Um bate-bola de 60 minutos algumas horas antes de entrar em quadra foi toda a preparação que Novak Djokovic se permitiu antes de encarar o ‘freguês’ Milos Raonic. Não fez uma exibição brilhante, deixou mais um set no caminho e fez caretas ao se esforçar em alguns lances antes de anotar a histórica 300ª vitória em Grand Slam e avançar pela 48ª vez na carreira às quartas de um Grand Slam.
Raonic amargou a 12ª derrota e provavelmente sua maior chance de acabar com o jejum, já que Djokovic abriu pequenas brechas e por vezes se irritou com falhas pouco costumeiras. A superioridade do sérvio no entanto é muito grande e pouco a pouco o canadense sucumbiu com seu backhand frágil, mobilidade ruim e táticas mal executadas. Como sempre, Nole apostou em sua absurda qualidade de devolver saques bombásticos e apostou na consistência, ainda que estivesse talvez a 70% de sua capacidade.
Serão agora mais 48 horas para tentar recuperação ainda mais completa porque o próximo desafio promete ser muito mais exigente. Afinal, Alexander Zverev só perdeu um set no torneio e economizou no físico, já ganhou duas vezes de Djokovic em sete duelos e semanas atrás deu muito trabalho na ATP Cup exatamente na mesma quadra. É bem verdade que o alemão ainda não pegou um adversário de grande currículo na quadra dura – Adrian Mannarino e Dusan Lajovic estavam no caminho – porém Sascha só mostrou qualidades e evolução neste começo de temporada, a começar por um novo ímpeto de arriscar muito o segundo saque.
Enquanto Nole superava suas dores, Dominic Thiem se entregou a elas. Sem revelar exatamente quais os problemas físicos, o vice do ano passado admitiu não ter conseguido se recuperar do desgaste após a batalha diante de Nick Kyrgios e não aproveitou sequer a vantagem de 3/1 que abriu nos dois primeiros sets, cedendo viradas a um esforçado Grigor Dimitrov antes de encerrar sua campanha com um vexatório ‘pneu’ no terceiro set. O búlgaro atinge assim as quartas da Austrália pela quarta vez na carreira e vê boa chance de repetir a semi de 2017.
Seu adversário é uma daquelas surpresas que o Australian Open habitualmente produz. Dono de estilo de alto risco com bolas bem retas, o russo Aslam Karatsev ‘furou’ o quali em Doha, ficou proibido de treinar na quarentena por estar num dos aviões contaminados, atropelou Diego Schwartzman e mostrou pernas e cabeça para virar em cima de Felix Aliassime após perder os dois primeiros sets.
Assim, coleciona feitos: sétimo na Era Aberta a ir às quartas no primeiro Slam que disputa, primeiro quali a ir tão longe num Slam desde 2011 e na Austrália desde 1984. Saltará de 114º para 63º. Tem chance contra Dimitrov? Com certeza, mas o búlgaro deve ser mais esperto que Aliassime e usar seu ótimo slice para baixar a bola e complicar Karatsev.
Espetáculo das meninas
Um jogo melhor que o outro na abertura das oitavas femininas, onde qualquer coisa poderia ter acontecido. Quanta pancadaria, precisão, espírito de luta e nervos à flor da pele nas vitórias de Simona Halep, Naomi Osaka e Serena Williams. Pena que não havia torcida para enlouquecer as arquibancadas.
Osaka começou tensa contra Garbiñe Muguruza e demorou para reagir. A espanhola jogava dentro da quadra, assumia riscos e sacou para o que seria uma justa vitória. Aí Osaka brilhou. Sobrou coragem para salvar dois match-points e ganhar os três games seguintes em que Muguruza enfim cedeu mentalmente.
Serena e Aryna Sabalenka fizeram um jogo tão apertado e com tamanha qualidade que foi uma pena ter uma única vencedora. A bielorrussa jamais economizou na força, no risco e na exposição de suas sentimentos e por isso foi uma agradável surpresa ver Serena se mover tão bem, manter a cabeça no lugar e achar soluções que pareciam difíceis diante do fogo cerrado que vinha do outro lado.
Halep conseguiu se vingar da derrota sofrida para Iga Swiatek cinco meses atrás no saibro de Paris, mas levou susto diante da consistência da jovem polonesa no primeiro set. Aí a cabeça 2 caprichou mais no saque e atropelou. Houve troca precoce de quebras no set final até que Iga fizesse um game de saque horrível e daí em diante Halep foi primorosa no trabalho dos pontos a partir de um serviço bem colocado.
A outra vaga ficou com a veterana Su-Wei Hsieh, que se valeu de uma Marketa Vondrousova limitada por contusão. Aos 35 anos, a incansável taiwanesa – que joga no estilo Santoro com duas mãos nos dois lados – é a mais velha a atingir quartas de Slam pela primeira vez. Só venceu 1 de 5 duelos contra Osaka, mas cinco desses jogos foram ao terceiro set. Não vai ser fácil.
Serena ganhou 9 dos 11 jogos diante de Halep, mas perdeu talvez o mais relevante de todos, a final de Wimbledon de 2019, quando todos esperavam o 24º troféu de Slam da norte-americana.
E mais
– O fã brasileiro terá de encarar a madrugada para ver Nadal-Fognini, programado para 1h. Espanhol tem 12-4 no confronto, mas 1-1 em Slam. Apesar de todo o talento, Fognini só fez uma quartas de Slam, em Paris-2011.
– Russos são amplos favoritos na Margaret Court para confirmar o confronto direto nas quartas. Medvedev enfim ganhou seu primeiro jogo de cinco sets na véspera (agora 1-6) e encara McDonald, que volta de contusão. Rublev pega Ruud em duelo de ex-números 1 juvenis.
– Tsitsipas-Berrettini é primeiro confronto de tops 10 desta edição. O italiano terminou jogo contra Khachanov com problema abdominal.
– Svitolina tenta segunda vitória da temporada contra Pegula e Vekic lidera por 1-0 contra Brady. Mas americanas são perigosas num piso tão veloz.
– Barty é super candidata para repetir quartas de 2019 e 2020 contra Rogers, a quem venceu há poucos dias no WTA de Melbourne. Mertens tem favoritismo contra Muchova.
– Soares e Melo também jogam por volta de 1h e buscam quartas de duplas. Stefani e Carter pararam nas oitavas num dia em que jogaram mal e Monteiro e Millman até endureceram contra Mektic/Pavic. Os líderes do ranking Cabal/Farah não passaram da estreia.