Mesmo sem ter jogado qualquer partida preparatória e apesar de seu parco histórico na grama, Iga Swiatek terá novamente todos os holofotes da chave feminina de Wimbledon. A polonesa tem se mostrado tão superior às adversárias no piso duro e no saibro que restam poucos argumentos às demais concorrentes.
Campeãs como Petra Kvitova e Simona Halep, a versátil Ons Jabeur e a embaladíssima Beatriz Haddad Maia se mostraram as adversárias de maior gabarito. ao menos antes de a primeira bola ser lançada ao ar no All England Club. Gente de ranking alto, como Paula Badosa, Maria Sakkari e Garbiñe Muguruza, estiveram abaixo da crítica. Anett Kontaveit, Danielle Collins e Jessica Pegula optaram por ir direto a Wimbledon.
Swiatek tem mostrado grande trabalho de pernas e força nos golpes, com especial dedicação às devoluções agressivas. Isso já é mais do que suficiente para competir bem na grama, ainda que não assustará se ela encontrar certa dificuldade nas primeiras rodadas. Jabeur tem muito menos força, mas os slices lhe garantem versatilidade necessária no piso. Kvitova possui o jogo perfeito para a grama, ainda que se mexa um pouco pior, e é talvez nesse mesmo padrão que devamos encaixar Bia, que fica um ou dois passos atrás por sua menor experiência. Halep é o tipo de jogadora que consegue fazer de tudo e só tem deficiência a explorar quando precisa jogar muito com o segundo saque.
Em sua segunda participação no torneio, tendo sido oitavas em 2021, a líder disparada do ranking pode ter algum trabalho com Yulia Putintseva antes de oitavas mais quentes diante de Jil Teichmann ou Barbora Krejcikova. A maior candidata a sua adversária nas quartas é Jessica Pegula.
Halep e Kvitova ficaram no forte segundo quadrante, podem duelar já nas oitavas e portanto uma delas tende a cruzar com Iga na penúltima rodada. Nesse setor, ficaram também Serena Williams, a atual vice Karolina Pliskova e as jovens Cori Gauff e Amanda Anisimova. Se já era difícil para Serena voltar depois de um ano, a tarefa fica hercúlea numa chave desse quilate. Mas pode ao menos chegar na terceira rodada e não seria impossível bater Pliskova.
O lado inferior da chave coloca Ons Jabeur e Maria Sakkari com maior favoritismo do que Anett Kontaveit e Danielle Collins entre as tenistas de nível top 10, e ali também ficou a estrela da casa Emma Raducanu, que estreia nesta segunda-feira contra a perigosa Alison van Uytvanck. A tunisiana tem Kaia Kanepi e Angelique Kerber antes de chegar em Collins, Raducanu, Madison Keys ou Alison Riske.
O que nos interessa muito, claro, é o quarto quadrante da chave. Bia tem uma estreia perigosa contra a jovem Kaja Juvan, a quem venceu duas vezes mas a eslovena fez terceira rodada em Wimbledon no ano passado com vitória sobre Belinda Bencic, a mesma habilidosa suíça que poderá ser a terceira adversária da canhota brasileira. Bencic se contundiu na final de Berlim há uma semana e ganhou o único duelo contra Bia em janeiro.
Dá facilmente para acreditar nas chances de Bia chegar nas oitavas, o que seria então o maior resultado nacional em Wimbledon desde André Sá (2002) e das meninas desde Maria Esther (1976). E aí o caminho parece aberto, porque não dá para apostar em Kontaveit e pode aparecer Anhelina Kalinina ou Lesia Tsurenko. Por fim, Maria Sakkari e Jelena Ostapenko devem brigar pela vaga e, evidentemente, a torcida seria por Sakkari reencontrar Bia. A brasileira foi muito elogiada por Kvitova depois da revanche que a tcheca conseguiu em atuação impecável na semi de Eastbourne, onde depois faturou o título.
Laura Pigossi enfim jogará seu primeiro Slam. Começa contra a eslovaca Kristina Kucova, de 32 anos e atual 90 do mundo e, se surpreender, enfrentará Shelby Rogers ou Petra Martic. A paulistana de 27 anos é atual 124 do mundo. O Brasil não tinha duas tenistas na chave principal desde 1988, com Patrícia Medrado e Gisele Miró.
E mais
- Os campeões da 135ª edição do The Championships, a 54ª da Era Profissional, embolsarão 2 milhões de libras. Quem perde na primeira rodada já leva 50 mil, nada desprezíveis R$ 320 mil.
- Este será o primeiro Slam desde o Australian Open de 1999 sem os dois líderes do ranking. Isso nunca aconteceu em Wimbledon desde o uso do ranking, a partir de 1974.
- Se vencer sua estreia nesta segunda-feira, Djokovic se tornará o único tenista, homem ou mulher, com ao menos 80 vitórias em cada Slam. Ele tem 79 em Wimbledon, 85 em Paris, 82 na Austrália e 81 nos EUA.
- Aos 36 anos e 34 dias, Nadal concorre a ser o mais velho campeão profissional de Wimbledon, marca que pertence a Federer, com 35 anos e 342 dias. E iguala feitos de Laver (1969) e Djokovic (2021) de erguer os três primeiros troféus de Slam de uma temporada.
- Ao disputar seu 20º Wimbledon, Feli López repete Connors e atinge os mesmos 81 Slam de Federer, que jogou 22 vezes no Club. Aos 40 anos e 293 dias, López também é o mais velho a jogar desde Fraser, em 1975, aos 41.
- O último tenista a ganhar Wimbledon na primeira participação foi Dick Savitt, em 1951.
- Apenas quatro campeões juvenis chegaram ao título principal masculino (Borg, Cash, Edberg e Federer) e três no feminino (Hingis, Mauresmo e Barty).
- Com 365, Serena está apenas a quatro vitórias do recorde absoluto de Slam de Federer. E faltam dois para fazer contagem centenária em Wimbledon.
- Rafael Matos chegou a seu quarto ATP, o mesmo número de Marcelo Demoliner, e é agora top 40, superando Marcelo Melo. A campanha na grama de Mallorca foi surpreendente. Ele e o espanhol Vega serão cabeças em Wimbledon, mais um marco na carreira do canhoto gaúcho de 26 anos.
- Enquanto a chave masculina tem 5 campeões de Slam, três doa quais com título em Wimbledon (Djoko, Nadal e Murray), há 11 vencedoras de Slam na chave feminina, cinco delas com triunfo no Club (Halep, Kerber, Muguruza, Serena e Kvitova).
- Cornet empata com Ai Sugiyama em Slam consecutivos, com 62.
- Em 122 edições da chave feminina, apenas 11 países chegaram ao título. Entre eles, o Brasil de Maria Esther.