Nunca durante estes 15 anos de Blog me deparei com tanta dificuldade para formar expectativas para uma temporada à frente. E, claro, o motivo é a pandemia do coronavírus, que continua a modificar calendários, com a dura promessa de vermos mais alguns eventos importantes serem cancelados. Mas não é só. Nomes importantes do circuito acenam para um retorno às competições depois de infindáveis meses de afastamento, como é o caso da ainda número Ashleigh Barty e do fenomenal Nick Kyrgios.
A temporada 2021 será aberta nesta quarta-feira com o WTA de Abu Dhabi e no dia seguinte começam dois ATPs menores, em Delray Beach e Antalya. Todos terminarão na outra quarta, o que por si só mostra o quão anômolo anda o calendário. Sofia Kenin lidera quatro top 10 nos Emirados, Fabio Fognini volta na Turquia ao lado de Matteo Berrettini, Jannick Sinner, David Goffin e Borna Coric e Delray, que perdeu Andy Murray e Kei Nishokori, terá Milos Raonic e John Isner.
As excentricidades seguem com os qualis do Australian Open disputados no Oriente Médio, em Doha e Abu Dhabi, e aí teremos a pausa obrigatória de 14 dias para se cumprir a quarentena em Melbourne. O tênis recomeçará dia 31, com dois ATPs e dois WTAs simultâneos em Melbourne. Os masculinos ficam reservados aos em que não devem jogar a ATP Cup, reduzida para 12 países e cinco dias. O evento termina à véspera da largada do Australian Open, em 8 de fevereiro.
Por esse extenso quadro de novidades fica patente que um panorama das condições atléticas e técnicas da maciça maioria dos tenistas só estará mais claro nessa semana que antecede o Australian Open. É de se acreditar que Novak Djokovic, Rafael Nadal, Dominic Thiem e Danill Medvedev joguem a ATP Cup e tenham adversários de peso, já que deverão enfrentar quase sempre um top 10, preparativo exigente. Já no feminino, Barty, Simona Halep, Naomi Osaka e Serena Williams são aguardadas nos WTA 500.
Go the distance 2021 🥊 @TheSlyStallone #HappyNewYear pic.twitter.com/xWcnWKsxsS
— Novak Djokovic (@DjokerNole) December 31, 2020
Há componentes diferenciados neste início de temporada, que devem refletir diretamente no Australian Open, e o mais importante deles é que os principais nomes terão 14 longos dias de treinamento no Melbourne Park durante a quarentena, ou seja, uma extensão da pré-temporada que tradicionalmente fazem em dezembro. O confinamento não deixa de ser tedioso, ainda mais que por sete dias só poderá haver um mesmo parceiro de bate-bola, mas isso no fundo acabará sendo um teste de resiliência.
Daí a prudência colocar Djokovic e Nadal novamente na ponta da lista de favoritos. porque o mental mais do que nunca pode decidir jogos e títulos. Todos sabemos que a maciça maioria dos tenistas de hoje se adapta muito bem à quadra dura, e entre eles estão Thiem, Medvedev, Alexander Zverev e Stefanos Tsitsipas, não por acaso os quatro mais cotados para barrar o Big 2. Surpresas isoladas podem vir com Andrey Rublev, Milos Raonic, Stan Wawrinka e Grigor Dimitrov, mas não vejo esses outros com consistência suficiente para ir até as rodadas finais.
O feminino também tem uma série de favoritas com jogo solto e ideal para a quadra dura, mas eu colocaria fichas iniciais em Osaka e Kenin, ficando de olho arregalado em Vika Azarenka e Petra Kvitova. Sempre é essencial lembrar que o Slam feminino não se diferencia dos grandes torneios regulares, ainda que sejam necessárias uma ou duas vitórias a mais, com a vantagem de um dia de descanso permanente.
Com a chegada gradual da vacina na Europa e Américas, a ATP divulgou um calendário provisório em que manteve a perna sul-americana de saibro, exceto o Rio; os torneios de quadra coberta na Europa, os 500 de Acapulco e Dubai como preparativos para Miami, confirmando também o adiamento de Indian Wells. No entanto, com os EUA batendo recordes de mortos na incrível casa de 3.700 diários e o temor pela variação do coronavírus, ainda há muita reserva sobre a concretização dessa sequência.
O que talvez seja mais palpável é a série do saibro europeu, planejada para largar com Monte Carlo na segunda quinzena de abril e seguir nos moldes naturais. A presença de público segue incerta e isso, como era imaginado, tem provocado o desabamento das premiações dos torneios e afastamento de patrocinadores.
O terrível 2020 acabou, mas as incertezas seguem sobre o tênis em 2021.