Tenista que habitualmente passa despercebido em qualquer sorteio de chave, o italiano Lorenzo Sonego se tornou a maior ‘zebra’ da temporada, ao impor um placar humilhante em cima do todo poderoso número 1 do mundo. Ao ganhar apenas três games do número 42 do ranking, Novak Djokovic sofreu sua pior derrota em nível ATP em 15 anos.
Os números da partida não são menos chocantes. Corajoso e determinado, usando sua combinação predileta de saque e forehand, Sonego disparou 26 winners contra apenas sete do sérvio. E ainda errou muito menos, com 12 diante de 25. Salvou todos os seis break-points que encarou e ganhou 80% dos pontos em que acertou seu forte primeiro serviço.
Alguns aspectos merecem destaque. Conseguiu ser muito consistente até mesmo com o backhand, seu ponto fraco, e utilizou recursos interessantes e inteligentes, como deixadinhas de forehand – um golpe que costuma disparar com força – e o saque sobre o corpo, que tirou muito o ângulo do adversário. O forehand esteve notável, principalmente no chamado ‘inside-in’, aquele golpe difícil em que se foge do backhand e se arrisca na paralela. Djokovic jogou melhor como devolvedor do que com o saque, pareceu acreditar que bastaria ter paciência para tirar a confiança do italiano e no final me pareceu quase desinteressado.
Em boletim, a ATP observou que Djokovic não perdia por placar tão elástico desde que foi superado por Marat Safin no Australian Open de 2005, por 6/0, 6/2 e 6/1. Mas então o sérvio era um adolescente saído do quali e encarou justamente aquele que seria o campeão, então me parece justo dizer que foi a mais dura derrota desde que entrou na elite do tênis. E não vamos esquecer que, há três semanas, Nole também acabou atropelado por Rafael Nadal em Paris.
Mas quem é esse Sonego, com cara de garoto? Ele na verdade tem 25 anos e se diz um especialista em saibro, ainda que seu único título de ATP tenha acontecido na grama de Antalya. Três semanas atrás, fez oitavas em Roland Garros. Jamais havia vencido um top 10 – seu maior resultado foi diante de Karen Khachanov, então 12º, na lentidão de Monte Carlo – e entrou na chave de Viena de última hora. Ele perdeu no quali para Aljaz Bedene e a desistência de Diego Schwartzman lhe deu nova chance. Djokovic aliás tinha 12-0 contra lucky-losers na carreira.
Enquanto Nole vê adiado o inevitável anúncio de que terminará a temporada como número 1, Sonego enfrentará o britânico Daniel Evans neste sábado. E convenhamos que qualquer coisa pode acontecer neste fim de semana, depois que Andrey Rublev atropelou Dominic Thiem no segundo set, logo após Kevin Anderson fazer uma bela exibição e barrar o nervosinho Daniil Medvedev.
E mais
– Rublev ganhou 17 de seus últimos 18 jogos em quatro torneios. Sacou muito contra Thiem: 11 aces e só perdeu quatro pontos quando usou o primeiro serviço.
– Antes de atingir quartas no Rio Open deste ano, Sonego vinha de 10 derrotas consecutivas. Já se garantiu como 35º.
– Aos 34 e apenas 111º do mundo, Anderson fez segunda cirurgia no joelho direito em fevereiro e joga com ranking protegido. Ele foi campeão de Viena, há dois anos.
– Roberto Bautista não se recuperou e desistiu de Paris, deixando a briga pelo Finals. Matteo Berrettini confirmou que joga, mas terá de ir ao menos à semi para ter chance.
– Zverev também jogará Paris. A saber como estará sua cabeça com a chegada do filho e com acusações de agressão de duas ex-namoradas.