica contra a ex-namorada Thayane Lima. Ele não cumpriu decisão judicial de pagar pensão e corre risco de pedido de prisão.