Esperei a segunda-feira para ver como reagiriam os analistas do tênis internacional sobre a falta de brilho de Rafael Nadal em pleno saibro sul-americano, em torneios em que saiu de cabeça 1, principal estrela num saibro lento, favorito do público, e nem assim obteve o sucesso, acumulando já quatro derrotas na temporada 2016. Não vi qualquer palavra otimista. Vamos a alguns exemplos.
O colunista Barry Cowan, da Sky Sports europeia, acredita que ninguém mais teme Nadal, nem mesmo sobre a terra batida. “Rafa vive seu teste mais difícil como tenista. No ano passado, eu acreditava que ele iria se recuperar. Afinal, ser o quinto do mundo não é um desastre. Mas se pensarmos na sua capacidade de ganhar Grand Slam, que é o que importa, parece distante hoje”.
Ele diz ter assistido com preocupação a derrota para Pablo Cuevas no Rio. “Me parece que Nadal perdeu o controle emocional. Nem mesmo quando venceu o primeiro set demonstrava estar confiante. A impressão é que nem ele acredita mais em si mesmo. É triste ver um grande campeão jogar desse jeito”.
O site da tradicional revista Tennis não é menos pessimista. “Ele continua sua gradual e dolorosa descendência”, afirma o artigo assinado por Steve Tignor. “Claro que fazer duas semifinais não é um resultado ruim, e ele até jogou bem as semanas em Buenos Aires e no Rio, porém estamos falando de Nadal, que não pode se contentar com isso”. E conclui: “Antigamente, estender um jogo contra Rafa não era uma boa ideia. Hoje, se o adversário for longe o bastante, terá uma chance”.
A agência de notícias France Presse lembra que a derrota para Cuevas foi apenas a segunda que ele sofreu sobre o saibro para um adversário que não figurasse no top 30 desde 2005. A outra foi aquela para Horacio Zeballos na final do Chile, quando ele voltava de longa parada. E crava: “A campanha na América do Sul coloca ainda mais dúvidas sobre sua capacidade de ganhar novamente Roland Garros”.
Mais duro ainda foi o comentário de Chris Chase, na Fox Sports americana. Ao lembrar que o canhoto espanhol perdeu no saibro em sete dos últimos oito torneios que disputou, algo que levou quatro anos para acontecer em outros tempos, o cronista pergunta: “Será que Nadal chegou ao fim?”
E enfatiza: “O pior de tudo é que a derrota para o limitado Cuevas não foi uma surpresa”. Para ilustrar, dá uma estatística: Nadal não deixava de disputar duas finais consecutivas no saibro desde fevereiro de 2005, quando ainda era o 49º do ranking.
Bom, Rafa terá de esquecer o saibro até abril. Precisa iniciar imediatamente o treinamento para o piso sintético. Disputará uma partida de exibição contra Pablo Andujar em Porto Rico pouco antes de jogar o Masters de Indian Wells, que começa dia 20 de março, e depois vem Miami.
Recomeço
Enquanto isso, Nick Kyrgios conseguiu enfim seu primeiro título de ATP. Ainda que tenha sido um 250, sua campanha foi notável, sem perder um único set para Richard Gasquet, Tomas Berdych e Maric Cilic. Melhor ainda: mostrou um tênis vigoroso, cheio de recursos, abusando do saque (o último game contra o francês foi com quatro aces).
Ainda é cedo para dizer que o problemático australiano está nos trilhos. Ao menos, estanca a fase instável que acompanhou o vexame dado em Montréal, se reaproxima do top 30 e mostra um tênis competitivo na superfície mais importante do calendário.
Saibro paulista
O Brasil Open começou de casa nova, ainda que sua estrutura esteja um tanto apertada no clube Pinheiros. Está bonito. Só me preocupa imaginar como será o deslocamento das pessoas se vierem as 3.500 esperadas, ou pior ainda para onde elas irão correr num momento de chuva.
Apesar de os quatro favoritos só estrearem na quarta e na quinta, o segundo dia tem jogos interessantes. Principalmente o que envolve Thiago Monteiro e o espanhol Nicolás Almagro. Aliás, o tênis nacional não ganhou até agora no Pinheiros, perdendo todos os seis jogos que fez.
Thomaz Bellucci tem uma chave propícia, pode muito bem ir à final já que Paire, Cuevas e Almagro ficaram do outro lado da chave. Outra atração para os paulistanos é poder ver Marcelo Melo e Bruno Soares juntos. Os dois treinaram na segunda-feira aspectos táticos e só isso já foi um belo espetáculo. Estamos falando de dois campeões recentes de Grand Slam. o melhor do mundo e de um top 10. Vale a pena.