Derrotas nunca são bom resultado, porém o time brasileiro que se aventurou a cruzar o Pacífico pela segunda vez em 60 dias cumpriu seu dever com louvor e, de forma um tanto inesperada, chegou a ter real chance de derrotar o time B da Austrália.
Antes que alguém relativize isso, frise-se que esse grupo ‘reserva’ ainda tinha seus dois jogadores de simples com ranking bem mais alto que os de Thiago Monteiro e Thiago Wild, sem falar na óbvia adaptação muito superior ao piso sintético coberto escolhido e à torcida a seu lado.
Caso WIld tivesse surpreendido o 43º do mundo na sexta-feira – e ficou bem perto disso, numa atuação espetacular, quando chegou a sacar para a vitória no segundo set -, e o resultado poderia ter sido totalmente diferente. É louvável tanto a disposição física como a postura tática de Wild.
Vindo do saibro de Santiago, onde fora campeão no domingo, ele teve apenas três dias para se adaptar ao penoso fuso horário e à superfície e bolas distintas. Certamente, ele e o capitão Jaime Oncins planejaram um jogo de risco diante de Millman, um adversário de enorme experiência no circuito mas pouco rodado na Davis, e o paranaense cumpriu à risca, jogando dentro da quadra o tempo todo. Comandou os pontos, fez devoluções incríveis, encurralou o australiano com o forehand tão afiado e só falhou mesmo na hora de fechar a partida. Depois obviamente as pernas e a cabeça cansaram e Millman, que é um paredão, se safou.
Monteiro fez um jogo de altos e baixos na sexta-feira, chegou a reagir bem no segundo set mas parou em Jordan Thompson, 63º do mundo e portanto 19 postos à frente do cearense. No sábado, Monteiro também encarou de frente Millman e caiu em três tiebreaks, num jogo disputadíssimo de 3h08, em que se mostrou novamente bem mais à vontade na quadra sintética, como fizera em Auckland e no Australian Open.
Faltou talvez um pouquinho mais de agressividade no segundo set e ainda mais no tiebreak, onde poderia jogar com a grande pressão que estava em cima de Millman. Não vamos esquecer que, em Melbourne, o australiano levou Roger Federer ao quinto set, o mesmo suíço a quem derrotou no US Open de 2018. Ou seja, está longe de ser um adversário qualquer no piso duro.
Por fim, magnífica atuação da dupla feita entre o experiente Marcelo Demoliner e o estreante Felipe Meligeni, que nos deu o único ponto em Adelaide. Quase três horas de intensas emoções e um tênis muito versátil das duas parcerias, que se revezaram nas chances. Vale ressaltar os 17 breaks-points que os brasileiros construíram na partida – não existe na Davis o ‘ponto decisivo’ -, dos quais aproveitaram quatro.
Enquanto Demo foi magnífico no trabalho de rede, com movimentação que várias vezes surpreendeu os australianos, Felipe mostrou personalidade com ótimos golpes da base, lobs inteligentes e frieza na hora de sacar para fechar o jogo. As últimas semanas foram de experiências gigantes e positivas para o sobrinho de Fernando Meligeni, que não duvido amadureceu muito nesse curtíssimo espaço de tempo e pode usar isso agora quando voltará aos challengers.
E como fica o Brasil agora na Davis? Teremos de esperar o sorteio da semana que vem para saber quem enfrentaremos em setembro, entre os 12 países que estão disputando o Zonal 1, tais como Ucrânia, Suíça, África do Sul, Noruega, Portugal e Romênia. O sistema é o mesmo deste fim de semana, ou seja, alternância de sedes e cinco jogos em melhor de três sets e apenas dois dias. Se a sorte ajudar, a vitória recolocará o time de Oncins – renovado e mais experiente – no quali mundial de fevereiro de 2021.