Se de um lado Novak Djokovic e Alexander Zverev confirmaram a expectativa e marcaram um duelo que promete ser eletrizante daqui a dois dias, a quarta-feira do US Open registrou mais uma série de fatos inusitados e históricos. A começar pela classificação de Luísa Stefani, recolocando o tênis feminino brasileiro na vitrine dos Grand Slam, e ao mesmo tempo aumentar a festa canadense, agora com três semifinalistas. Também promoveu mais uma jovem estrela, Emma Raducanu, e viu duas norte-americanas novatas lotarem a Louis Armstrong. Há façanhas até nas duplas mistas. É um torneio muito especial.
Stefani se tornou a terceira brasileira a atingir a penúltima rodada de um Slam, repetindo Maria Esther Bueno e Cláudia Monteiro. Seu momento é incrível: bronze olímpico, título em Montréal, finais em Cincinnati e em San Jose e agora semi em Flushing Meadows. Tudo isso com grandes atuações, desempenho mágico junto à rede, sorriso no rosto e ar de veterana. O dueto com Gabriela Dabrowski caiu como uma luva, porque a canadense é uma tremenda duplista, que mescla força com jeito e tem considerável experiência, com 10 títulos de WTA e a final de Wimbledon de 2019.
Não vai ser nada fácil encarar Coco Gauff, 17 anos, e Caty McNally, 19, e seus golpes pesadíssimos da base, e ainda por cima com apoio maciço do público. As duas brecaram num jogo de arrepiar as campeãs de Wimbledon e líderes do ranking Su-Wei Hsieh e Elise Mertens. Preparem seus corações.
Djoko contra novo saque de Zverev
Um US Open tão sensacional merecia mesmo o duelo entre Djokovic e Zverev, a revanche da semi olímpica. O sérvio é de longe o grande nome da temporada, em busca de fechar o Grand Slam, enquanto o alemão é o principal nome do circuito no último mês, com 16 jogos sem derrota e dois títulos de peso, em Tóquio e em Cincinnati.
Djokovic encontrou um Matteo Berrettini bem disposto num primeiro set de 80 minutos e com um backhand mais sólido do que o normal, mas no fundo foi o sérvio quem não jogou bem os pontos realmente valiosso. A partir do momento em que decidiu ser mais agressivo, principalmente atrás do lado esquerdo italiano, a tarefa foi bem mais fácil. De seus 28 erros, 17 aconteceram no primeiro set, uma estatística que dá a dimensão de como evoluiu nas três séries seguintes.
Zverev por sua vez atinge sua quarta semi de Slam, depois de levar um susto no primeiro set contra um solto Lloyd Harris, que chegou a sacar para vencer e depois teve set-point no tiebreak. Mas o alemão está num momento iluminado e com cabeça muito focada.
Um curioso quadro da ESPN mostra que o alemão reduziu a altura do lançamento da bola no saque pela metade nesta temporada e com isso o golpe ficou muito mais efetivo, além da queda abrupta das duplas faltas.
Outro dado relevante é que Sascha tinha 22 vitórias e 14 derrotas em Slam entre 2015 e 2019, período em que jogou 18 Slam e só passou à segunda semana cinco vezes sem qualquer semi, e depois passou a 41 triunfos em 51 jogos entre 2020 e 2021, tendo chegado à segunda semana em todos os sete Slam e somado quatro semis. No entanto, nunca bateu um top 10 em Slam. Dá então para imaginar o tamanho da façanha que terá de realizar contra o número 1.
Raducanu é a nova sensação
Menos de 24 horas depois de Leylah Fernandez, a britânica Emma Raducanu causou outro burburinho na chave feminina do US Open, ao se tornar a primeira qualificada na Era Profissional a atingir a penúltima rodada. E, mais incrível ainda, sem perder set em seus oito jogos realizados.
Filha de chinesa e romeno e nascida no Canadá, também repete os feitos de Chris Evert, Pam Shriver e Venus Williams, que chegaram na semi logo em seu primeiro US Open. A vitória sobre Belinda Bencic foi sua primeira no torneio diante de uma cabeça de chave, mas a forma com que dominou a campeã olímpica com golpes sempre bem feitos deixou até Martina Navratilova boquiaberta. Seu ídolo de infância foi Na Li, o que pode explicar boa parte do estilo.
Aos 18 anos e 9 meses, Raducanu era 366 do mundo antes de Wimbledon, onde também se tornou a mais jovem da Era Aberta a atingir as oitavas. Entrou neste US Open como 150 e já se garantiu como 51. Se derrotar Maria Sakkari na noite desta quinta-feira, será 31 ou 32, num salto astronômico. Jamais chegou sequer numa final de torneios nível WTA, nem mesmo os de US$ 125 mil.
Sakkari, de 26 anos, é a sobrevivente de maior idade e faz sua segunda semi de Slam numa campanha de peso em que eliminou Petra Kvitova, Bianca Andreescu e agora Karolina Pliskova, ou seja, adversárias muito gabaritadas em superfícies velozes e no piso duro. A vitória sobre a vice-campeã de Wimbledon nesta noite resume bem suas qualidades: bom saque, golpes forçados sem exagero, muita perna para cobrir a quadra.
Até nas mistas
O México também tem sua primeira finalista de Slam da história, Giuliana Olmo, que decide as mistas ao lado do salvadorenho Marcelo Arevalo, outra façanha histórica latino-americana. O M[exico ganhou três no masculino com Raul Ramirez e dois nas mistas com Jorge Lozano.