Na quarta-feira em que o número 1 do mundo Novak Djokovic deu show e avançou às semifinais do Masters de Flushing Meadows, a sensação aconteceu fora da quadra. Totalmente engajada com o movimento antirracista nos EUA, Naomi Osaka aderiu ao protesto do basquete e do beisebol e anunciou que não irá tentar vaga na decisão do Premier, abandonando a disputa em que era ampla favorita. “Há coisas mais importantes no momento do que me ver jogando”. Notável atitude.
Final do dia, ATP e WTA suspenderam a rodada de quinta, na esperança que Osaka ainda jogue. Vamos primeiro ao que aconteceu efetivamente com a bola rolando.
Com um tênis extremamente vigoroso e ainda assim consistente, Djoko deveria cobrar pela aula que ofereceu a Jan-Lennard Struff. Nem parecia que do outro lado da quadra estava o número 34 do ranking, dono de golpes poderosos, saque respeitável e voleios virtuosos. O show foi todo de Nole, que a cada dia mostra maior precisão e profundidade em suas bolas, com destaque todo especial para um forehand matador, especialmente os de paralela. A exibição foi tão rica que o número 1 jogou seguidos pontos junto à rede, como a ensinar ao adversário como é que se faz.
Apesar das 20 vitórias na temporada, 9-0 em tiebreaks e 7-0 em jogos contra top 10, Djokovic sabe que não pode vacilar contra o velho conhecido Roberto Bautista, contra quem tem 9 a 3 nos duelos mas sofreu duas derrotas no ano passado. O espanhol tomou 1/6 de Daniil Medvedev, não se abateu e reagiu. Fez alguns ajustes táticos, aventurando-se mais à rede, e não se desesperou ao perder o primeiro serviço do set decisivo. Está em sua terceira semifinal de Masters e será premiado com a volta ao top 10 se conseguir parar Djokovic. Terá importantes 24h de descanso.
Não menos notável foi a virada de Milos Raonic sobre o cada vez mais perigoso Filip Krajinovic. O sérvio teve o saque a favor para liquidar a partida, no que teria sido uma vitória estonteante, mas vacilou e o canadense abraçou a chance, crescendo de qualidade game a game, sem medo de forçar o saque e seu notável forehand. Salvou um match-point no terceiro set com coragem. Três games mais tarde, completou o placar com 53 winners, sendo 24 aces e 26 de direita. Mas note-se que Krajinovic cometeu apenas 17 erros no duríssimo jogo (fez aliás um só em todo o primeiro set).
Será mais um gigante no caminho do grego Stefanos Tsitsipas. Ele só jogou 11 games já que Reilly Opelka voltou a sentir o joelho direito e abandonou quando vencia por 6/5, um alívio para quem já teve de passar por Kevin Anderson e John Isner. Vale lembrar que Raonic tirou Tsitsipas nas oitavas do Australian Open de janeiro em sets diretos e hoje anotou as incríveis médias de 209 km/h no primeiro saque e 179 no segundo.
Vitória dupla de Osaka
Na quadra, a japonesa Naomi Osaka superou um considerável aperto, ao ver Anett Kontaveit sacar muito no primeiro set e abrir 2/0 no seguinte. Só então a japonesa achou o ‘timing’ perfeito e começou a disparar winners para garantir sua vaga na semifinal, onde deveria duelar contra a consistente belga Elise Mertens, a quem superou com sobras há 13 meses.
A ex-número 1 no entanto decidiu não ir à quadra para buscar um troféu importante, que seria o primeiro da temporada. Aderir ao movimento iniciado pelos atletas da NBA, que consideram até mesmo encerrar a temporada, cansados que estão da violência policial contra os negros no país. Osaka foi muito ativa durante todos os protestos dos últimos meses. Possivelmente, receberá críticas de torcedores e pressão de promotores e patrocinadores, porém a postura é coerente com tudo o que tem dito nas mídias sociais e, portanto, louvável.
Com o adiamento da rodada de quinta, fica a expectativa se ela recuará da decisão.
— NaomiOsaka大坂なおみ (@naomiosaka) August 27, 2020
Na outra semi. Victoria Azarenka continua sem perder sets, apesar de um jogo de altos e baixos na primeira série diante da versátil Ons Jabeur e seus slices venenosos. Precisou evitar quatro set-points, dois deles no tiebreak, e só então dominou. Destaque para seu baixo número de erros: 11 em 20 games.
Em sua primeira semi em 16 meses, reencontra a perigosa Johanna Konta, para quem perdeu 2 de 3 duelos. A britânica, também invicta em sets mas com um jogo feito a menos, também gosta dos pisos velozes e curiosamente vinha de derrota na estreia em Lexington. Vika não levanta um troféu desde a dobradinha Indian Wells-Miami de 2016. Konta venceu seu último também em Miami, mas de 2017. Devem estar sedentas pela oportunidade que caiu do céu.
Sorteio na quinta
A USTA realiza a cerimônia e faz a montagem das chaves de simples, masculina e feminina, do US Open às 13 horas desta quinta-feira.