Alexander Zverev divide corações. Considerado o maior expoente da nova geração, acrescenta a sua coleção de grandes títulos o ATP Finals, quinto maior torneio da temporada, ao derrotar em sequência, e sem perder set, dois adversários que somam 11 troféus na competição e estão na lista dos melhores de todos os tempos.
Mas Sascha ainda não vingou num Grand Slam, irrita com seu comportamento por vezes juvenil, reclama demais dentro e fora da quadra, quebra raquetes e, dizem, tem sério problema com a disciplina, talvez o mais importante atributo de um tenista profissional.
Com um tênis de primeira linha e atitude exemplar, Zverev calou seus críticos num final de semana mágico. Ganhou de Roger Federer indo à rede, superou Novak Djokovic no fundo de quadra. Parece surreal. Lembremos ainda que barrou Marin Cilic em dois tiebreaks e foi de uma frieza cirúrgica no jogo que valia a semi diante de John Isner.
Esta é sua terceira real temporada entre os tops. Virou top 100 pouco depois de completar 18 anos, período em que se recusou a ficar nos challengers e se arriscou o tempo todo em qualis de ATP e Masters. Pensou grande, como tem de ser para alguém com seu talento.
A chegada de Ivan Lendl pode ter iniciado a transformação que tanto se cobra dele. O homem que mudou a vida de Andy Murray chegou pedindo maior rigor no trabalho físico. Sascha ganhou rapidamente massa muscular e vimos na final deste domingo o quanto isso fez diferença.
Lendl também é excepcional estrategista e provavelmente vai tentar tornar o forehand do alemão mais potente e eficiente, tudo muito semelhante ao que adicionou a Murray. Claro que Andy de então tinha mais pernas e versatilidade, mas faltava acreditar em si mesmo. Zverev precisa dar esse salto nos Slam.
A semana de Zverev deixa claro que ele está amadurecendo. Superou o amigo e ídolo Federer num jogo em que teve de lidar com o público e mostrar ousadia tática, encarou o embalado número 1 do mundo quatro dias depois de levar uma surra decidido a aguentar inúmeras trocas de bola sem perder a cabeça. Deixou escapar uma vantagem no começo do segundo set, mas jamais se apavorou. E fechou a cerimônia de premiação com um animado e divertido discurso. Ganhou bônus.
Nole, é verdade, foi caindo de produção a partir do final do primeiro set. Perdeu-se com seus erros e falta de potência do forehand, fez três voleios pavorosos e sofreu três quebras seguidas e uma quarta para perder o jogo. Muito para quem não havia cedido o saque até então. Houve uma queda física e a evidência disso foram a pressa para dar dropshot ou a busca do saque-voleio. De qualquer forma, Djokovic não tem do que reclamar de seu segundo semestre de ouro.
E mais
– Zverev é o mais jovem campeão de um Finals desde o próprio Djokovic, que tinha os mesmos 21 anos quando venceu a edição de 2008. A diferença, claro, é que naquela altura Djoko já havia conquistado um Grand Slam.
– Sascha é o terceiro alemão a conquistar o Finals. Boris Becker foi tricampeão em 1988, 1992 e 1995, enquanto Michael Stich triunfou em 1993.
– Com os 1.300 pontos que somou em Londres, Zverev termina a segunda temporada consecutiva na quarta posição. Está apenas 35 atrás de Federer.
– Em sua sétima final, Djokovic ficou com o vice no ATP Finals apenas pela segunda vez na carreira, repetindo o que aconteceu em 2016, quando perdeu a decisão para o britânico Andy Murray.
– Nole fecha a temporada com 9.045 pontos, mais de 1.500 de vantagem sobre Rafa Nadal, e tem apenas 200 pontos a defender até começar a temporada de saibro, em abril. Mas o espanhol também tem pouco: 360.
Mike, de novo
Para comprovar que é mesmo o maior duplista da história, Mike Bryan conquistou o Finals pela quinta vez na carreira em sete finais disputadas. O fato inusitado é que desde junho ele trocou de lado na quadra, passou a atuar do lado direito da dupla e ainda assim se entrosou tão bem com Jack Sock a ponto de vencerem os três mais importantes troféus desde então, ou seja Wimbledon, US Open e o Finals.
Mike tem 40 anos e acumula 121 títulos na carreira. Não tem a menor intenção de parar. Ao contrário, aguarda a recuperação do irmão canhoto Bob, que colocou prótese no quadril e tenta retornar em janeiro. Mike detém os recordes de mais títulos (112) e mais Slam (18), é mais velho número 1 e quem passou mais tempo na liderança (chegará a 474). Único a disputar 17 vezes o Finals – curiosamente, também se classificou com Bob em sexto lugar -, chegou a 42 vitórias. A maior coleção de títulos no entanto cabe a John McEnroe e Peter Fleming, com sete.
Sock, claro, é também um duplista de respeito. Há quatro anos, surpreendeu com o título de Wimbledon ao lado de Vasek Pospisil. Nesta temporada, com atuações sofríveis em simples, dedicou-se mais às duplas e venceu seu segundo Masters em Indian Wells (ao lado do mesmo John Isner com quem ganhou Xangai no ano passado). Também foi campeão com o desconhecido Jackson Withron e com Nick Kyrgios. Vai terminar como número 2 do mundo.