Falta apenas mais uma rodada para que Novak Djokovic e Rafael Nadal se vejam novamente cara a cara no saibro de Roland Garros. Os dois não se cruzam no circuito justamente desde a vitória de Nole na semi do ano passado em Paris, apesar de terem ficado também no mesmo lado das chaves de Madri e Roma.
Desde que a chave do torneio foi sorteada, há uma semana, a expectativa é de que aconteça o 59º duelo entre eles, hoje uma somatória de incríveis 41 troféus de Grand Slam e de 15 dos últimos 17 títulos em Roland Garros. Para que tudo isso se concretize, Nole precisa marcar a sétima vitória seguida sobre Diego Schwartzman e Rafa tem de ganhar do novo pupilo do Tio Toni, Felix Auger-Aliassime, a quem venceu no saibro rápido de Madri em 2019.
Os dois chegam à terceira rodada sem perder set, o que não é surpresa, dada a fragilidade dos adversários que encontraram nessa trajetória. Nole foi imensamente superior ao ex-top 50 Aljaz Bedene em tudo, do saque às trocas de bola. Cometeu mínimos erros, tirou o máximo do primeiro serviço e evitou o único break-point.
Schwartzman por duas vezes incomodou o sérvio no saibro, uma em 2017 lá mesmo em Paris e outra dois anos depois em Roma. Apesar de toda sua garra e experiência, falta peso a seus golpes. Ele provavelmente vai forçar tudo que pode nos sets iniciais, mas corre o risco de sempre, o de ficar sem energia depois. É o típico jogo que tudo depende de Nole. Se estiver como agora, confiante, forte e solto, vencê-lo fica muito difícil.
Rafa talvez esteja ainda um degrau abaixo do que ele próprio gostaria, e isso ficou patente contra Botic van de Zandschulp ao ceder dois games de serviço. Claro que no saibro isso não é fim do mundo para o canhoto espanhol, que afinal das contas terminou o jogo com 13 erros.
Aliassime, que já fez pré-temporada com Rafa, joga muito mais que o holandês, pode machucar com o primeiro saque e ser bem agressivo com o forehand, mas o espanhol sabe que o backhand canadense é o caminho das pedras e bastará ser paciente. Acredito que Felix tente explorar ao máximo seu jogo de rede.
Toni, aliás, já avisou que não vai ficar no box nem instruir o canadense sobre como vencer o sobrinho, já que isso faz parte do acordo feito com Aliassime em abril do ano passado. A função caberá ao outro treinador, Frederic Fontaigne.
Furacão Carlitos – E ele também vai chegando onde se espera. Carlos Alcaraz foi bem menos instável do que na duríssima partida da quarta-feira e não deu brechas para o norte-americano Sebastian Kordan, vingando-se com sobras da derrota em Monte Carlo.
O garoto deu novamente um show e comprova ser aquele que pratica o tênis mais vistoso do momento. Fez de tudo um pouco, e sempre de forma muito plástica e eficiente. Saque-voleio, contra-ataque fulminante, slice winner… O repertório parece não ter fim. Korda nem jogou mal, buscou ser agressivo como em abril mas o veloz Alcaraz encontrou desta vez resposta para tudo.
Não pode, é claro, menosprezar a experiência e o poder de fogo de Karen Khachanov, a quem nunca enfrentou. O russo pega pesado o tempo todo, saca muito e tira tudo do forehand, mas não gosta de trabalhar pontos e correr mais do que o básico.
Zverev trabalha duro – O interessantíssimo lado superior da chave também coloca Alexander Zverev nas oitavas. Não foi nem de longe o sufoco que teve contra Sebastian Baez, mas Brandon Nakashima exigiu dois tiebreaks e por muito pouco não leva um set. O alemão encara agora outro tenista de base muito forte, o espanhol saído do quali Barnabe Zapata, que fez o segundo jogo seguido em cinco sets e tirou o terceiro norte-americano em sequência, agora o gigante John Isner. Aos 25 anos, tem 1,82m e nunca foi além do 110º lugar.
Fernandez e Anisimova decidem – A canhota Leylah Fernandez enfim brilha no saibro. Cheia de recursos e dona de deixadinha preciosa, a canadense lutou quase três horas para tirar Belinda Bencic numa partida de ótimo nível. Desde a final do US Open, Leylah raramente brilhou e esta pode ser uma grande chance.
Num contraste de estilos, terá pela frente Amanda Anisimova, com seus golpes sempre muito fortes mas instabilidade emocional à toda prova. A norte-americana levou alguma sorte hoje, porque viu Karolina Muchova torcer o tornozelo logo depois de ganhar o primeiro set.
Quem vencer, pegará nas quartas Martina Trevisan ou Aliaksandra Sasnovich. A bielorrussa tirou a segunda cabeça em três jogos, Angie Kerber, vindo da vitória sobre Emma Raducanu.
Vaga muito aberta – O outro lugar nas semifinais da parte inferior da chave está bem mais aberto. Jil Teichman continua em boa fase, tirou Vika Azarenka num jogo eletrizante de três horas e decidido no match-tiebreak, e enfrentará pela primeira vez Sloane Stephens, que tem final em Paris. Sem prognósticos.
Apesar dos tenros 18 anos, Coco Gauff se candidata pela segunda vez seguida às quartas, depois de dominar Kaia Kanepi sem sustos. Sua adversária será Elise Mertens, que repete as oitavas de 2018. A norte-americana ganhou o único duelo anterior, mas na grama. Vai precisar de muito mais paciência desta vez.