O saibro de Madri é definitivamente fora do padrão.
Se de um lado permite a John Isner disparar média de 30 aces por jogo, de outro se vê Daniil Medvedev e Alejandro Davidovich permitirem 24 break-points. Num duelo entre dois saibristas espanhóis autênticos, Rafael Nadal e Carlos Alcaraz só disputaram 11 pontos com mais de nove trocas de bola.
Pode acontecer qualquer coisa, e assim favoritismo se torna uma palavra ainda mais temerosa do que o normal. Ao olhar o interessantíssimo quadro de oitavas de final masculinas, onde existe praticamente um tenista da nova geração por partida, Nadal parece ser a única aposta certa.
O pentacampeão, embalado pelo título de Barcelona, não fez mais do que um treino de adaptação diante de Alcaraz. A promessa, no dia de seu 18º aniversário, jogou de forma afobada e imprecisa, tendo ainda o azar de sentir um desconforto muscular lá no terceiro game. Viveu alguns belos momentos e até roubou um game de serviço, mas no geral foi um passeio de Nadal.
Seu adversário é Alexei Popyrin, apenas dois anos mais velho que Alcaraz e que chegou a Madri com três vitórias no saibro no currículo antes de ganhar duas vezes no quali e mais duas na chave principal. E não foi pouca coisa: tirou o experiente Jan-Lennard Struff e o ascendente Jannik Sinner, mesmo com índice apenas razoável de primeiro saque e quatro quebras de serviço permitidas. Porém, já soma 22 aces. Ou seja, gosta de viver perigosamente. E terá de adotar tal tática para equilibrar contra Nadal.
O restante da rodada é uma bela loteria. Claro que Dominic Thiem é superior a Alex de Minaur no saibro, no entanto ainda é cedo para saber se o austríaco recuperou ritmo e confiança. Medvedev foi do céu ao inferno contra Davidovich, com direito a declaração de ódio ao saibro no fim do primeiro set e uma de amor depois de completar a virada, e assim há incertezas de como reagirá ao tênis muito mais sólido de Cristian Garin.
Isner bombardeou Miomir Kecmanovic com 28 aces e fez mais 32 na duríssima vitória sobre Roberto Bautista, jogando três tiebreaks em cinco sets disputados. Andrey Rublev está num momento muito mais positivo. Contra si, o fato de ter sofrido para segurar a cabeça diante de Tommy Paul e isso não é bom sinal quando se imagina que vai enfrentar um adversário que exige conviver com a frustração o tempo todo.
Imperdível ver como Alexander Zverev vai cuidar das bolas baixas de Daniel Evans, um duelo que não acontece há quatro anos. O britânico sempre pinta como ‘zebra’ no saibro e já fez dois jogos bem duros em Madri: quase 3 horas para tirar Jeremy Chardy e outras 2h35 frente John Millman. Também temos de considerar Matteo Berrettini muito favorito sobre Federico Delbonis. O argentino, lembremos, adora um saibro mais veloz e foi brilhante contra Pablo Carreño e Albert Ramos.
Tenista que mais rodou o saibro até agora, Stefanos Tsitsipas atropelou na estreia e só permitiu 54 minutos a Benoit Paire, excelente para economizar energia. Encara Casper Ruud, um saibrista nato a quem falta ainda consistência. Mas estou mesmo curioso para rever Aslan Karatsev depois da virada espetacular que protagonizou diante de Diego Schwartzman. O russo só perdeu seis pontos quando acertou o primeiro serviço nos dois sets finais. Não dá no entanto para menosprezar o poder de fogo e a ousadia de Alexander Bublik, dono de saque poderoso e de jogadas insólitas.
Haverá tênis para todos os gostos nesta quinta-feira em Madri e você tem muitas opções para torcer. Eu particularmente gostaria demais de ver Thiem x Rublev, Tsitsipas x Karatsev, Nadal x Evans e Medvedev x Berrettini nas quartas.