Ainda que a pandemia permaneça um fantasma a assombrar a Europa e o esporte, o calendário do saibro europeu deu largada nos moldes quase normais e o secular torneio de Monte Carlo – que na verdade é disputado em território francês – retomará seu papel de primeiro grande desafio a partir deste domingo. Não terá público, mas reunirá oito dos top 10 e especialmente Rafael Nadal e Novak Djokovic, que juntos venceram 13 das últimas 15 edições.
É bem verdade que Monte Carlo raramente foi uma referência ideal para Roland Garros. Além de acontecer após longa jornada sobre quadra dura, algumas delas bem velozes, exige que todos se adaptem à superfície considerada a mais lenta de todo o circuito, onde o verão australiano e o calor da Califórnia e da Flórida são de repente substituídos por um clima congelante, como será ao longo da semana, em que se prevê máxima de 15 graus. Mas o Masters do Principado tem importância inquestionável quando se trata de dar confiança e avaliar o que cada um vai precisar evoluir ao longo das próximas semanas.
Impossível tirar o favoritismo inicial de Nadal e Djokovic, mas curiosamante os dois não jogam desde o Australian Open, ambos se preservando por questões médicas. O espanhol saltou Acapulco e Miami e portanto devemos considerar que sua contusão lombar foi realmente grave, já que ele se afastou da liderança e acabou superado por Danill Medvedev no ranking. Nole também precisava cuidar da pequena ruptura abdominal, porém a parada certamente foi bem menos dolorosa para quem saiu de Melbourne com um título tão suado e importante.
Dominic Thiem, ainda o tenista que reúne as maiores qualidades para competir com Rafa e Djoko no saibro, não jogará, porém há esperança de alguns duelos exigentes para os dois. O cabeça 1, por exemplo, pode estrear contra Jannik Sinner e e em seguida ser desafiado por Hubert Hurkacz, justamente os recentes finalistas de Miami. O italiano nasceu sobre o saibro e já ganhou de nomes como Alexander Zverev, Stefanos Tsitsipas e David Goffin, porém o currículo em torneios grandes ainda é pequeno. O polonês deve estar com o moral nas alturas, mas soma apenas 8 vitórias em 22 jogos sobre a terra em eventos de peso, ainda que tenha vencido Andrey Rublev e dado trabalho a Diego Schwartzman em Roma do ano passado.
A reta de chegada de Djokovic poderá cruzar com o próprio Zverev, nome de inegável competência no piso, e na sequência Tsitsipas ou Matteo Berrettini. Nesse quadrante estão alguns nomes que merecem muita atenção: Lorenzo Musetti e sua estreia justamente contra Aslan Karatsev; assim como Felix Aliassime, que acabou de anunciar Toni Nadal como novo treinador e terá como primeiro adversário Cristian Garin, saibrista autêntico. Vai ser divertido. Talento puro, Musetti parece cru demais para aventuras desse porte.
O início da caminhada de Rafa é na teoria muito mais tranquilo. Não imagino que Adrian Mannarino ou Grigor Dimitrov sejam adversários à altura em condições tão lentas. Quem sabe, um qualificado, adversário de Mannarino, possa testar melhor o espanhol na sua estreia. Depois, a lógica aponta Andrey Rublev ou Roberto Bautista nas quartas, novamente dois jogadores que teriam de achar soluções muito perfeitas. Eles têm até títulos na terra, mas em eventos de categoria inferior. Sabem quantos games Bautista tirou de Nadal em três duelos e sete sets sobre o saibro? 14.
O último quadrante é mais aberto. Schwartzman me parece o grande candidato do setor, ainda que não se possa desprezar totalmente Medvedev ou o atual campeão Fabio Fognini. O número 2 do mundo no entanto ainda tem muito a provar no saibro, lugar onde só ganhou 10 partidas de ATP na carreira. Sua isolada campanha nobre foi justamente em Monte Carlo de 2019, em que assombrou ao tirar Djokovic nas quartas antes de parar em Dusan Lajovic. Excepcional na superfície, Fognini anda numa fase muito ruim e levou uma surra em Marbella ontem diante de Jaume Munar.
Jogos imperdíveis de primeira rodada, a ser disputada domingo e segunda, que recomendo: Sinner x Ramos, Musetti x Karatsev, Aliassime x Garin, Ruud x Rune, Khachanov x Djere, Fognini x Kecmanovic, Bautista x Fritz e Davidovich x De Minaur.