Faltou muito pouco, na verdade um único ponto, para que Roland Garros perdesse num dia só e ainda na segunda rodada dois dos considerados nomes fortes da chave masculina. Tanto Alexander Zverev como Carlos Alcaraz tiveram de contar até com a sorte para escapar do match-point que encararam em duríssimas batalhas de cinco sets. O quanto isso comprometerá o físico ou ajudará na confiança, teremos de esperar para ver.
Era imaginável que Sascha encontrasse resistência diante do baixinho Sebastian Baez, apesar da parca experiência do argentino em Grand Slam, já que o recente duelo entre eles em Roma fora parelho. Porém o cabeça 3 se incomodou também com as rajadas de vento e acabou amplamente dominado. Baez pecou a meu ver por não ter insistido no plano tático inicial de alongar os golpes no forehand do adversário e mesclar com curtas. Assim que Zverev achou um padrão, soltou os golpes da base, calibrou o saque e aí o jogo foi ao quinto set.
Só então Baez retomou a estratégia, abriu 4/2 e aí jogou mal. Teria sua chance de vitória no 30-40 do 5/4, mas Zverev estava no saque, cravou ace e isso mudou sua postura. Não resta dúvida que o fato de ter vencido 7 de 8 jogos anteriores no quinto set em Roland Garros ajudou. A marca geral do alemão aliás é expressiva, com 17 de 27 na carreira. Agora, já são três reações após estar dois sets abaixo. Muito pouco provável que tenha o mesmo suadouro diante de Brandon Nakashima na sexta-feira.
O sufoco de Alcaraz, no entanto, me surpreendeu. O canhoto Albert Ramos é muito experiente, ganhou de gente como Federer, Murray e Thiem, mas a forma com que Alcaraz atuou no primeiro set e somava oportunidades no segundo abriam uma considerável lacuna técnica. No entanto o pupilo de Juan Carlos Ferrero fazia escolhas ruins e, mesmo tendo 4-2 no tiebreak, viu tudo se transformar. Ramos ganhou esse set e ficou perigoso. Usou seu ótimo forehand de canhoto para forçar o lado esquerdo do adversário, sempre mais frágil, e o jogo virou uma maratona de lances e emoções para delírio da torcida.
Alcaraz sempre assumiu os riscos – terminou o jogo com 74 winners e 74 erros – e a maior lentidão de Paris, como era esperado, gerava problemas para seu estilo. Ramos sacou então com 5/4, chegou ao match-point, errou o primeiro saque por míseros centímetros e mandou um backhand bobo no meio da rede logo na segunda bola. A correria somente continuou. Alcaraz ainda fechou o quarto set na quarta tentativa e viu o adversário abrir 3/0 no quinto set. Lutou muito, virou para 4/3 num lance espetacular, perdeu o saque e voltou a quebrar em outra sucessão de defesas enlouquecedoras. Disparou três gloriosos aces para completar a duríssima tarefa, confessando-se exausto.
Ao contrário de Zverev, o garoto espanhol não pode relaxar na terceira rodada, já que reencontra Sebastian Korda, que jogou muito e o barrou de forma muito inesperada no lento saibro de Monte Carlo semanas atrás.
Os favoritos trabalham mais – Novak Djokovic e Rafael Nadal não correram o menor risco, mas tiveram ao menos um set exigente em suas vitórias de segunda rodada. Nole levou com a maior seriedade a tarefa diante do canhoto Alex Molcan, que se sabia ter poucos recursos para incomodar, mas foi levado ao tiebreak no terceiro set por um adversário mais decidido. Nadal também encarou um canhoto e a torcida, marcando a 300ª vitória em Slam. Corentin Moutet só mostrou força de vontade, apesar de um terceiro set animado. Há mínimas chances para Aljaz Bedene frente a Djoko na sexta-feira, mas Botic van de Zandschulp joga direitinho e vai exigir concentração de Rafa.
Altos e baixos – Felix Aliassime aproveitou-se da fragilidade do argentino Ugo Carabelli, disparou 41 winners e ainda ganhou 28 de 34 pontos na rede. Tem agora Filip Krajinovic rumo ao esperado cruzamento com Nadal nas oitavas. Carabelli, que venceu a duras penas Aslan Karatsev na estreia, contou ter desmaiado no quarto de hotel frente ao estresse e que foi socorrido pelo treinador. Destaque ainda para John Isner. Fez 51 winners, entre eles 23 aces, está pela oitava vez na terceira rodada de Paris e pega a surpresa Bernabe Zapata, que tirou Taylor Fritz de virada.
Peque também vira – A façanha de Diego Schwartzman acabou meio esquecida frente ao dia agitado dos favoritos. Ele também perdia por dois sets de Jaume Munar antes de engatar triplo 6/2 e anotar a quinta vitória em cinco sets em Roland Garros em sete tentativas. Vai pegar Grigor Dimitrov, que está voando e venceu seus seis sets até agora com muita autoridade. Promete.
Bia não sai feliz – Apesar de não ter sofrido derrota feia, Bia Haddad ficou insatisfeita com sua atuação diante do fogo cruzado de Kaia Kanepi. A situação poderia ser outra caso a canhota brasileira aproveitasse os quatro break-points que deixou escapar no começo da partida em dois games distintos. Isso fez enorme diferença, até porque a estoniana é ainda mais perigosa quando se torna confiante e joga solta. Na entrevista, Bia voltou a falar que precisa jogar mais feliz e curtir o momento. Acho que é exatamente isso que está faltando. A auto cobrança talvez esteja alta demais.
Sem top 10… – Maria Sakkari se torna a quinta top 10 eliminada de Roland Garros, e todas na parte inferior da chave. Que loucura. Isso obviamente abre caminho para gente que está querendo reagir, como Belinda Bencic, Vika Azarenka, Leilah Fernandez. Angie Kerber e Sloane Stephens, mas também para sedentas por sucesso como Coco Gauff, Amanda Anisimova e Jil Teichmann. Há dois confrontos que me chamam mais atenção: Bencic-Fernandez, cuja vencedora pode cruzar com Anisimova, e Azarenka-Teichman, com chance de encarar Gauff nas quartas. Apesar das zebras, continua interessante.
… E sem Emma – E houve uma comoção talvez um tanto exagerada pela queda de Emma Raducanu ainda na segunda rodada. Ela até venceu o set inicial, mas depois parou no estilo de risco de Aliaksandra Sasnovich. O fato é que a britânica jogou muito pouco no saibro em sua curtíssima carreira e assim as críticas desta vez me parecem deslocadas. Está faltando confiança, isso no entanto fica cristalino. E pressão é o que não vai faltar nos seus torneios na grama caseira.