Pelo quinto ano consecutivo, o Big 3 não levará o ATP Finals. Depois do sucesso jovem de Alexander Zverev e Stefanos Tsitsipas, desta vez Dominic Thiem e Daniil Medvedev barraram o sonho de Novak Djokovic e Rafael Nadal. Enquanto o sérvio está na fila por um novo troféu desde 2015, o espanhol continua a ver frustrado o sonho de conquistar o único grande torneio que lhe falta.
Para acabar com qualquer discussão, os dois finalistas chegam ao domingo com vitórias sucessivas sobre os dois líderes do ranking. Enquanto Thiem repete a campanha de 2019 e pode coroar uma temporada em que ganhou seu primeiro Grand Slam e foi vice na Austrália, o russo continua invicto e poderá ganhar o Finals com vitórias em cima dos três líderes do ranking.
50 winners
Thiem fez seu segundo jogo espetacular da semana, quase tão bom como a vitória sobre Nadal de terça-feira. Como se esperava, não titubeou ao procurar sempre o ataque e essa postura lhe rendeu 50 winners mas também 39 erros, nada menos que 26 deles com o forehand, que falhou em alguns momentos importantes. Disposto a investir na regularidade, Djokovic fez menos da metade de winners (23) e não ficou tão longe nos erros (27).
Por isso mesmo, Thiem deveria ter completado a vitória em dois sets. Após uma primeira parcial em que raramente se precipitou e foi premiado por uma decisão equivocada do adversário em ir à rede, teve um forehand à disposição para quebrar no quinto game. Djoko então fez seus melhores games de devolução e chegou aos três únicos break-points de toda a partida, dois deles valendo set-point.
O austríaco mostrou cabeça e empurrou ao tiebreak maluco. Teve saque para 3-0, levou virada para 2-4 e depois 4-5. Chegou ao match-point mas nada pôde fazer. Daí em diante vimos uma sucessão incrível de seis pontos perdidos pelo sacador. Em dois deles Thiem teve novos match-points – um desperdiçado com dupla falta -, em outro era set-point. Quanta tensão. Djokovic então manteve a bola funda e por fim levou a um terceiro set em que tudo indicava que Thiem teria dificuldade emocional.
Ledo engano. Continuou sacando bem, permitindo apenas 40-30 por duas vezes ao sérvio, mas também encontrava Djokovic concentrado na missão de não abrir oportunidades, com um único game de serviço mais enrolado. Nenhum break-point e se chega ao tiebreak definitivo. Sólido, Nole faz 4-0 em escolhas erradas de Thiem. Veio então a grande surpresa. O austríaco reagiu com coragem, venceu seis pontos seguidos e finalmente aproveitou o saque para completar a vitória, o que se esperava ter acontecido 70 minutos antes.
Djokovic perde assim a chance do hexa e de igualar outro feito de Roger Federer. Encerra a temporada com 41 vitórias em 46 jogos e três grandes troféus, o que lhe garantiu encerrar pela sexta vez na carreira como líder do ranking. Não dá para reclamar.
Virada russa
A segunda semifinal teve dois jogos bem distintos. O primeiro incluiu um primeiro set em que Nadal passou sufoco no começo mas depois dominou Medvedev com muitas variações de ritmo. A ideia era não deixar o adversário à vontade e manter a bola baixa para tirar o poder de fogo do russo. Mas Medvedev reagiu. Forçou mais o backhand do canhoto e abriu 3/0 e 4/1 com facilidade e quase fez 5/2. Mas não sustentou o momento, permitiu reação e Nadal sacou para a vitória com 5/4.
Aí começou o outro jogo. O espanhol se apressou, perdeu o serviço de zero e reanimou Medvedev, que fez um tiebreak impecável. Nadal escapou de quebra na abertura do terceiro set e era evidente seu desconforto nos games de serviço, em que poucas vezes conseguia simplificar os pontos. Evitou a queda por duas vezes com primeiro saque arriscado, mas por fim cedeu e daí em diante ficou perdido em quadra. Subidas mal calculadas indicavam falta de pernas. Quem diria.
Os números da partida mostram que o vencedor foi muito mais ousado, tal qual a semi anterior. Medvedev fez 42 winners contra 22 e ainda falhou menos (29 a 30).
Foi sua primeira vitória em quatro partidas diante de Nadal, o que deve enchê-lo ainda mais de confiança. E isso vai ser importante, porque o histórico favorece Thiem por 3 a 1, sendo 2 a 1 na quadra dura. Os dois se cruzaram três meses atrás nas quartas do US Open e o austríaco não perdeu set.
Duplas também terão campeões inéditos
Com aposentadoria anunciada para 2021, o canhoto Jurgen Melzer é mais um austríaco em busca de título no Finals. Aos 39 anos e meio, ele e o francês Edouard Roger-Vasselin, de quase 37, aproveitaram a chance lhes dada de última hora e tiraram os cabeças 2 em outro jogo emocionante desta semana.
Com queda de Marcel Granollers e seu parceiro Horacio Zeballos na outra semi, o Finals terá também campeões inéditos de duplas. O holandês Wesley Koolhof e o croata Nikola Mektic, ambos de 31 anos, tentarão por incrível que pareça o primeiro título lado a lado (foram vices no US Open e semi em Roland Garros).
50 anos do Finals
Preocupada em entrar no importante e incipiente mercado chinês, a ATP aceitou sediar o Finals por quatro anos na City Arena coberta de Xangai, estádio para 15 mil pessoas e um público mais convidado do que pagante. A edição de 2005 marcou a despedida definitiva do piso de carpete e viu a espetacular conquista de David Nalbandian em cima de Roger Federer, saindo de dois sets atrás. O suíço retomou a soberania nos dois Finals seguintes, que foram os últimos com decisões em cinco sets. Em 2008, o jovem Novak Djokovic completou uma temporada de grande ascensão e ergueu seu primeiro troféu.