Daniil Medvedev conseguiu uma vitória para lá de heroica. Sem mostrar seu melhor tênis, sufocado por um determinado e eficiente Felix Aliassime, o russo escapou da eliminação que parecia inevitável, suportou a pressão da torcida e admitiu ter sido favorecido pelo fechamento do teto justamente durante o tiebreak decisivo do terceiro set. Ainda assim, teve de encarar um match-point e evitou sucessivos breaks na última série. Esse Urso é duro de matar.
Aliassime merece todos os elogios, porque fez exatamente o que tinha de fazer. Foi agressivo o tempo todo, o que obviamente lhe custou muitos erros não forçados – principalmente no quinto set onde o cansaço era evidente -, mas lhe deu a oportunidade de estar na semifinal. Sacou bem e com inteligência, fez ótimas transições à rede com incríveis 41 pontos de 48 tentativas e usou o forehand na paralela como meio de desestabilizar Medvedev. Lutou com todas as forças e recursos numa maratona de 4h42.
Medvedev pareceu ter sido pego de surpresa com a tática adotada pelo canadense no começo da partida, já que recebia bolas muito anguladas na direita e deixava o outro lado descoberto. E falhou feio na hora da pressão, com duplas faltas comprometedoras. A coisa piorou no segundo set, porque Aliassime se mantinha muito confiante a ponto de perder apenas quatro pontos com o serviço.
O russo evitou quebra que seria desastrosa no começo do terceiro set e só conseguiu abafar o ritmo do jovem adversário quando o teto fechou no terceiro ponto do tiebreak. Com o piso um pouco mais veloz, o saque de Medvedev cresceu e foi exatamente um ace que o salvou da derrota no 10º game do quarto set. Imediatamente, Felix jogou seu pior game até então e o russo enfim empatou apesar de se mostrar apressado e ansioso.
O nível físico e consequentemente de precisão caíram no quinto set, principalmente do lado de Aliassime, que fez então apenas 6 winners e 16 erros, perdendo agora a maioria das trocas mais longas. Ainda assim, teve seis break-points e ao menos num deles a bola estava na mão. Sofreu uma quebra boba logo no terceiro game e quase reagiu no final. Medvedev afirmaria minutos depois que se inspirou nas grandes viradas do número 1 Novak Djokovic e deixou um recado claro na lente da câmera: “Não estou cansado”. Esta foi apenas sua terceira vitória em quinto sets em 10 partidas na carreira e a segunda virada de 0-2, como aconteceu contra Marin Cilic em Wimbledon-2021.
Portanto, Stefanos Tsitsipas que se cuide. O grego deu um salto de qualidade e atropelou de forma um tanto inesperada o italiano Jannik Sinner sem ter o saque ameaçado uma única vez e, mais notável, aproveitando sem pestanejar os quatro break-points que construiu. Nem sacou tão bem, mas o fato é que a mão estava abençoada e permitiu quase o dobro de winners (30 a 16) diante de um adversário um tanto passivo. No único jogo da rodada a não chegar ao quinto set, Stef economizou energia e manteve a sina de vencer todas as cinco quartas de Slam que já disputou.
Medvedev e Tsitsipas vão assim repetir a semi do ano passado, amplamente dominada pelo russo. Stef só venceu dois dos oito duelos, porém o mais recente, nas quartas de Roland Garros. O grego busca a segunda final de Slam e o russo, a quarta. Tanto um como o outro têm histórico negativo contra Rafael Nadal (1-3 e 2-7) e vantagem sobre Matteo Berrettini (3-0 e 2-0). É fácil imaginar para quem vão torcer.
Qualquer que sejam os vencedores de sexta-feira, haverá história no Melbourne Park. Tsitsipas e Berrettini buscam seu primeiro Slam após ter feito finais inéditas em 2021; Medvedev está a dois jogos do número 1 e Rafa, a dois do 21º Slam.
Swiatek também vira
Num jogo tecnicamente fraco mas cheio de emoções e reviravoltas, a polonesa Iga Swiatek reagiu em cima da veterana Kaia Kanepi em duelo de 3 horas sob calor de 32 graus para marcar sua maior campanha de Slam numa quadra dura. Ela também havia perdido o primeiro set no jogo anterior, diante de Sorana Cirstea, e terá missão difícil na semi contra a agressiva norte-americana Danielle Collins já na manhã desta quinta-feira.
A campeã de Roland Garros cometeu 50 erros, sendo 12 duplas faltas, mas ainda foi superior às 62 falhas de Kanepi. A estoniana de 36 anos chegou a sair o segundo set com quebra. O único título no piso sintético de Swiatek veio em fevereiro do ano passado em Adelaide, mas ela jura que está se sentindo cada vez mais à vontade.
Collins fez uma partida bem mais compacta contra Alizé Cornet, arriscou o tempo todo como de hábito e mostrou o backhand tão incisivo. Aos 28 anos, faz sua segunda semi de Slam e no Australian Open. O único confronto com Swiatek foi justamente em Adelaide de 2021.
A quinta-feira também terá a outra semi, em que a número 1 do mundo Ashleigh Barty entra com amplo favoritismo diante da norte-americana Madison Keys, ainda que o histórico seja apertado, com 2 a 1. Barty tenta ser a primeira australiana na final desde Wendy Turnbull em 1980. As duas são as líderes de aces no torneio (35 de Keys e 30 de Barty), mas a australiana venceu 82% de seus games de serviço e a norte-americana, 72%.
Bia na luta pela história
Como bem destacado por Mário Sérgio Cruz em TenisBrasil, Beatriz Haddad Maia joga às 21 horas desta quarta-feira para se tornar a terceira brasileira numa final de Grand Slam, repetindo a multicampeã Maria Esther Bueno e a vice de mistas em Roland Garros de 1982, Claudia Monteiro.
As adversárias são as mesmas que Bia e Anna Danilina derrotaram há duas semanas rumo ao título de Sydney, as japonesas e cabeças 2 Shuko Aoyama e Ena Shibahara. Se vencerem, há uma grande chance de a disputa pelo título ser diante das favoritas Barbora Krejcikova e Katerina Siniakova, na madrugada de domingo.