Ainda que exista a famosa ‘possibilidade matemática’, que mesmo assim é muito apertada, Novak Djokovic já nem precisa mais entrar em quadra no restante do calendário para anotar mais um recorde de peso na carreira: a sétima temporada encerrada como número 1, façanha que dividia com Pete Sampras.
Daniil Medvedev já tinha uma caminhada bem difícil na tentativa de superar o sérvio e a maluca derrota desta quarta-feira em Indian Wells enterrou suas chances. Se ele só jogar Paris e Finals, como está previsto, a possibilidade é zero. Se pedir convite para Viena, mesmo o título ainda deixaria Djoko com necessidade de meros 100 pontos. E no caso de insana tentativa de jogar e vencer Moscou também, na próxima semana, Nole se garantiria com 305 pontos. Duvido que o russo se arrisque a tanto.
Como eu já havia dito antes, não me parece haver o menor sentido um tenista ganhar três Grand Slam e ser vice em outro e ficar em segundo lugar do ranking. Embora numericamente possível, seria uma aberração.
É bem verdade que isso tem considerável chance de acontecer no ‘ranking da temporada’, já que ali a distância do russo é de 1900, algo que ele poderá alcançar com os 2.500 em disputa entre Paris e Turim. Seria um imbróglio para a ATP resolver: o que vale, o ranking de 52 semanas ‘costurado’ ou o ranking do ano para definir quem é o melhor de 2021?
Na quadra, Medvedev foi uma decepção. Ninguém pode ignorar as qualidades de Grigor Dimitrov quando o búlgaro joga o seu melhor, porém o russo dominava por 6/4, 4/1 e saque antes de perder a consistência e ver o primeiro serviço sumir. Aí o búlgaro ganhou confiança e jogou um belo terceiro set. Seu adversário será o competente polonês Hubert Hurkacz, que tirou enfim Roger Federer do top 10 e é um candidato sério a seu segundo Masters.
Stefanos Tsitsipas, por sua vez, garantiu lugar nas quartas com uma virada um tanto na marra diante do valente Alex de Minayr. Mas a preocupação com o grego é menos técnica e sim comportamental. De novo, virou objeto de polêmica. Fabio Fognini foi à loucura com supostas intromissões do pai-treinador, o que não é novidade. Apesar do tênis elegante e eficiente, Tsitsipas precisa acabar com essa má fama enquanto dá tempo. Como bem colocou Fernando Meligeni na transmissão do jogo de terça, nada pior pode acontecer a um tenista do que ficar isolado no circuito, e o grego caminha velozmente para isso. A atuação contra De Minaur passou limpa, mas o australiano mal o olhou no cumprimento. Stef será favorito natural contra Nikoloz Basilashvili.
Nas outras quartas, um duelo entre dois tenistas que estão adorando o piso lento: Diego Schwartzman e Cameron Norrie. Vale lembrar que Peque quase perdeu na estreia para o quali Maxime Cressy. A surpresa no entanto é Taylor Fritz, responsável pela queda de Matteo Berrettini e Jannik Sinner sem perder set. O teste de fogo agora é Alexander Zverev. O alemão fez contra Andy Murray o duelo de melhor nível técnico do torneio até agora e derrotou enfim o único Big 4 que faltava no seu belo currículo..E contra Gael Monfils deu show e mostrou outra vez que consegue fazer a bola andar muito mesmo em Indian Wells
Decisões no feminino
A chave feminina confirma a imprevisibilidade de quase toda a temporada: nenhuma das 13 primeiras do ranking chegou sequer nas quartas de final. E isso inclui quedas de Garbiñe Muguruza e Maria Sakkari na estreia, de Karolina Pliskova e Petra Kvitova na terceira rodada, de Iga Swiatek e Elina Svitolina nas oitavas. Simona Halep só venceu um jogo.
As sensações do US Open não vingaram. A campeã Emma Raducanu sentiu mesmo a pressão e terá que recolocar a cabeça em ordem se ainda competir em 2021. Leylah Fernandez não se achou na quadra áspera, que maximizou sua dificuldade em colocar peso na bola, mas foi muito competitiva.
Fica a sensação que as veteranas irão vingar. Vika Azarenka já está na semi, sua primeira no torneio em cinco anos. Muito mais do que os dois títulos, em 2012 e 2016, está jogando um tênis de grande qualidade até aqui, com destaque para a atuação impecável diante de Kvitova. O saque trabalha muito bem, os golpes de base estão profundos e consistentes, a movimentação flui. É uma de suas melhores semanas da temporada.
A outra que joga com a experiência é Angelique Kerber. A alemã começou com dificuldade de adaptação, depois vem jogando cada vez mais solta e agora encara um belo desafio diante de Paula Badosa, 10 anos mais jovem e que certamente gosta da lentidão. Quem vencer nesta quinta-feira vai encarar Anett Kontaveit, que fez uma partida impecável contra Bia Haddad Maia e coleciona grandes vitórias em 2021, ou a habilidosa Ons Jabeur.