O monopólio de Rafael Nadal e Novak Djokovic vai continuar no saibro europeu? Esta é a pergunta que o Masters 1000 de Monte Carlo tentará responder a partir deste domingo, quando será aberta oficialmente a temporada europeia de pisos lentos. Todo mundo certamente espera ver mais nomes em condições de sonhar com título ou ao menos fazer duelos empolgantes, mas será que isso tem chance de acontecer?
Claro que Nadal sempre será favorito absoluto no saibro enquanto estiver em sua melhor forma física e técnica. Não dá para dizer que as três derrotas sofridas em seus 24 jogos desta temporada possam diminuir a confiança quando começa sua parte predileta do calendário. O que pode mudar, isso sim, é a postura de seus adversários, principalmente os mais adaptados ao saibro. Quem sabe, eles passem a acreditar que Rafa não é imbatível, que existe um caminho técnico-tático para ao menos lhe dar mais dor de cabeça do que o habitual.
E não foi apenas Novak Djokovic quem mostrou o caminho das pedras, na recente final tão bem jogada em Miami. Um tenista experiente e versátil como Alexander Dolgopolov e até mesmo um saibrista digamos ‘padrão’ como Pablo Andujar acharam a fórmula de colocar Nadal na defensiva. Bolas altas e com menos peso no backhand, seguida de um forehand na paralela ou um inside-out angulado no forehand para aproveitar a longa distância com que Rafa fica atrás da linha de base. Sempre que possível, uma subida à rede com voleio cruzado antes do T.
Parece uma receita óbvia, mas acreditem que é bem difícil de executar diante de um tenista com as qualidades técnicas e físicas de Rafa, que pode tanto acabar com a paciência com seu spin extraordinário como parttir para o ataque na segunda bola. Basicamente, essas alternativas dependem de sua confiança. Em Miami, por exemplo, ficou totalmente defensivo na final contra o valente Djokovic.
Por falar em Nole, ele deu a volta por cima na temporada, que tinha começado sem brilho. A conquista seguida de Indian Wells e Miami, ainda por cima com o show em cima do número 1 do mundo, jogará sua disposição às alturas. Não penso que neste momento ele esteja sequer pensando na liderança do ranking. Vai jogar os três Masters de olho exclusivo em Roland Garros, desta vez com a certeza de que só poderá cruzar com o canhoto espanhol numa eventual decisão. E se existe um tenista no circuito capaz de competir mental e fisicamente com Rafa numa melhor de cinco sets sobre o saibro, esse é Nole.
Tomara, no entanto, que a terra batida não fique limitada aos dois. A expectativa não é das mais otimistas. Do atual grupo dos top 20, conta-se nos dedos quem pode ameaçar o dueto. O primeiro da lista tem de ser Stan Wawrinka, um jogador criado sobre o saibro mas que não tem um histórico de sucesso expressivo nos grandes torneios. É o atual vice de Madri, fez final em Roma (2008), semi em Monte Carlo (2010) e quartas de Paris (2013). Sempre barrado por Nadal, Djokovic, Federer e até mesmo por Tsonga. A parte animadora é que ele conseguiu segurar a cabeça na recente Copa Davis e menos de três meses atrás derrotou Nole e Rafa para vencer seu primeiro Slam.
Federer surge como absoluta incógnita, ainda que tenha recuperado boa parte de seu melhor tênis e pernas. Suas últimas aventuras no piso, em julho, foram um desastre. Chegou à final de Roma em 2013, arrasado por Nadal, e às quartas de Paris, facilmente batido por Tsonga. Claro que tem o segundo melhor histórico sobre o saibro da última década, experiência que precisa sempre ser considerada. O que eu quero ver antes de tudo é se aceitará jogar dois passos atrás da linha, usar mais e melhor o topspin, aceitar um jogo em que não poderá contar o tempo todo com o saque para sair do aperto. Ele pode? Claro que sim. Ele é Federer.
Outros nomes que têm obrigação de jogar decentemente no saibro são David Ferrer, Tomas Berdych e Richard Gasquet, porém a parte mental e pontos fracos evidentes jogam contra eles. Ferrer é o mais experiente e saibrista autêntico, porém perdeu alguma coisa de seu espírito guerreiro de antes, talvez pela idade, talvez pela mudança de treinador. Tsonga, que vinha se virado bem na argila, vive um momento muito instável, onde nem o serviço funciona a contento.
Por isso, talvez eu prefira ficar de olho no italiano Fabio Fognini, no búlgaro Grigor Dimitrov e no próprio Dolgopolov. O garoto-problema Fognini é tão imprevisível que pode jogar como top 5 quando menos se imagina, e a terra sempre foi seu piso natural. Dimitrov é o jogador da nova geração com maiores recursos técnicos, ainda mais agora que parece ter trabalho a sério a parte física. Por fim, longe de ser um garoto, Dolgopolov tem um estilo heterodoxo, mescla incrivelmente bem ataque e defesa, força e jeito. Se conseguir se colocar em quadra como ‘zebra’, vira um perigo.
Monte Carlo é a primeira parada, mas pode esclarecer muitas dúvidas e anseios.