Roger Federer pode estar diante da maior façanha de sua carreira; Se quiser recuperar o troféu de Wimbledon e erguê-lo por uma impensável nona vez, terá muito provavelmente de derrotar Rafael Nadal e Novak Djokovic. E isso parece especialmente difícil porque tanto o espanhol como o sérvio jogaram até aqui um tênis superior ao do próprio suíço.
Adversário de sexta-feira, num reencontro que não acontecia na Quadra Central desde as três finais consecutivas de 2006 a 2008, Nadal está jogando um tênis tão exuberante que Federer o encheu de elogios. Reconheceu antes de tudo que o espanhol é um tenista muito superior ao de 11 anos atrás e que está longe de ser apenas um jogador de saibro.
Federer no entanto fez seus três melhores sets no torneio diante de Kei Nishikori. Surpreendido no começo por um tênis consistente do japonês, optou por bater mais o backhand e atacar as devoluções. A virada veio quase com naturalidade, ainda que ele tenha desperdiçado muitos break-points por vezes exagerando na força com que batia na bola. Fez um lance defensivo de incrível qualidade, cruzando a quadra de uma ponta à outra para obter a passada de backhand no contrapé a 150 km/h. Os voleios… bem, os voleios do suíço dispensam adjetivos.
O backhand batido e as devoluções agressivas serão chave diante de Nadal. O espanhol no entanto está sacando demais e contra Sam Querrey incluiu mais uma variação de sucesso, com muitos serviços sobre o corpo do grandalhão. Como se esperava, o norte-americano deu trabalho e endureceu o primeiro set, mas ficou difícil viver quase exclusivamente do primeiro saque e pouco a pouco foi dominado pelo espanhol. Voleios curtos, slices e passadas milimétricas complementaram outra atuação vistosa do número 2, com nada menos do que 42 winners.
Não resta dúvida de que o 40º capítulo do ‘Fedal’, e o segundo seguido de Grand Slam, tende a roubar todas as cenas da semifinal de sexta-feira, ainda mais porque parece haver pequeno favoritismo de um lado ou de outro. No entanto, Djokovic e Roberto Bautista também podem dar um belo espetáculo, principalmente se o espanhol se livrar com rapidez do nervosismo natural da inédita presença numa penúltima rodada de Slam e se lembrar das duas vitórias obtidas em 2019 sobre o número 1.
Finalista em cinco das últimas oito edições de Wimbledon, período em que ergueu seus quatro troféus, Djokovic levou um pequeno susto com o grande começo de partida de David Goffin. Solto, leve e determinado, o belga desceu o braço, apertou todos os serviços do sérvio até obter a quebra, abrir 4/3 e 30-0. Aí virou abóbora. Passou 10 games em quadra totalmente perdido, incapaz de fazer frente ao jogo cada vez mais acelerado do líder do ranking. Djoko atropelou o finalista de Halle dando-se ao luxo de desacelerar no terceiro set.
Bautista joga diferente. Não força tanto o saque e procura sempre um percentual alto para manter o adversário sob pressão. Bate bem mais reto na bola, o que na grama funciona bem, e fica pertinho da linha na procura dos contragolpes. Tem surpreendido em Wimbledon com idas mais frequentes à rede, média superior a 20 por jogo. O duelo contra Guido Pella foi bem divertido, os dois muito empenhados o tempo todo, games longos e chances para os dois lados. Prevaleceu o oportunismo do espanhol, que converteu 4 de 16 break-points, salvando-se em 11 de 13 chances que cedeu.
Em que pese os resultados de Doha e de Miami – houve outra vitória do espanhol nos 10 confrontos, na veloz Xangai em 2016 -, o favoritismo é todo de Djokovic porque possuiu duas grandes habilidades essenciais sobre a grama: saque e devolução.
E mais
– É a 13ª vez que o Big 3 domina as semis de um Slam e a segunda seguida. Antes disso, só haviam se reunido em Roland Garros de 2012.
– Federer se torna primeiro homem na história com 100 vitórias num mesmo Slam e assume o recorde de mais vitórias sobre a grama da Era Aberta, com 186. É ainda o mais velho semi de Slam desde Connors no US Open de 1991, quando tinha 39 anos.
– Djoko iguala as 9 semis de Becker em Wimbledon e chega a 70 vitórias no torneio, que passa a ser seu Slam de maior sucesso (tem 69 no US Open ainda a ser disputado).
– Nadal soma agora 32 semis de Slam e assim o Big 3 pontua a lista (Federer tem 45 e Djoko, 36). Os três também são os únicos a ter pelo menos 50 vitórias em cada Slam.
– É a primeira vez na história de Wimbledon que dois espanhóis estão na semi.
– Bautista retornará a seu recorde pessoal do 13º posto. Se for à final, entrará no top 10.
– Magnífica vitória de Bruno Soares e Nicole Melichar (que jogou muito!) sobre Andy Murray e Serena Williams. Cabeças 1, eles avançaram para as quartas. O escocês sai de certa forma decepcionado com as poucas vitórias com Pierre Herbert e Serena.
– Semis femininas começam às 9h com Elina Svitolina diante de Simona Halep, seguindo-se Serena contra Barbora Strycova. A aposta lógica é Halep x Serena na final de sábado. Seria a primeira da romena no Club e a 11ª da heptacampeã.