Não foram os aces, o topspin devastador, a capacidade inesgotável de defesa ou os slices maliciosos. Rafael Nadal continua o rei supremo da temporada graças a uma sequência de voleios precisos, intuitivos, corajosos, verdadeiramente mágicos.
Após 3h12 de uma insana batalha contra a juventude e talento de Carlos Alcaraz, a maior parte do tempo sob condições climáticas incompatíveis com um tênis de alto padrão, Rafa sacramentou sua volta ao top 3 do ranking com a 20ª vitória seguida e pode neste domingo somar seu recorde exclusivo de troféus de Grand Slam com o de títulos de Masters 1000, igualando novamente a luta particular com Novak Djokovic em 37.
A expectativa por um duelo equilibrado e decidido nos detalhes se confirmou, mas o vento prejudicou demais os dois jogadores entre o final do primeiro set e o começo do terceiro, tornando muitas disputas em verdadeiras loterias. Na verdade, é elogiável a qualidade que ambos conseguiram ainda fazer lances, muitos sob pressão, diante do vendaval.
Alcaraz raramente sacou bem e isso pesou muito. Teve 2/0 no começo do jogo antes de perder quatro games seguidos, mas ainda empatou no oitavo game antes de sofrer a quebra fatal, num set em que cometeu 23 erros contra 9. Liderou sempre o segundo set a partir do quinto game, porém não conseguia confirmar as quebras obtidas. Nadal usava o máximo de spin para segurar a bola em quadra e tinha dificuldade evidente quando tentava forçar uma paralela, já que a precisão estava muito comprometida pela ventania.
O game crucial para Alcaraz foi o quinto do terceiro set, quando viu Nadal salvar três break-points com brilhantismo e o primeiro de seus voleios desconcertantes que viriam. O veterano de 35 anos já era um tenista bem mais agressivo com a melhoria do clima mas encontrava resistência ferrenha no jovem adversário, que mais uma vez lembrou o gigantesco poder defensivo do próprio Nadal. Por fim, com devolução seguida de subida à rede ao melhor estilo ‘chip-and-charge’, Rafa foi a 5/3 para liquidar em seguida, sem qualquer susto.
O duelo espanhol teve paridade nos erros (41 a 35 para Alcaraz), porém os winners foram muito favoráveis ao garoto (39 a 20). No total, foram disputados 35 break-points, uma marca expressiva para um jogo masculino de três sets.
Fritz sobe outro grande degrau
Lembro de ter alertado lá em janeiro de que Taylor Fritz vinha jogando o melhor tênis que eu já havia visto e estar enfim numa final de nível 1000 faz com que o garotão de 24 anos e 1.96m atinja um patamar definitivamente elevado na carreira.
Não teve uma atuação perfeita diante de Andrey Rublev neste sábado por conta de natural instabilidade, mas cravou um resultado muito justo depois de uma excepcional atuação nos cinco ou seis primeiros games e por se manter sólido depois que Rublev passou a jogar um tênis digno de seu currículo. O norte-americano tem todos os golpes, embora é claro que o saque faça muita diferença. O backhand seja agressivo, se vira bem na rede e a movimentação é bem satisfatória para seu tamanho.
A oportunidade neste domingo é para lá de especial. Desde que Andy Roddick ganhou Miami em 2010, apenas outros dois compatriotas conseguiram erguer Masters 1000 e de forma inesperada: Jack Sock em Paris de 2017 e John Isner em Miami de 2018. Fritz garante o mais alto ranking da carreira, o 15º, e a condição de norte-americano mais bem classificado. Um eventual título o levará ao 13º.
Ele porém possui alguns fantasmas a espantar. Em seis finais, perdeu todas na quadra dura – a maior delas o 500 de Acapulco em 2020 – e só venceu mesmo na grama de Eastbourne há quase três anos.
Final feminina decide nova número 2
O tênis feminino certamente terá uma vice-líder inédita no ranking e o nome sairá justamente da final de Indian Wells entre Iga Swiatek e Maria Sakkari. As duas já deixaram para trás Barbora Krejicikova e quem vencer terá chance de tirar ainda mais diferença para a ausente Ashleigh Barty ao longo de Miami.
As pretendentes vivem situações bem distintas e por isso o favoritismo natural cai para a polonesa, que vem do título no 1000 de Doha onde justamente ganhou pela primeira vez em quatro tentativas de Sakkari.
A vitória sobre Simona Halep, que mostrou certa limitação por um desconforto na coxa, teve como principal componente trocas longas e muito equilíbrio emocional, como destacou a própria Iga. Na sua avaliação, o crescimento na quadra dura se dá porque está atuando de forma mais agressiva, porém acima de tudo na escolha dos momentos certos para isso.
Já a grega tem um problema pessoal a resolver, uma vez que, apesar de seu tênis muito competitivo e da ascensão contínua no circuito, ainda lhe faltam títulos. Seu único troféu até hoje, em quatro finais feitas, foi o pequeno 250 de Rabat e em 2019. É verdade que fez semis importantes, como em Roland Garros, US Open e Finals do ano passado, porém seria justamente a falha mental nas rodadas realmente grandes o que atrapalha Maria.
Eis uma chance de ouro para acabar com isso e fazer jus ao número 2, já que tecnicamente a grega é uma tenista bem completa. Foi o que mostrou por exemplo na semi contra a atual campeã Paula Badosa, em que terminou com um placar acachapante de winners (28 a 6) e ainda obteve três quebras no set decisivo com devoluções oportunas.