Não bastasse Novak Djokovic estar recuperando a cada dia sua grande forma e ao mesmo tempo ter surgido um audacioso Carlos Alcaraz decididamente perigoso, Rafael Nadal ganhou nova preocupação, e talvez esta ainda maior. Apenas cinco jogos depois da parada forçada para tratar de uma fratura na costela, o problemático pé esquerdo voltou a limitar o espanhol e contribuiu sobremaneira para sua eliminação nas oitavas de final de Roma, onde defendia o título do ano passado.
Rafa já deixou claro que é uma lesão crônica, portanto não há tratamento possível. Resta conviver com isso. Como já explicou antes, nem é uma questão de economizar calendário ou treinos. A dor de repente aparece e o atrapalha. Foi exatamente o que aconteceu nesta quinta-feira diante de Denis Shapovalov. Depois de um primeiro set avassalador, veio uma queda no começo da outra série e uma ligeira recuperação, mas já se percebia que aquele Nadal não era o mesmo, mais atrasado para arrancar e muito errático. Ainda saiu com quebra no terceiro set, porém não sustentou e daí em diante foi dominado por um adversário que soube conduzir o momento de forma taticamente esperta.
Eis que o ‘rei do saibro’ passa a ser uma grande incógnita para Roland Garros. Agora, nem é mais uma questão de discutir quem é mais favorito mas de perguntarmos o quanto ele conseguirá se recuperar nos 10 dias que faltam para o Aberto francês e em que medida sua confiança estará abalada. Porque, como todos sabemos, a parte atlética é componente essencial de seu plano de jogo. Será que Nadal se submeterá a infiltrações sucessivas para sua cabeça não desviar o foco? É de se esperar que seus adversários, desde a primeira rodada, ganhem inesperado ânimo. O clima desta noite na entrevista oficial do espanhol era melancólico e ele chegou a insinuar a aposentadoria.
Enquanto isso, Djokovic fez um treino de luxo contra Stan Wawrinka, que apesar de alguns ótimos lances mostra-se obviamente muito longe de estar competitivo num nível alto. No jogo que vale a permanência como número 1, enfrentará pela primeira vez Félix Auger-Aliassime, o novo pupilo de Toni Nadal, que não tem no saibro seu piso mais favorável. Mas será interessante ver se o canadense trará alguma coisa diferente para a quadra, já que a princípio trocar pancadaria da base pouco o beneficiará.
Se vencer, Nole poderá chegar no sábado em condição de anotar a histórica 1.000ª vitória da carreira contra Shapovalov ou Casper Ruud, duelo que revive a final de Genebra do ano passado vencida em dois sets pelo norueguês. Ele aliás precisa desesperadamente de uma grande campanha em Roma para sepultar as últimas semanas e chegar renovado a Paris.
O lado inferior da chave verá o segundo duelo entre Alexander Zverev e Cristian Garin e um imperdível reencontro entre Stefanos Tsitsipas e Jannik Sinner, o terceiro que acontecerá em Roma, com uma vitória para cada lado. Se o alemão leva certa favoritismo devido ao momento instável do chileno, ainda inseguro com o cotovelo, não dá para apostar no grego depois dos altos e baixos contra Grigor Dimitrov e Karen Khachanov. O italiano receberá apoio maciço da torcida mas nunca fez uma semi de Masters sobre o saibro. No ano passado, ganhou só um jogo em cada um deles e agora já fez quartas em Madri e oitavas em Monte Carlo.
Iga sobra na turma
O torneio feminino continua sendo um grande desfile de Iga Swiatek. É bem verdade que sofreu no começo do jogo contra Vika Azarenka, mas a partir do momento em que cortou os erros a polonesa deu outro grande espetáculo, com golpes muito agressivos tanto na cruzada como na paralela. A número 1 está claramente sobrando na turma e é de se esperar que some a 26ª vitória e quinta semi consecutivas contra Bianca Andreescu.
Tenho gostado também de Aryna Sabalenka. Sempre correndo riscos, mas menos ansiosa e se perdoando mais. Terá agora um teste de fogo diante de Amanda Anisimova, para quem perdeu todos os quatro confrontos, incluindo sobre o saibro. Não temos imperdível será a embalada Ons Jabeur contra Maria Sakkari, duas jogadoras de potencial comprovado mas que ainda pecam no emocional. Por fim, Paula Badosa causou nova decepção, foi incrivelmente instável e parou em Daria Kasatkina, que enfrentará a surpresa Jil Teichman.
O grande momento de Bia
Há uma enorme chance de Bia Haddad Maia chegar ao 50º lugar do ranking caso vença nesta sexta-feira a francesa Elsa Jacquemot, 229º do mundo, nas quartas de final do WTA 125 de Paris. As projeções apontam que ela totalizará 1.120 pontos e não poderá ser superada por concorrentes em ação nesta semana.
Caso isso aconteça, Bia será a quinta profissional brasileira a atingir o prestigiado grupo, juntando-se a Maria Esther, Niege Dias, Teliana Pereira e Patrícia Medrado. A última vez que um tenista nacional entrou de forma inédita no top 50 foi em 2015, com a mesma Teliana. O eventual título da canhota paulista em Paris a levará ao 41º posto.
Torçamos