Num passe de mágica, Novak Djokovic deixou as trevas de uma primeiro semestre desalentador para virar outra vez o grande nome do tênis do momento. Que transformação. Até Monte Carlo, o sérvio era um jogador tenso, irregular, apressado, lento, impreciso, sofrendo derrotas estranhas para adversários muito inferiores. Nos últimos três torneios, voltou a ser atlético, incansável, ousado, agressivo e alegre. E nesse estágio de corpo e alma é bem difícil segurá-lo.
Não tenho muita dúvida que o momento da virada de Djokovic aconteceu naquela semifinal espetacular de Wimbledon diante de Rafael Nadal. A vitória suada sobre o número 1, que vinha de uma arrancada notável ao longo do saibro, parece ter não apenas recuperado toda a confiança do sérvio, mas também lhe dado o desejo de reação. Dali em diante, com exceção natural no Canadá, Djoko só melhorou a cada semana.
Inegável também que essa evolução tem tudo a ver com seu aprimoramento físico, e aí é importante recordar entrevista de Marian Vajda em que o treinador disse que precisou convencer o pupilo a minimizar algumas condutas da dieta. Ao retomar a firmeza de pernas e a resistência, pudemos ver novamente aquele sérvio extremamente ágil e competente nos contragolpes a realizar uma cobertura impecável da quadra, o que geralmente leva o adversário ao risco cada vez maior.
Recuperado fisicamente, faltava a Nole acreditar em si e provavelmente Vajda teve toda a responsabilidade nisso. Depois de barrar Nadal em Wimbledon, voltando aos títulos de Grand Slam ainda sem mostrar seu melhor tênis, dominar Roger Federer para a conquista tão sonhada em CIncinnati selou a reação. Desde aquele domingo, ficou difícil duvidar de Nole. Ele teria ainda provação nas rodadas iniciais e infernais do US Open. O que vimos nesta semana em Xangai foi um desfile do melhor Djokovic.
Num momento tão espetacular e dominador do arqui-rival, parece pouco provável que Nadal ainda consiga se manter como número 1 nesta reta final de temporada, porque aí entram componentes essenciais: a falta de ritmo que o espanhol terá, já que não compete desde a queda em Nova York, e o histórico pouco expressivo de Rafa na quadra coberta europeia. Paris e Londres são justamente dois grandes títulos que jamais conquistou.
Borna Coric não repetiu nesta madrugada a atuação exuberante da véspera diante de Roger Federer, mas era previsível que o croata teria maior dificuldade para matar pontos diante do volume defensivo do adversário. Golpe por golpe, Djokovic tem tudo superior e isso ficou patente nos mínimos buracos que cedeu. Coric lutou muito e poderia ser recompensado por uma quebra no segundo set, mas falhou feio no único break-point que teve.
De qualquer forma, foi uma final intensamente disputada, com ótimos lances dos dois lados, e a certeza de que o croata evoluiu muito desde o ano passado, quando ouviu conselhos de Riccardo Piatti e adotou postura mais ofensiva. Ainda falta trabalhar mais o forehand, porém a projeção para seu futuro está bem mais promissora.
Melo de novo
O mineiro Marcelo Melo e seu parceiro polonês Lukasz Kubot conseguiram embalar. Conquistaram o segundo título seguido, obtendo duas vitórias sobre os líderes do ranking Marach/Pavic e outra neste domingo sobre Bruno Soares e o britânico Jamie Murray.
Com isso, Melo e Kubot assumem o terceiro lugar no ranking de parcerias da temporada e o quarto lugar no individual. Dificilmente no entanto conseguirão chegar à liderança, já que estão quase 2.200 pontos atrás de Marach/Pavic e a 2.700 de Mike Bryan.
Melo gosta mesmo do Oriente. É agora tri em Xangai (ganhou com Dodig e Klaasen) e soma um em Tóquio e outro em Pequim.
Detalhes
– Se Djokovic realmente retomar o número 1, marcará a maior ascensão de um tenista ao topo dentro de uma mesma temporada, já que era 22º em maio. O maior feito nesse aspecto cabe a Andre Agassi, que foi de 14º à ponta ao longo de 1999.
– Djokovic não perdeu um único de seus 47 games de serviço nesta semana. Ele disse após a estreia que nunca vira a quadra chinesa tão veloz.
– Sérvio tem 27 vitórias em seus últimos 28 jogos desde a estreia em Wimbledon e 18 de invencibilidade desde Cincinnati.
– Coric continua sua temporada de feitos particulares: fez primeira semi de Masters em Indian Wells, ganhou inédito ATP 500 em Halle, quebrou a barreira do top 20 em julho e será 13º nesta segunda-feira após a primeira final de Masters.
– Karolina Pliskova perdeu a final de Tianjin para Caroline Garcia e ainda não garantiu vaga no Finals. Terá de brigar em Moscou contra Kiki Bertens, mas precisa de muito pouco, já que Elina Svitolina não joga nesta semana.