O clima era todo de suspense. Novak Djokovic não treinou na quinta ou na sexta, chegou apenas às 19h locais ao estádio, exibiu faixas no ombro esquerdo antes de iniciar o aquecimento leve e até discutiu feio com um espectador mais afoito. Os jornalistas em Nova York apostavam que não ele não entraria em quadra. E se fosse, estaria inteiro? Conseguiria soltar os golpes?
Desde o bate bola, o sérvio mostrou firmeza. Ao longo do primeiro set, deu poucos sinais de estar ainda com algum desconforto, refletidos pela velocidade mais baixa do primeiro saque, em média 181 km/h, e no uso bem mais frequente dos slices de backhand. Em um momento ou outro, fez o gesto típico de quem queria descontrair o ombro.
Mas o importante é que a qualidade estava lá. Sólido no fundo de quadra, com grande variedade de opções táticas, encarou um animado adversário que brigou o tempo inteiro, construiu sete chances de quebra, arriscou mais do que o comum e acabou por valorizar a vitória, bem mais exigente do que indica o placar. Nole jamais pediu atendimento médico e fez jogadas magníficas, com diversos lances de total improviso e perfeição.
Quem gosta de tênis, só pode comemorar a recuperação de Djokovic. Porque no domingo verá o tão aguardado reencontro com o suíço Stan Wawrinka, sempre um tenista capaz de complicar a vida de qualquer dos Big 3. Aliás, Nole e Stan não se cruzaram mais desde a histórica final do US Open de 2016, em que o suíço estava num dia iluminado e conseguiu a virada. O placar geral no entanto é de 19 a 5 para o sérvio, que ganhou outros dois duelos que aconteceram em Flushing Meadows, em 2012 e 2013.
Federer on fire
Ao contrário das duas rodadas anteriores, Roger Federer entrou aceso para a partida diante do britânico Daniel Evans e dominou o jogo em todas as partes da quadra, desde o saque até as devoluções e o trabalho de rede. Selou a rapidíssima vitória de 79 minutos com números expressivos: 48 winners, sendo10 aces; 67% de acerto do primeiro saque e 80% de sucesso; 26 pontos obtidos nas 37 subidas à rede, alguns espetaculares.
Só perdeu o bom humor quando questionado na entrevista oficial sobre o suposto favorecimento apontado por Evans, que reclamou do pouco tempo de descanso, já que havia jogado na véspera devido à chuva de quarta-feira. “Estou cansado disso”, disparou. Interessante também foi sua avaliação sobre o que é jogar no sol da tarde: “O jogo fica muito mais rápido do que à noite. Até mesmo se comparado ao da quadra coberta”.
Será então que ele prefere reencontrar David Goffin fora da sessão noturna? O belga suou para superar Pablo Carreño, tendo salvado três set-points no segundo tiebreak e depois virado 3/5, com mais dois set-points, na outra série. Seu retrospecto contra o suíço é de 8 derrotas em 9 encontros. A se considerar, vive uma fase de ascensão técnica e mental depois do saibro europeu, tendo vencido desde então 18 de seus 24 jogos, a maior parte deles em pisos mais velozes.
Barty e Serena se aproximam do duelo
Com saque afiado, que lhe garantiu 11 aces, Ash Barty passou sem sustos por Maria Sakkari, repetindo Cincinnati dias atrás, e se tornou a única tenista na temporada a estar pelo menos nas oitavas de todos os quatro Grand Slam. Precisará agora encarar a consistência da chinesa Qiang Wang, número 18 do mundo.
Aproxima-se assim o esperado duelo com Serena Williams. A grande estrela da casa atropelou Karolina Muchova, inesperada quadrifinalista de Wimbledon, com uma bela mistura de 20 winners e 15 erros. Nas oitavas, enfrentará pela primeira vez a croata Petra Martic, 22ª do ranking e com história de superações na carreira.
E mais
– Aos 20 anos, Alex de Minaur consegue dois feitos: primeira vitória sobre top 10 na 12ª tentativa, ao tirar Kei Nishikori, e primeira vez nas oitavas de um Slam. Foi muito mais sólido: 29 erros diante de 60 do cabeça 7.
– Seu adversário será o búlgaro Grigor Dimitrov, que enfim dá sinais de reação. E olha, embora lucky-loser, o polonês Kamil Majchrzak é um bom jogador de tênis, muito agressivo. Será o primeiro duelo entre De Minaur e Dimitrov.
– Que jogaço entre Daniil Medvedev e Feliciano López. O russo se indispôs com a torcida ainda no primeiro set, fazendo gesto obsceno, mas não perdeu a cabeça e aguentou as 85 subidas à rede do canhoto espanhol, que ganhou 60 desses lances e deu show. Quando começou o torneio, Medvedev dizia que sua dificuldade era ganhar jogos longos e difíceis, então está indo muito bem. Levou uma tremenda vaia no fim do jogo. Vem agora uma surpresa e tanto: o canhoto Dominik Koepfer, alemão saído do quali que bate uma barbaridade na bolinha.
– Karolina Pliskova levou susto quando perdeu o tempo do saque no começo do segundo set e ofereceu incríveis 23 break-points a Ons Jabeur. Será favorita diante de Jo Konta, contra quem tem 6 a 1 nos confrontos diretos.
– A rodada noturna confirmou o interessantíssimo duelo entre Madison Keys e Elina Svitolina, mas as duas tiveram caminhos distintos para a classificação. Keys fez um primeiro set incrível contra Sofia Kenin até cair repentinamente na intensidade e quase se enrolou. Já a ucraniana arrasou Dayana Yastremska. Avizinha-se um duelo de ataque contra defesa, repetindo as oitavas de Melbourne meses atrás, onde deu Svitolina.
Para a história
Faltam duas vitórias para Serena chegar à 100ª no US Open, marca que apenas Chris Evert obteve em Nova York (101). A única outra tenista a ter número centenário em Slam é Martina Navratilova, com 120 em Wimbledon. Serena joga o US Open pela 19ª vez e só não chegou às oitavas na sua estreia, em 1998.