Quem diria que, aos 33 anos, o croata Marin Cilic iria se tornar a grande surpresa da chave masculina de Roland Garros. Não que lhe falte histórico para isso. Ele foi campeão juvenil em Paris e fez quartas em 2017 e 2018, porém chegou ao torneio com pouca rodagem no saibro europeu e numa temporada sem brilho.
Casper Ruud, dez anos mais jovem, será seu adversário de sexta-feira, um jogador que vem batalhando para deixar de ser apenas um saibrista, mas que talvez por isso tenha patinado em quase toda a fase europeia da terra batida e só parece ter se reencontrado em Roma, onde também fez semi.
Enquanto Cilic iguala o Big 4 entre os tenistas em atividade e agora tem presença em semi de todos os Grand Slam, um feito notável para quem depende tanto do saque, Ruud faz sua maior campanha nesse nível e tem mostrado dificuldade em administrar os nervos, seja contra o veterano Jo-Wilfried Tsonga ou o iniciante Holger Rune.
A atuação do croata em cima de Andrey Rublev, a quem também havia vencido no Australian Open, teve números espetaculares: 88 winners e 71 erros, o que retrata com perfeição o que foi sua opção tática. Forçou o tempo inteiro e abusou do primeiro saque, com 33 aces num percentual de acerto de 66%. Não beirou a perfeição nos golpes de base, como havia feito com Daniil Medvedev, mas note-se a consistência do backhand, outrora um golpe inseguro.
Ruud por sua vez começou muito bem e depois foi envolvido por uma mudança tática esperta do garoto dinamarquês, mais decidido a ir à rede e evitar tantas trocas de bola. O jogo ficou então equilibrado até que Rune mostrou sua inexperiência no tiebreak do terceiro set, sempre reclamando e gesticulando em excesso. Ruud como sempre dependeu demais do forehand, mas teve pernas suficientes para cobrir esse lado muito bem.
Este será o terceiro confronto entre eles. Se de um lado Ruud leva vantagem de ter vencido ambos, um deles no saibro de Roma há dois anos, de outro Cilic tem a larga vivência de quem já ganhou o US Open e decidiu Wimbledon e Austrália. Na minha avaliação, essa experiência tão especial vai pesar muito na sexta-feira.
Faltam dois para Swiatek
Jessica Pegula não jogou mal se considerando o piso de saibro, mas era mesmo muito difícil barrar a embaladíssima Iga Swiatek em condições normais. A polonesa cedeu apenas cinco games, marcou a 33ª vitória e a sexta semifinal consecutivas desde fevereiro, das quais chegou em todos os cinco títulos.
A próxima a tentar a façanha de impedir o bicampeonato da polonesa em Roland Garros é Daria Kasatkina, que venceu o duelo russo de dois sets apertados diante de Veronika Kudermetova. Ela ainda não perdeu set no torneio, mas vai precisar tomar mais a iniciativa se quiser disputar sua primeira final de Slam.
Curiosamente, este será o quarto confronto entre elas somente nesta temporada. Kasatkina ganhou na grama de Eastbourne no ano passado, mas agora perdeu seguidamente em Melbourne, Dubai e Doha por 2 a 0. Swiatek não quer surpresas. Disse ter percebido mudanças na forma com que Kasatkina está jogando em Paris e promete estudar o caminho ideal.
A rodada desta quinta-feira não terá jogos masculinos. Acontece a outra semi feminina, o imperdível duelo de gerações entre Coco Gauff e Martina Trevisan que colocará novo nome em uma final de Slam. A canhota italiana venceu Gauff no único jogo entre elas, lá mesmo em Paris, em 2020.
Dói ou não dói?
Novak Djokovic reconheceu a superioridade de Rafael Nadal, admitiu que o espanhol foi mentalmente mais forte nos pontos importantes, mas não evitou um tom misterioso quando questionado sobre a lesão de Rafa. “Não estou nada surpreso. Não é a primeira vez que ele é capaz de, alguns dias depois de se machucar e mal conseguir andar em quadra, aparecer 100% apto fisicamente. Vocês sabem, ele fez isso muitas vezes em sua carreira, então não estou surpreso”.
Do seu lado, Nadal reforça a ideia de que está sempre sob o risco de ser impedido de jogar. “Não sei o que pode acontecer. Estou neste torneio porque me preparei para jogar aqui, mas não sei o que vai acontecer depois. Sobre o meu pé, estou com meu médico aqui em Paris. Se a gente não conseguir encontrar uma melhora ou uma pequena solução, ficará super difícil pra mim”.