Não faltam conquistas de Grand Slam, nem heróis para o tênis argentino. Mas esta terça-feira em Roland Garros foi um momento mais do que especial: o guerreiro Diego Schwartzman derrubou o primeiro grande do saibro que está no seu caminho, Nadia Podoroska foi a verdadeira tenista em quadra e tirou a cabeça 3 Elina Svitolina, aumentando sua série para oito vitórias. Dia de tango em Paris! É de causar saudável inveja.
Dieguito está longe de ser uma surpresa, ainda mais depois de derrubar o todo poderoso Rafael Nadal em Roma, há quatro semanas. Também já havia vencido Thiem em dois dos oito duelos realizados, mas encarava um duplo desafio adicional: chegar enfim a sua primeira semifinal de Grand Slam e realizar o sonho do top 10. Aliás, será o terceiro mais baixo da história do ranking a figurar na prestigiada lista (clique aqui e veja detalhes). De quebra, nunca havia vencido uma partida de cinco sets no estádio Philippe Chatrier.
Para superar tantos desafios, El Peque resistiu a tudo, a começar pela enorme frustração de perder o terceiro set que parecia dominado quando chegou a sacar com 5/3. Aí saiu atrás por 0/2, ganhou quatro games seguidos e ainda permitiu empate, perdendo de novo o serviço na hora mais imprópria, com 5/4 e três chances. E tudo isso numa partida extremamente equilibrada, de pontos e games muito longos, em que era preciso bater diversas vezes na bola até ter alguma chance de definição.
Thiem esteve com a vitória próxima, ao fazer 3-1 nesse terceiro tiebreak da maratona. Desde o final do terceiro set, seu forehand finalmente conseguia produzir winners mais constantes, mas o austríaco falhou na parte mental. Jogou os últimos pontos sem paciência e desabou de vez quando foi quebrado no sexto game do quinto set. Correndo atrás de todas as bolas, à procura de respostas para a potência superior do adversário, Schwartzman tinha mais pernas e aplicação tática ferrenha. Executou deixadas oportunas e voleios inteligentes.
Deu um show de determinação e foi magnífico ao responder Cédric Pioline na entrevista de quadra, quando o genial francês opinou que os dois mereciam vencer. “Acho que hoje eu mereci mais”.
Para quem já discorria sobre a provável muralha que Thiem teria pela frente nas rodadas finais do torneio, Schwartzman ocupa seu lugar com a tentativa de uma façanha ainda maior, quase inimaginável: depois de tirar o número 3 e duas vezes finalista, reencontrará o multicampeão Nadal na sexta-feira e, se repetir a atuação impecável de Roma, poderá lutar pelo título contra Novak Djokovic.
Horas antes, Nadia Podoroska me deixou boquiaberto. Sua postura em quadra diante de Svitolina era de uma veterana acostumada aos grandes palcos. Tomou conta rapidamente do jogo, fez magníficas mudanças de ritmo, ora com curtas, ora com forehand furioso, e de repente a experiente ucraniana estava completamente perdida em quadra, sem saber o que fazer, sem forças de reação.
Nunca uma qualificada havia chegado à penúltima rodada de Roland Garros. Podoroska, que foi capa do diário Olé na vitória anterior, sairá do 131º posto para a faixa das 50 primeiras, ainda aos 23 anos. Relembrou na entrevista oficial a dificuldade que passou há dois anos, quando ficou oito meses afastada por grave contusão no punho e não tinha dinheiro para voltar ao circuito. E revela: o sonho desde criança é ser a número 1 do mundo.
Sua adversária é outra que não estava na lista das favoritas, a jovem e habilidosa Iga Swiatek. Depois de tirar Simona Halep, não tomou conhecimento da canhota Martina Trevisan, e continua sem perder sets.
No final deste interminável dia em Paris, Nadal saiu da quadra à 1h32 da manhã, depois de lutar quase três horas contra o promissor Jannik Sinner. O jovem italiano foi ousado no primeiro set, quando sacou com 6/5, e ainda liderou no início do segundo por 3/1.
Mas o espanhol sempre acha respostas. Ainda estava um tanto irregular até a primeira metade da partida. Quando o forehand se soltou – e a combinação de saque aberto na vantagem com forehand no lado aberto funcionou maravilhas -, ele anulou o adversário. Terminou o jogo bem agressivo, fazendo ótimas transições à rede, e após um primeiro teste real mostrou-se fisicamente muito rápido e resistente nas defesas.
Rafa comemorou sua 100ª partida em Roland Garros com sua 98ª vitória. Assombroso. E está em sua 13ª semifinal. E uma notícia ruim para os adversários: dessa rodada em diante, jamais perdeu.
Saiba mais
– Segundo a estatística oficial, a média de primeiro saque de Schwartzman é a mesma de Petra Kvitova, ou seja, de 160 km/h.
– Apenas três mulheres sul-americanas conquistaram Slam: a chilena Anita Lizana, Maria Esther Bueno e a argentina Gabriela Sabatini, este o último e há exatos 30 anos. As duas primeiras em grama, a outra na dura. Então nenhuma delas em Paris.
– Nadia Podoroska sempre foi presença constante nos torneios promovidos no Brasil alguns anos atrás, tendo vencido dois em São José dos Campos. Era também a parceria de Bia Haddad no título do WTA de Bogotá, em 2017.
– Sinner garantiu salto para o 46º posto e assim a Itália terá agora quatro nomes no top 50, somando-se Berrettini, Fognini e Sonego.
– Andrey Rublev, que reencontra Stefanos Tsitsipas nesta quarta-feira, é outro que pode estrear no top 10. Ele nem precisa vencer o grego, mas Pablo Carreño não pode chegar na final de Paris.
– O espanhol é o adversário de Novak Djokovic, para quem perdeu os três jogos efetivamente encerrados, dois deles no lento saibro de Monte Carlo.
– Petra Kvitova reencontra Laura Siegemund cinco anos depois do único duelo e Danielle Collins, que ganhou uma partida difícil contra Ons Jabeur, levou a melhor nas três contra Sofia Kenin.