Apesar da espetacular atuação de Stefanos Tsitsipas nas quartas de final contra Rafael Nadal, não me parecia haver maior justiça neste Australian Open do que uma final entre Novak Djokovic e Daniil Medvedev. Se o sérvio é o ‘rei de Melbourne’, o russo tem sido o melhor tenista do circuito nos últimos quatro meses. São dois grandes especialistas na quadra dura mais veloz e têm histórico de confrontos apertado. Grande chance de vermos às 5h30 de domingo uma batalha de tirar o fôlego.
Medvedev disputará nada menos que sua quarta final consecutiva, o que significa 20 vitórias em sequência. E estamos falando de torneios do quilate do Masters de Paris, Finals de Londres e ATP Cup. Nessa arrancada, ganhou de todos os 11 adversários de nível top 10 que cruzou, entre eles o próprio Djokovic. Neste momento, é o maior adversário que Nole poderia temer na tentativa do 9º troféu em Melbourne.
Tsitsipas escapou de um verdadeiro atropelamento na semifinal desta sexta-feira, e nem se pode colocar na conta um possível cansaço físico após a maratona diante de Nadal. Talvez, claro, tenha falhado mais a parte mental.
Diante de um Medvedev extremamente agressivo e sólido da base, Stef demorou demais para tentar um plano alternativo. Só ali na metade do terceiro set, quando já estava 2 sets e uma quebra atrás, entendeu que era mais negócio ir à rede e encurtar os pontos ao invés de ver seu backhand massacrado pelos golpes retos e profundos do russo, que lhe tiravam totalmente o tempo e o tornavam errático e defensivo.
Foi sem dúvida o melhor momento do duelo. Medvedev fez seu único game ruim no serviço – pareceu irritado com uma demora do adversário em se arrumar para a devolução -, a torcida se inflamou e Tsitsipas passou a comandar mais os pontos. Esteve perto de ganhar esse set, o que provavelmente mudaria muita coisa na partida, quando chegou a ter break-point para um 5/3. Mas o Urso arriscou tudo no saque e recuperou a confiança. Fez passadas magníficas para chegar à quebra definitiva e à vitória super merecida.
Quando se acreditava que a tática mais adequada de Tsitsipas seria a agressividade, os números mostram que Medvedev fez 17-3 em aces e 46-19 nos winners. E ainda errou menos (21-30). O grego ganhou 77% dos pontos em que subiu à rede (24 de 31), mas quase 60% deles concentrados no terceiro set (14 de 18).
Djokovic obviamente permanece o mais cotado para o título, diria na casa de 60%, ainda que tenha perdido 3 dos 4 mais recentes duelos. Só houve um confronto em melhor de cinco sets, lá mesmo na Austrália de dois anos atrás, e mesmo sem ainda ser um nome tão respeitado no circuito o russo ainda tirou um set.
De forma esperta, Daniil diz que não tem muito a perder em sua segunda final de Grand Slam – óbvio que não é tão verdade assim – e que haverá mais pressão sobre o sérvio, que defende a invencibilidade de oito finais anteriores do torneio. Se o russo obtiver tamanha façanha, de quebra também vai derrubar Nadal e tornar-se o primeiro nome fora do Big 4 a atingir o número 2 do ranking desde 25 de julho de 2005.
Uma coisa é certa: veremos a história ser reescrita no domingo.
Não deu para Soares
Dupla vence junto e perde junto, mas é inegável que Jamie Murray esteve um ou dois degraus abaixo dos demais jogadores na semifinal em que os campeões de 2016 perderam em dois sets apertados para os atuais detentores do título do Australian Open. Bruno Soares foi barrado na tentativa de sua terceira final seguida de Grand Slam pelo dueto Rajeev Ram e Joe Salisbury, que se mostrou mais compacto e oportuno.
O que faltou a Murray foi devolver com mais qualidade em momentos importantes da partida, especialmente na parte final do jogo, quando Salisbury não estava tão confiante. O escocês ainda teve dois serviços quebrados no primeiro set, o que prejudicou o bom início da parceria, que chegou a abrir 3/0, e vacilou feio ao não reagir rapidamente numa bola que ia para fora no tiebreak, permitindo que ela tocasse de raspão na sua raquete. De qualquer forma, Soares e Murray é uma dupla forte e experiente e podemos esperar títulos grandes em 2021.
Dos quatro finalistas, três buscam o segundo título de Slam – Ivan Dodig venceu aquele em Roland Garros de 2015 com Marcelo Melo – e outro, Filip Polasek, faz sua primeira final desse quilate.
Osaka: favoritismo delicado
Não há mais jogos na nossa madrugada. A partir de agora, as rodadas decisivas em Melbourne começarão sempre às 19h30 locais, às 5h30 de Brasília. Neste sábado, Naomi Osaka entra com relativo favoritismo para erguer seu quatro troféu de Slam e o segundo no Australian Open diante da norte-americana Jennifer Brady, que faz sua primeira decisão desse nível.
Se a japonesa confirmar, já se igualará a nomes de peso do tênis feminino moderno, como Kim Clijsters, Arantxa Sanchez e Hana Mandlikova, algo admirável se considerarmos seus 23 anos recém completados. Brady tem apenas dois anos a mais e é uma tenista divertida de se assistir, já que assume riscos, demonstra emoções e é dotada de grande espírito de luta.
Tal qual Medvedev, Osaka também venceu seus últimos 20 jogos e possui ainda 3-1 nos duelos diretos com Brady, mas é fundamental lembrar que a norte-americana deu enorme trabalho na recente semifinal do US Open, que terminou com o duro placar de 7/6, 3/6 e 6/3. A WTA aliás considerou esse como o melhor jogo de 2020 e a própria Osaka diz que foi uma das duas mais exigentes vitórias de sua carreira.
“Não vou mais para a quadra esperando que minha adversária jogue mal. Agora, eu acredito sempre que posso vencer, que tudo depende muito mais de mim”, afirma Brady. É a forma mais que perfeita de se encarar o circuito e este desafio na final.