Rafael Nadal continua longe de seu melhor tênis sobre o saibro e com isso está aberta a porta para que Alexander Zverev e especialmente Dominic Thiem abracem uma muito bem vinda reação na temporada. Zverev até fez quartas no Australian Open e ganhou um ATP 500 semanas atrás em Acapulco, mas isso diante de intensos altos e baixos. Thiem então nem se fala. Chegou a Madri com apenas cinco vitórias desde janeiro, saindo de contusão e se admitindo desmotivado.
Os dois farão batalha direta pelo direito de decidir o título no domingo, e há muita história por trás desse duelo. Zverev conquistou o torneio em 2018 justamente em cima do austríaco – não foi quebrado durante toda a semana -, mas no geral leva ampla desvantagem de 8 derrotas em 10 confrontos. Será também a primeira vez que se cruzarão desde a maluca final do US Open, em que o alemão esteve dois sets e uma quebra à frente antes de permitir a virada. Coloque-se ainda na balança que Zverev ergueu três troféus em sete finais de Masters, tendo vencido dois deles no saibro, enquanto a conquista solitária de Thiem veio no sintético e seus dois vices foram justamente em Madri.
Ambos têm motivo para chegar com moral elevado à penúltima rodada, já que fizeram ótimas apresentações nas quartas de final. Zverev derrotou Nadal pela terceira vez seguida sem perder set, a primeira no saibro e ainda por cima na casa do espanhol. Achei curiosa a entrevista de Rafa, em que diz não saber exatamente como perdeu o jogo. É verdade que sacou com 4/2 no primeiro set, seu único momento realmente lúcido em quadra, mas deixemos os números falarem: 2-12 em winners nesse primeiro set e 4-16 no segundo. Não dá para ser feliz assim, convenhamos.
E como Zverev chegou a estatística tão expressiva? Aproveitando-se das bolas curtas de Nadal, principalmente nas devoluções, que facilitavam ao alemão pegar na subida e disparar para os cantos. Assim que recuperou a quebra, com duas passadas consecutivas em subidas afoitas do espanhol, a confiança do alemão foi às nuvens e seu primeiro serviço a 220 km/h de média fez estragos constantes. Perdeu apenas seis pontos com ele – dois no segundo set -, finalizando com 82% de sucesso. Ao observar que Nadal sofreu muito em três games de serviço na segunda parcial, permitindo break-points em todos eles, fica ainda mais fácil entender o placar.
Já o grande mérito de Thiem é que ele soube sofrer, sem se desesperar. Quando se encara um grande sacador, a primeira coisa que se precisa cuidar é do próprio serviço, porque as chances de recuperação serão sempre pequenas. O austríaco não fez isso, perdeu logo o primeiro game de saque, e aí ficou na pressão. Por muito pouco, o jogo não escapou, mas ele conseguiu sobreviver a 10 minutos de um tenso quinto game de segundo set, em que Isner arriscava tudo nas devoluções e teve quatro break-points. Thiem se manteve frio e foi premiado com uma quebra de zero imediata e daí em diante achou oportunidades para manter a bola longe do norte-americano, que foi se cansando pouco a pouco.
A outra semifinal envolverá mais dois bons sacadores, que fazem de tudo para comandar os pontos com o forehand. Casper Ruud já esteve na semi de Roma no ano passado, mas este é sem dúvida o grande momento de sua curta carreira. Aos 22 anos, já garantiu salto para o 16º lugar do ranking. o que pode lhe valer ótima condição de cabeça de chave em Roland Garros. Embora menos experiente que o italiano Matteo Berrettini, que tem três de seus quatro ATPs sobre o saibro e acaba de ganhar Belgrado, o norueguês ganhou os dois duelos que fez diante do italiano no saibro, um em Roma e outro em Roland Garros, torneios de evidente relevância.
Ruud manteve contra Alexander Bublik o excelente padrão que mostrou ao longo da semana, em que venceu com sobras Felix Aliassime e Stefanos Tsitsipas. O cazaque até deu trabalho no primeiro set, usando o máximo de seu tênis variado, tendo até chance de saltar a 5/3, mas depois de levar a quebra que determinou a vantagem definitiva de 7/5 desabou diante do tênis sólido do adversário. Detalhe interessante, Ruud tem 1,83m, estatura apenas mediana para o tênis atual, mas saca com qualidade. Cometeu apenas quatro erros na partida. Na véspera contra Tsitsipas, haviam sido meros 12.
O jogo entre Berrettini e Cristian Garin reeditou aquelas coisas inexplicáveis do tênis. O chileno ganhou um equilibrado primeiro set e abriu 3/1 no segundo, com autoridade. Aí entrou em completo parafuso. Não sacou mais nada, cometeu erros de toda a sorte no fundo de quadra, fez escolhas no mínimo impróprias e conseguiu a proeza de perder todos os games seguintes. Isso mesmo, 11 games! Claro que o italiano jogou bem mais solto a partir do final do segundo set, fazendo mais com o saque e assim obtendo maior agressividade. Entrevistado em quadra, admitiu não ter entendido nada. Imaginem então Garin.
Por fim, vale destacar este dado publicado no Twitter.
Players to beat Federer on grass, Nadal on clay and Djokovic on hard:
– Andy Murray
– Dominic Thiem
– Alexander Zverev— Oleg S. (@AnnaK_4ever) May 7, 2021