O retorno de Rafael Nadal ao circuito e sua primeira apresentação sobre o sempre importante saibro europeu promete ser uma autêntica provação. Sem competir em Miami, Monte Carlo e Barcelona devido à fratura por estresse, o líder da temporada só deverá ter adversários difíceis e competentes na terra batida veloz de Madri, onde pegar ritmo nunca é coisa muito simples.
O garotão sérvio Miomir Kecmanovic, que quase derrubou Novak Djokovic há uma semana e está voando agora no Estoril, tem tudo para ser o primeiro obstáculo, embora seu adversário de estreia seja o imprevisível Alexander Bublik. A lógica diz que Pablo Carreño seja a barreira de oitavas, mas nem se pode descartar Botic van de Zandschulp e Aslan Karatsev em condições rápidas.
Se for até as quartas e aí provavelmente já muito mais confiante, Rafa poderá então reencontrar o fenômeno atual Carlos Alcaraz, forte candidato num quadrante onde estão Fabio Fognini, Cameron Norrie e John Isner. No ano passado, Nadal atropelou Alcaraz logo na segunda rodada de Madri, cedendo três games.
O fortíssimo lado superior da chave tem, é claro, Djokovic e portanto estamos diante da primeira oportunidade de revermos o épico confronto entre ele e Nadal, que não ocorre desde a semi de Roland Garros de 10 meses atrás. No entanto, existem também dúvidas sobre Nole, principalmente porque ele próprio admitiu que está com queda física após esforço longo. Se existe algo que mexe com a confiança, é a resistência.
Por sorte, o ‘freguês’ Gael Monfils deve ser seu primeiro adversário e daí viriam Denis Shapovalov, que ainda não jogou no saibro, ou quem passar do inusitado duelo de primeira rodada entre Andy Murray e Dominic Thiem. O britânico aparece de surpresa na fase de terra depois de jurar que só pensava na grama e o austríaco perdeu os três jogos que fez desde a volta no final de março.
A oportunidade me parece tão animadora para Djokovic que o adversário mais cotado nas quartas é Casper Ruud, a grande decepção do saibro até agora. Para reagir, o norueguês espera Roberto Bautista ou Borna Coric na estreia e eventualmente Hubert Hurkacz ou Alejandro Fokina nas oitavas. Se o reencontro contra o número 1 realmente vier, Ruud terá a terceira chance para ganhar ao menos um set.
O lado inferior da chave ficará em evidente segundo plano. O atual campeão Alexander Zverev não está jogando nada e assim corre risco a qualquer rodada, mesmo que as condições de Madri colaborem com os grandes sacadores. Curioso para ver a primeira apresentação de Jannik Sinner no saibro. O italiano pode ter de brigar com Felix Aliassime ou Frances Tiafoe nas oitavas. O outro quadrante ficou com dois campeões bem recentes, Stefanos Tsitsipas e Andrey Rublev. O grego tem Diego Schwartzman no caminho e o russo, Taylor Fritz.
À exceção do debilitado e duas vezes vencedor Roger Federer, todos os campeões de Madri desde 2009, quando houve a mudança para o saibro da Caixa Mágica, participam desta edição. Nadal ganhou quatro, Djokovic faturou três, Zverev levou dois e Murray ergueu um troféu.
Triste momento para Boom-Boom Becker
Envolvido em sérios problemas financeiros por empréstimos contraídos, Boris Becker foi condenado à prisão nesta sexta-feira pela justiça britânica, que o considerou culpado por cometer fraudes com o objetivo de esconder patrimônio e assim evitar o pagamento de dívida de 3 milhões de libras esterlinas. Metade da pena de dois anos e meio terá de ser cumprida em regime fechado. Desalentador.
Becker é uma sumidade no mundo do tênis, surgido repentinamente aos 17 anos e dono de saque tão poderoso para a época que ganhou apelido de Boom-Boom. Para mim, aliás, está na lista dos três melhores voleios que já vi. Tricampeão de Wimbledon e dono de seis Slam, foi também número 1 do mundo, campeão da Copa Davis, medalha de ouro olímpica e maior ídolo do esporte alemão. Entre 2014 e 2016, treinou Djokovic com grande sucesso e levou o sérvio a mais outros seis Slam. Comentarista respeitado no Eurosport, esteve cotado para trabalhar com Zverev e Sinner. Está com 54 anos.