Quando parecia pouco provável que alguém ousasse ameaçar Rafael Nadal sobre o saibro europeu, eis que Dominic Thiem resolveu colocar a cabeça no lugar e, ao usar suas melhores armas, conseguiu uma verdadeira façanha em Madri. Tirou cinco games de serviço do número 1, se mostrou mais forte mentalmente do que o espanhol na hora da pressão e venceu em sets diretos. Para quem levou surra dias atrás em Monte Carlo, atingiu o típico ‘água para o vinho’.
O austríaco, todos sabemos, é um excepcional jogador sobre a terra e seu maior pecado sempre esteve na cabeça, principalmente a ansiedade. Ainda assim, o triunfo de hoje teve uma necessária composição: ele jogou num nível muito alto, com paciência e tática apurada, enquanto Rafa cometeu sucessão de erros fatais em momentos chaves, algo que não se tinha visto ainda nesta fase do saibro. Já havia mostrado certa instabilidade diante de Diego Schwartzman, porém Thiem exibe capacidade ofensiva muito superior à do argentino e colocou isso em prática.
O primeiro set foi um belo espetáculo, em que pesem os quatro instáveis últimos games. Thiem suportava bem o tiroteio em cima de seu backhand sem se mostrar desesperado. Na hora certa, tentava um forehand na paralela. Nadal por sua vez sacava com ótima variação e colocava o adversário para correr. Duelo de saibro a toda prova. O espanhol, para surpresa geral, falhou duas vezes. Permitiu a primeira quebra, teve alguma sorte para evitar a perda do set com um forehand de Thiem que saiu por milímetros, e aí na hora de virar fez um game bizarro. O austríaco experimentou até saque-voleio e enfim encerrou a invencibilidade de sets com ace.
Os dois tenistas diminuíram o ritmo no segundo set e novamente Nadal abriu a janela primeiro, cedendo o serviço para 3/1. Thiem foi heróico ao salvar 15-40, mas no serviço seguinte mostrou – pela primeira e única vez na partida – aquele velho problema da pressa exagerada em acabar com o ponto. Outra vez, Nadal não conseguiu virar o placar e daí em diante vimos um Thiem muito confiante, agora apostando num forehand diagonal magnífico, outra das poucas armadilhas que podem segurar o espanhol.
A queda inesperada de Nadal irá animar todos os semifinalistas de Madri. Thiem deveria ser favorito diante de Kevin Anderson, mas já vimos muitas vezes ele sair de giro após uma grande exibição, como se a missão já estivesse cumprida. Anderson é um jogador de força, vai se concentrar no saque e ir para cima do backhand. O austríaco pode usar muito bem o slice e as deixadinhas para desequilibrar o sul-africano.
Alexander Zverev é igualmente nome forte no saibro e felizmente reagiu bem em Madri. Fez outra boa exibição diante de John Isner, esperando a hora certa para as quebras, além de ter trabalhado incrivelmente bem com o próprio saque. A aposta lógica é que vá dominar Denis Shapovalov no saibro, assim como já fez duas vezes no piso duro e na semi de Montréal de agosto. O canadense – que venceu um jogo muito duro e intenso diante de Kyle Edmund – terá de arriscar o tempo inteiro e evitar trocas longas.
De volta ao saibro menos veloz, Nadal continua superfavorito para Roma e Paris, porém ao menos existe agora a expectativa de maior competitividade, E, que bom para o tênis, justamente por parte da nova geração.