A chuva permitiu ao Fóro Itálico um momento inédito: assistir aos três maiores tenistas da história jogar duas vezes no mesmo dia, numa rodada que durou mais de 13 horas. E como foi espetacular. Novak Djokovic manteve o embalo de Madri e engoliu os adversários, Rafael Nadal não quis saber de brincadeira e cedeu dois games em quatro sets, Roger Federer brindou sua volta a Roma com máximo empenho numa partida disputada palmo a palmo com o valente Borna Coric, com direito a match-point para os dois lados.
Aliás, outros dois ‘trintões’ brilharam. Aos 35, o canhoto Fernando Verdasco sobreviveu a seis sets, eliminou primeiramente Dominic Thiem, que vinha sendo o destaque da temporada de saibro, e depois virou o jogo contra Karen Khachanov, num total de quase 5 horas de esforço. Quanta vontade de vencer. E Juan Martin del Potro, que se dizia em dúvida sobre sua capacidade de jogar bem outra vez sobre o saibro, passou por David Goffin e Casper Ruud com grande autoridade e uma torcida muito animada.
Djokovic reencontra Delpo no encerramento da rodada de sexta e é favorito, não apenas pelos 15-4 geral e 3-0 no saibro, mas pelo momento incerto do argentino. Pela manhã, Nadal tem vantagem ainda maior sobre Verdasco, de 16-3, mas pode ser um jogo divertido.
Fica a expectativa para ver como Federer irá se recuperar fisicamente – ficou 3h51 em quadra hoje – para encarar Tsitsipas e quanto cada um vai aguentar o duelo lá do fundo de quadra. É o terceiro jogo entre eles, todos em 2019. Por fim, abrindo o dia, Kei Nishikori busca repetir a semi de três anos atrás contra Diego Schwartzman, que enfim mostra sua capacidade sobre a terra. O japonês nunca perdeu, mesmo fazendo dois confrontos no saibro.
A rodada feminina foi um tanto inesperada, com queda de Simona Halep e abandonos de Petra Kvitova e Garbine Muguruza. Assim, as atrações das quartas de final ficam para a revanche entre Karolina Pliskova e Vika Azarenka (a tcheca venceu apertado em Stuttgart semanas atrás) e a briga direta entre Naomi Osaka e Kiki Bertens, campeã de Madri e já terceira do ranking. A japonesa chega nas quartas pelo terceiro torneio seguido no saibro (fez semi em Stuttgart), o que prova evolução diante das 5 vitórias de 2018.
O triste caso Kyrgios
Mais uma vez, a ATP tem a oportunidade de invocar seu próprio regulamento para dar uma punição exemplar a Nick Kyrgios. Está escrito lá: o tenista está passível de penalidade caso ateste contra a integridade do esporte. Oras, e o que o australiano fez hoje em Roma? No dia em que o Big 3 deu um show de competência, seriedade e qualidade técnica, foi seu comportamento nefasto que virou manchete pelo mundo. Existe algo mais triste para macular a imagem do tênis?
Claro que a ATP tem que mexer também no bolso do rapaz, sempre uma penalidade que atormenta qualquer tenista, que detesta gastar centavos: foram retirados dele os 33 mil euros de premiação, que se soma à multa de outros 20 mil e à perda da gratuidade de hospedagem, o que deve gerar um prejuízo de 55 mil euros. Isso é justo, mas não o bastante.
Li um abalizado comentário que reforça ainda mais a “integridade do esporte” afetada. Kyrgios é adorado pela maioria das crianças e não se pode admitir que tal comportamento em quadra as influencie. Para o bem das futuras gerações, é preciso mostrar a todos que existe um claro limite. Kyrgios já ultrapassou todos.
Como já disse antes aqui, a ATP no fundo é a maior culpada pela situação. Teve inúmeras chances de brecar o australiano, e não o fez. Criticar gratuitamente parceiros de profissão, entre eles o número 1 do mundo, e dizer que venceu um torneio indo para baladas até 4h30 da manhã definitivamente não combinam com a honradez secular do tênis.
Seu estilo genial não recompensa o esporte na mesma proporção que suas atitudes e palavras trazem noticiário tão negativo.