Duas coisas extraordinárias aconteceram neste domingo em Paris. Rafael Nadal deu outro show de soberania sobre o saibro, conquistou o 14º troféu de Roland Garros e abriu ainda mais distância para os concorrentes na tabela de Grand Slam. E não falou em adeus nem ao torneio, nem ao circuito, como era o temor de muita gente. Nadal não pode mesmo parar.
Claro que o problema no pé esquerdo preocupa e fica a dúvida se o veremos dar mais uma pausa no seu calendário de 2022. Será uma grande pena se ele não disputar Wimbledon. Afinal, vencedor pela primeira vez na carreira dos dois primeiros Slam de uma temporada, seria emocionante vê-lo tentar novo sucesso na grama britânica e aí abrir caminho para outro feito histórico espetacular.
Nadal contou após a partida que o tratamento feito pelo doutor Angel Cotorro foi anestesiar os dois nervos que lhe causam dor no pé, além de anti-inflamatórios, de forma que ele jogou sem sentir o próprio pé o tempo inteiro, mesmo sob o risco de uma queda ou uma torção. Já na próxima semana haverá uma tentativa de solucionar isso de uma vez, através de uma experiência com rádio-frequência.
“Não é uma questão de ser o melhor da história ou bater recordes. Mas sim de eu fazer o que mais gosto na vida que é jogar tênis, de competir no mais alto nível”, explicou Rafa de maneira simples e direta quando as perguntas da entrevista oficial abordaram a disputa contra Novak Djokovic e Roger Federer.
Embora pouco se fale sobre isso, devemos observar também que a retomada da liderança do ranking é uma possibilidade definitiva. Mesmo com participações limitadas no saibro europeu, Nadal sai de Roland Garros com 5.620 pontos somados na temporada, o que é 1.800 a mais do que Carlos Alcaraz ou quase 2.000 acima de Stefanos Tsitsipas, os concorrentes mais próximos.
Quando os pontos de Roland Garros do ano passado caírem, na próxima segunda-feira, ele deverá estar em terceiro, cerca de 1.000 pontos do russo Daniil Medvedev. A partir de julho, na fase de quadras duras, o canhoto espanhol terá apenas 545 a defender até o fim da temporada. Saudável, não há menor discussão de que ele vai lutar pelo número 1, posição que ocupou pela última vez no dia 2 de fevereiro de 2020.
Aos 36 anos, Nadal continua a jogar um tênis espetacular, é de novo o melhor tenista do circuito, dá lições seguidas de empenho e amor ao esporte. E por tudo isso é venerado em cada estádio onde pisa e pela maciça maioria de seus adversários.
Não, não é hora de se pensar em aposentadoria. Há ainda muita coisa ao alcance do mais ferrenho competidor que já se viu.
Final tranquila e mais façanhas
Como se esperava, Casper Ruud não foi mesmo adversário à altura de Nadal numa decisão de Roland Garros. Começou muito nervoso, depois conseguiu se soltar e chegou a ter 3/1 no segundo set, vantagem rapidamente revertida pelo espanhol, que embalou então 11 games seguidos. Isso em plena final de um Grand Slam.
No saque, na devolução, nas trocas e principalmente nas variações, Nadal era muito superior. Cometeu é claro alguns deslizes, com dupla falta inapropriada ou forehands fáceis desperdiçados. Ao mesmo tempo, esbanjava disposição e grande apuro técnico, correndo atrás das bolas até quando o placar nem mais exigia isso. Ruud marcou apenas oito pontos no massacrante terceiro set. E pensar que Nadal tem 13 anos a mais nas costas.
A conquista lhe proporciona mais números incríveis:
- 14 títulos em 14 finais em Roland Garros, 7 dessas finais em sets diretos
- único na história a ter 14 troféus num mesmo torneio
- aos 36 anos, mais velho campeão do torneio
- terceiro mais velho campeão de Slam
- 112 vitórias em 115 jogos Roland Garros, 97.4% de sucesso
- 90 triunfos em sets diretos no saibro de Paris
- vitória sobre todos os 74 adversários que já encarou em Roland Garros
- quatro vitórias sobre top 10 na campanha, igualando Wilander e Federer
- sexto a vencer os dois primeiros Slam de uma temporada
- quinto a vencer Austrália e Paris seguidamente
- 88,2% de vitórias em torneios de Grand Slam, atrás somente de Borg
- 92 troféus na carreira, quarta maior coleção, a dois de Lendl
- 63 títulos obtidos no saibro
- 91.3% de vitórias no saibro (474 vitórias e 45 derrotas)
- 1.058 jogos vencidos, quarta marca, a 10 de Lendl
- 83,3% de vitórias na carreira, maior marca da Era Profissional
- 77,58% de sets vencidos na carreira, maior índice desde 1968
E mais
- 15 temporadas com ao menos um título de Slam, recorde absoluto
- único com 11 ou mais títulos em três torneios diferentes
- 18 temporadas seguidas com ao menos dois títulos por ano
- 872 semanas seguidas no top 10 e posição garantida até o final de 2022
- terá 658 semanas no top 3 no ranking do dia 13 e ficará 11 atrás de Djokovic