O esperado reencontro entre Rafael Nadal e Carlos Alcaraz se concretiza em Indian Wells. Se dez meses atrás o pupilo de Juan Carlos Ferrero era apenas uma promessa talentosa, hoje o garoto de 18 anos já é considerado o mais provável súdito de Rafa, após um salto notável de resistência, velocidade, força e mão habilidosa.
A semifinal de sábado tem tudo para ser um eletrizante duelo entre duas gerações de espanhóis que jogam de forma claramente distinta mas que possuem como máxima a determinação ferrenha de lutar por cada ponto de maneira quase irritante e são dotados de recursos variados para optarem por diferentes e inesperadas táticas. Não dá para pedir mais.
O nono duelo entre Nadal e Nick Kyrgios foi além do que eu esperava, porque o australiano conseguiu resistir mental e fisicamente por quase três horas de intensa batalha. Um quesito pode ser o suficiente para definir a tênue diferença que favoreceu o espanhol: confiança. Com pouco ritmo competitivo nesse alto nível nos últimos meses, Kyrgios desperdiçou pontos cruciais, enquanto Nadal, em seu excepcional momento na temporada, nunca se desesperou e achou pequenas soluções que foram fundamentais. De novo, ganhou tiebreak e, como dizia Boris Becker, há muito mais de nervos do que de técnica num desempate.
O próprio Rafa explicou que, depois de escapar de um início tenso de terceiro set, decidiu mudar a posição de recebimento do saque com o único objetivo de mexer com a cabeça do adversário. E deu muito certo. Apesar de ter perdido dois games de serviço, no começo do jogo e para ceder o segundo set, no geral o espanhol utilizou muito bem o primeiro saque para conter a impetuosidade de Kyrgios. E se havia algum problema com o pé esquerdo, jamais demonstrou isso, deslocando-se de maneira notável.
Além da 19ª vitória consecutiva neste início de 2022, Nadal atinge a 76ª semi de nível Masters em 124 torneios disputados, ou seja, esteve pelo menos na penúltima rodada em mais de 61% das vezes. Com 402 vitórias em Masters em 485 possíveis, a eficiência está pertinho dos 83%, recorde absoluto.
Alcaraz por sua vez teve uma tarefa dura diante do atual campeão Cameron Norrie. O britânico liderou o primeiro set por duas vezes com quebras à frente, e repetiu isso no começo da segunda série, mas o empenho do garoto espanhol foi assombroso. Além de correr atrás de bolas impossíveis e fazer sempre o canhoto suar pelos pontos, utilizou muito bem outra vez as paralelas e sua visão para encaixar curtinhas esteve apuradíssima. Totalizou 36 winners, quase dois por game.
Sem dúvida, o saque de Alcaraz foi instável e ele sabe que isso será uma falha imperdoável diante de um canhoto muito mais experiente e de golpes bem mais pesados do que Norrie. Ao menos, ele já teve a experiência de encarar o jogo tão especial de Rafa em Madri do ano passado, quando levou um passeio no saibro veloz. No jogo desta quinta-feira, Alcaraz fez uma opção curiosa de ficar bem afastado na devolução do primeiro saque e jogar quase em cima de linha para retornar o segundo. Será que funciona contra Nadal? Curioso para ver.
A rodada desta sexta-feira define os outros dois semifinalistas. Tanto Taylor Fritz como Grigor Dimitrov já estiveram na penúltima rodada de Indian Wells, mas Andrey Rublev tem no currículo dois vices de Masters. O mais inexperiente é Miomir Kecmanovic. Ele enfrenta Fritz, que além da torcida tem histórico de 2 a 0, enquanto Rublev e Dimitrov farão o quinto duelo, todos em piso duro, com empate por 2 a 2. Nas bolsas de aposta, Fritz tem ligeiro favoritismo e Dimitrov é considerado razoável ‘zebra’.
Grandes jogos e número 2 em jogo
Três das atuais top 10 e uma ex-líder do ranking fazem uma rodada das mais interessantes na semifinal feminina de Indian Wells. Campeã de 2015 mas hoje apenas 26ª do mundo, Simona Halep leva vantagem de 2 a 1 sobre Iga Swiatek, enquanto Paula Badosa se mantém na luta pelo segundo título seguido e tenta repetir a vitória de novembro sobre Maria Sakkari.
Nos jogos desta quinta-feira, Sakkari começou lenta e viu Elena Rybakina abrir 4/1, mas depois a grega calibrou as devoluções e fechou com 18 a 12 nos winners, sendo 6 a 4 nos aces. Sakkari ainda tenta o primeiro título da temporada e chega a sua terceira semi seguida.
Badosa foi bem mais dominante e voltou a ter grande atuação, desta vez barrando Veronika Kudermetova em jogo sem sustos. Apesar de sempre forçar mais o jogo, a espanhola terminou com apenas seis erros. Swiatek, Badosa e Sakkari lutam entre si pelo número 2 do ranking.