Para brindar o retorno da casa cheia aos torneios de Grand Slam, o US Open de 2021 decidiu ser espetacular. Mal terminou a primeira semana com a definição das oitavas de final e já é fácil colocar Flushing Meadows como o melhor e mais eletrizante Grand Slam dos últimos dois anos.
É um jogo melhor do que o outro. A novíssima geração mostra as garras com um tênis de qualidade ímpar e até o combalido tênis masculino norte-americano achou um jeito de brilhar e dar esperança de que o amargo jejum de grandes conquistas possa enfim estar perto do fim.
A rodada noturna tem sido especialmente mágica, e quase sempre na mãos das mulheres. A vitória de Shelby Rogers sobre a líder do ranking Ashleigh Barty pode não ter tido o mais alto nível técnico, principalmente da parte da australiana, porém deu o espetáculo que o público merecia. Rogers radicalizou a tática, mudou o ritmo das trocas de bola e saiu de 2/5 no terceiro set para derrubar a grande favorita ao título num tiebreak não menos emocionante.
Horas antes o estádio Louis Armstrong assistiu a uma batalha enlouquecedora, que fez lembrar os bons tempos da Copa Davis. O acrobático Gael Monfils remontou dois sets praticamente perdidos, levou ao quinto e lutou bravamente por cada ponto até enfim ser superado por Jannik Sinner, agora o mais jovem tenista a disputar oitavas em três Grand Slam desde Novak Djokovic e Andy Murray, em 2007.
O público também teve participação essencial em mais uma surpresa de Jenson Brooksby, 20 anos, que era um mero jogador de challenger até dois meses atrás. Com seu jeito todo peculiar de comemorar pontos, se energizou por cinco sets até bater Aslan Karatsev. Agora, irá enfrentar nada menos que o todo poderoso Djokovic e tudo que se deve esperar é arquibancadas super lotadas na segunda-feira num clima que só mesmo o US Open consegue reproduzir.
O sábado, aliás, teve mais uma estrela a despontar. Emma Raducanu, que já tinha feito oitavas em Wimbledon, juntou-se a Carlos Alcaraz e Leylah Fernandez na turma dos 18 anos que assombra o torneio. Espancando a bola sem dó, a britânica ficou muito perto de aplicar uma ‘bicicleta’ na já experiente Sara Sorribes. Será justamente a adversária de Rogers na segunda-feira.
Djokovic vira e finalmente vibra
O número 1 do mundo começou em ritmo lento o duelo contra o ‘freguês’ Kei Nishikori e esteve longe de seus melhores dias mesmo aplicando a virada, mas fez o bastante para alcançar a 18ª vitória sobre o japonês, que ao menos desta vez não se entregou ao desânimo.
Os pontos fortes de Djokovic foram o uso mais constante das paralelas, a força mental nos pontos importantes e enfim a vibração. Ainda que, ao final da partida, tenha novamente mostrado frieza pouco habitual na comemoração. Ele decidiu mesmo não externar demais.
Se mantiver o amplo favoritismo contra Brooskby, reencontrará Matteo Berrettini. O italiano está jogando para o gasto, mas tem muito mais gabarito do que Oscar Otte.
Sinner fará um duelo imperdível contra Alexander Zverev, a quem já venceu uma vez no saibro de Paris. O campeão olímpico enfrentava seu jogo mais duro desta primeira semana contra Jack Sock, quem diria, e seu forehand monstruoso, até que o ex-top 10 sentiu a coxa e abandonou..
O sonho americano deve seguir principalmente com Reilly Opelka, talvez o super-sacador que mais bem se desloca na base e que joga de fundo. Venceu seus três jogos em sets diretos, com apenas um tiebreak por jogo, e pega agora Lloyd Harris, que venceu sem sustos ao pressionar o backhand de Denis Shapovalov.
Caminho aberto
Sem Barty pela frente, as seis cabeças de chave que estão de pé na chave de cima podem sonhar com a final. Principalmente, Belinda Bencic e Iga Swiatek que se encaram sabendo que a ganhadora terá Raducanu ou Rogers na rodada seguinte. A polonesa passou apertos contra Anett Kontaveit e se tornou a única jogadora da temporada a estar ao menos nas oitavas de todos os Slam.
Depois do sufoco da rodada anterior, Karolina Pliskova disparou 20 aces em dois sets curtos e recuperou fôlego para encarar Anastasia Pavlyuchenkova contra quem tem histórico de 6 a 2. A vencedora terá Bianca Andreescu ou Maria Sakkari nas quartas. A grega foi muito bem contra Petra Kvitova com mais aces (9 a 5) e muito menos erros (16 a 34).