Demorou, mas finalmente o austríaco Dominic Thiem voltou àquele tênis poderoso e agressivo, com golpes surpreendentes e corajosos, que o levou no começo do ano à inesperada final do Australian Open. É bem verdade que ainda perdeu um set de Marin Cilic e passou alguns apertos antes de completar a vitória, porém derrotou um genuíno adversário de piso veloz e um campeão do US Open.
Houve no geral muitos pontos favoráveis ao cabeça 2 do US Open na noite deste sábado. Usou muito bem o primeiro saque, o que automaticamente permitiu atacar a segunda bola. Exibiu um forehand angulado de grande força e precisão, mas o sinal mais claro do retorno da confiança esteve no backhand sólido. Fez uma sucessão incrível de winners com o plástico revés.
Para completar, se mexeu muito melhor do que vimos no Masters ou nas primeiras rodadas desta semana. Ainda que tenha por vezes exagerado na busca das linhas, foi ótimo vê-lo correr atrás de todas as bolas, o que criou pressão constante no adversário. Fechou os dois primeiros sets com apenas quatro erros não forçados, depois caiu de intensidade. De qualquer forma, recupera o prestígio. Um alívio.
Com a vitória de Thiem, o único dos oito sobreviventes na parte inferior da chave com 30 anos é Vasek Pospisil, que fez uma partida primorosa de cinco sets contra Roberto Bautista e, sem abrir mão do ataque, marca seu maior resultado no US Open e o segundo mais valioso em um Slam depois de cinco anos.
Todos os outros seis classificados pertencem à nova geração. Já com resultados de peso, Daniil Medvedev e Matteo Berrettini fizeram 24 ao longo da pandemia. Andrey Rublev e Frances Tiafoe têm 22; Alex de Minaur, 21; e Felix Aliassime, apenas 20 e único entre todos que debuta em oitavas de Slam.
O adversário de Thiem será justamente Aliassime, duelo inédito, e embora o austríaco seja favorito natural é de se prever um ferrenho duelo de fundo de quadra. Se o garoto canadense mantiver o padrão dos últimos dois jogos, tem chance real.
Tiafoe encara tarefa das mais árduas contra Medvedev. Ele venceu uma vez o russo, mas lá em 2015, e no recente Australian Open tirou um set. O que mais me agradou no norte-americano nesta semana foi sua tendência de avançar mais à rede.
Muito firme no saque e na base, Rublev é forte candidato às quartas e terá revanche contra Berrettini, que o venceu nas oitavas de 2019 do mesmo US Open. Oficialmente, o russo ganhou um de três duelos, mas há poucas semanas levou a melhor sobre o italiano em exibição no saibro.
Por fim, o velocíssimo e raçudo De Minaur é o antídoto perfeito contra o jogo ofensivo de Pospisil, tanto que ganhou os dois confrontos entre eles, ambos em 2018. Como o jogo deve ir para o Armstrong, onde o piso é mais lento que nas quadras externas, sua chance ainda aumenta.
Show das mamães
O complemento da terceira rodada feminina foi uma festa para as mães do tênis: Serena Williams, Victoria Azarenka e Tstavana Pironkova fizeram excelentes apresentações. E não é nada impossível que elas façam uma série de confrontos entre si para decidir a finalista da parte inferior da chave.
Serena teve um início pouco inspirado, mas depois se soltou e, com o afiado e insuperável conjunto de saque e devoluções, virou com sobras em cima de Sloane Stephens. Assim como aconteceu com Thiem, foi enfim uma apresentação digna de Serena, mas agora vem um desafio interessante: encara a mesma Maria Sakkari que a tirou do Premier da semana anterior.
Se for à frente, já vislumbrar cruzar com Pironkova nas quartas. Superando a falta de ritmo de competição mas com jogo muito sólido, a búlgara atropelou Donna Vekic e segue sem perder set. Enfrenta agora a encardida Alizé Cornet, que viu Madison Keys desistir no segundo set. Este era o único Slam onde a francesa de 30 anos e ex-11 do ranking nunca havia chegado na quarta rodada.
A excelente sequência de vitórias e atuações convincentes seguem para Azarenka, que vai enfrentar a quarta adversária com menos de 25 anos no torneio. Passou com autoridade pela boa polonesa Iga Swiatek e precisa de cuidado com Karolina Muchova, quadrifinalista de Wimbledon no ano passado e responsável pela queda de Venus Williams logo na estreia.
O caminho de Vika promete encarar outra jovem, e das mais perigosas, antes de um possível duelo de mães. Sofia Kenin fez nesta noite seu jogo mais duro do torneio e precisou equilibrar melhor o dueto ataque-defesa diante do jogo versátil de Ons Jabeur. O histórico diante de Elise Mertens é de duas vitórias, porém sempre de virada. Então não pode vacilar.
E o Brasil avança
Dois excelentes resultados para o tênis brasileiro em Flushing Meadows. Luísa Stefani e a parceira Hayley Carter tiraram as cabeças 6 num jogo apertado, com destaque para o excelente trabalho de rede da paulista.
Com isso, ela é a primeira brasileira nas quartas de um Grand Slam desde 1982, quando Patrícia Medrado e Cláudia Monteiro chegaram tão longe em Wimbledon. A última semi coube a Maria Esther Bueno, quando ganhou as duplas de Forest Hills em 1968, aliás seu único título de Slam na Era Profissional.
Bruno Soares e o croata Mate Pavic obtiveram outro grande resultado na difícil chave que ocupam, ao tirar o dueto norte-americano liderado por Jack Sock. Agora, eles enfrentam justamente a dupla britânica que tirou Marcelo Demoliner, formada por Jamie Murray e Neal Skupski.