Superação é a marca registrada dos grandes campeões e algo que costumeiramente se associa a Rafael Nadal. Mas neste domingo o grande herói em Indian Wells foi o californiano Taylor Fritz. Para realizar o sonho de infância e ganhar o maior torneio disputado no Oeste do país, ele precisou de um pequeno milagre.
Fritz torceu o tornozelo direito no finalzinho da semifinal de sábado contra Andrey Rublev e sentiu o problema se agravar no aquecimento matutino de sua primeira final de nível Masters 1000. Era praticamente impossível ter condições de entrar em quadra. Ficou sob intenso tratamento – ‘nunca senti dor pior antes de uma partida’ – e fez um segundo bate-bola mais tarde, bem próximo à partida, e foi aconselhado por toda sua equipe, incluindo o preparador físico, a não jogar.
Ele no entanto se recusou a aceitar a ideia de ter chegado tão longe para nada e garantiu que podia enfrentar Nadal. Sem mostrar qualquer limitação, mas exibindo uma proteção no local, não apenas fez uma exibição consistente como encerrou a série invicta de 20 jogos do homem que tentava o quarto título numa temporada mágica. Marcou enfim uma vitória sobre o Big 3, depois de oito frustrações, e agora é o 13º do ranking e o norte-americano mais bem colocado.
A vitória verdadeiramente heroica o tornou apenas o terceiro norte-americano a ganhar um Masters desde 2010, o primeiro a erguer o troféu de Indian Wells desde Andre Agassi em 2001 e o mais jovem campeão do torneio após Novak Djokovic em 2011. O mais incrível: esta é somente a segunda conquista de sua carreira em sete finais, quase três anos depois de Eastbourne.
Fritz, que prometeu se esforçar para segurar as lágrimas a cada entrevista que der agora, possui tênis nas veias, filho da ex-top 10 Kathy May e do treinador premiado Guy Fritz. Cresceu em San Diego e virou mais uma promessa americana em 2015, quando ganhou o US Open, foi vice de Roland Garros e liderou o ranking juvenil, época em que vencia Stefanos Tsitsipas, Andrey Rublev e Denis Shapovalov.
Aos 18 anos, pouco depois de se casar e ter o filho Jordan, fez primeira final de ATP e rapidamente virou top 50. O título na grama britânica o levou aos 25 primeiros mas, apesar de boas campanhas, Fritz nunca deu o salto que se esperava. No ano passado, recuperou-se bem de artroscopia no joelho e adicionou Michael Russell e Paul Annacone, ex de Federer, ao trabalho com David Nainkin. O fruto desse triunvirato se viu desde janeiro, quando Fritz já mostrava ter subido degraus.
Chegou à final com duríssimas vitórias nas terceira e quartas rodadas, em que tirou Jaume Munar e Alex de Minaur no tiebreak do terceiro set, e suou mais três parciais em seguida diante de Miomir Kecmanovic. Parecia difícil existir ainda fôlego diante de Rublev, mas enfim deu o passo inédito num Masters. Antes de obter a quebra que eliminaria o russo, pediu atendimento médico para o tornozelo, porém nem precisou.
Nadal também não estava em plenas condições nesta final, e isso ficou claro no começo instável, que permitiu 4/0 a um Fritz muito agressivo, como havia feito com Rublev na véspera. Depois, o jogo normalizou mas o espanhol contou mais tarde que sentia dificuldade para respirar devido a uma dor na altura das costelas. que já havia se manifestado na véspera. Recebeu atendimento ao final do primeiro set e isso pareceu ajudar, já que começou a outra série com quebra. Não segurou, viu Fritz virar para 3/2 e se segurar num apertadíssimo oitavo game.
Como de hábito, o canhoto espanhol lutou muito, fez lances defensivos incríveis, porém preferiu postura bem mais defensiva quase o tempo todo. Salvou match-point de forma notável, depois reagiu de 1-3 para 5-4 e dois saques a favor no tiebreak. O empate parecia inevitável. No entanto, errou um swing-volley muito fácil para seu nível e Fritz agarrou a oportunidade.
Além de deixar escapar o 37º título desse quilate, o que marcaria novo empate com Djokovic, Rafa também perdeu sua primeira final desde o Australian Open de 2019, numa sequência de 11 sucessos na hora de erguer o troféu, o que inclui quatro Slam e três Masters. De volta ao top 3, descansará nas próximas semanas e só voltará a competir em Monte Carlo.
Swiatek confirma grande momento
Dona de um jogo muito eficiente sobre o saibro, a polonesa Iga Swiatek conseguiu de vez o sucesso em alto nível sobre as quadras duras. Neste domingo, ganhou o segundo WTA 1000 consecutivo, repetindo Doha, e com isso assumiu com justiça o segundo lugar do ranking feminino.
Maria Sakkari de novo falhou na parte mental e amargou mais um vice. Até fez um primeiro set equilibrado, em que teve oportunidades, por duas vezes obtendo quebra antes da adversária.
Mas as duas estavam com dificuldade de sacar e agredir com o forte vento e a decisão de Swiatek de colocar mais efeito no saque e diminuir os erros não forçados se mostrou muito adequada. Ao final, a polonesa teve 10 erros contra 21 de Sakkari, que não achou desculpas sequer no clima ruim.
Assim como aconteceu com Fritz, a trajetória de Swiatek em Indian Wells não foi nada fácil. Marcou três viradas seguidas até atingir as quartas e só então pareceu solidificar a confiança, arrasando Madison Keys e dominando a campeã de 2015 Simona Halep.