Diante de dificuldades bem distintas, Novak Djokovic e Rafael Nadal tiveram início animador no saibro europeu. O sérvio passou dias treinando em Monte Carlo, quase um quintal de casa, e fez uma bela estreia diante de Jannik Sinner. O ultracampeão espanhol mostrou-se à vontade na volta a seu habitat natural e aproveitou cada minuto para se experimentar frente ao irregular Federico Delbonis.
Djokovic teve um teste real já de cara. Sinner faz a bola andar muito, mesmo no saibro lento, mas justamente essa característica de Monte Carlo foi o que mais o atrapalhou. Diante de um jogador de excepcional qualidade na defesa e no contra-ataque, o italiano se perdeu na necessidade de obter bolas milimétricas o tempo todo. Mais uma vez, ficou claro que ainda lhe falta um plano B.
O sérvio deu uma aula ao garoto sobre versatilidade e apuro tático. Entrou em quadra aparentemente já com o plano traçado de evitar que o adversário batesse na bola em posição equilibrada e utilizou as curtas para aproveitar a postura recuada de Sinner. E é essencial observar que as duas propostas não são nada simples de se executar diante de alguém que golpeia tão bem e forte dos dois lados.
É bem verdade que Nole perdeu dois games de serviço no primeiro set, algo que não assusta diante da lentidão do piso e das devoluções ousadas do italiano. Mas nada tirou seu foco e o líder do ranking seguiu até o fim com execução admirável da opção escolhida, subindo de nível no segundo set.
Pena que o reencontro com Hubert Hurkacz não vá acontecer, já que o polonês não se sentiu bem e jogou sem forças diante de Daniel Evans. O britânico de 1,75m até tem um estilo adaptável ao saibro, mas acaba de ganhar seu sexto jogo no piso em toda a carreira, algo que não fazia desde Barcelona de 2017. Assim, Djoko é candidato natural a duelar contra Sascha Zverev ou David Goffin nas quartas. O alemão teve bem menos trabalho do que eu imaginava diante de Lorenzo Sonego. Dos quatro sets que o belga ganhou, dois foram ‘pneus’.
Rafa teve a estreia muito tranquila que era esperada, já que o também canhoto Delbonis está alguns degraus abaixo. O espanhol aproveitou bem a partida para soltar os golpes e fez um primeiro set bem a seu estilo sobre o saibro, com meros quatro erros não forçados. Depois até perdeu um serviço em game longo no melhor momento do argentino, o que ao menos serviu para o espanhol esticar a presença em quadra, rodagem bem vinda neste retorno à atividade.
Nas condições normais de Monte Carlo, Grigor Dimitrov teria poucas chances frente a Nadal. Fato curioso, este será o quarto duelo entre eles no torneio e só lá em 2013 o búlgaro deu trabalho. Em 2018 e 2019, tirou meros cinco games por jogo. O placar geral do confronto é arrasador: 13 a 1, com única vitória de Dimitrov no veloz Pequim de 2016. Me parece lógico acreditar que Rafa cruzará com Andrey Rublev ou Roberto Bautista em seguida.
As três primeiras rodadas do torneio tiveram outros destaques, o principal deles o abandono forçado de Daniil Medvedev por ter contraído covid. Isso já coloca em risco sua presença em Madri e abre grande oportunidade para Nadal recuperar rapidamente o segundo lugar do ranking.
Já Pablo Carreño emendou mais duas vitórias a seu título de domingo em Marbella, a de hoje diante de Karen Khachanov, e terá pela frente um embalado Casper Ruud, que não deu chance a Diego Schwartzman. No caminho dos dois, está o atual campeão Fabio Fognini, que economizou energia em duas atuações firmes e é favorito contra Filip Krajinovic.
Imperdível será o duelo entre Stefanos Tsitsipas e Cristian Garin, um dos setores mais duros da chave. Basta ver que o grego estreou contra Aslan Karatsev e precisou jogar firme, enquanto o chileno virou o jogo de dois dias contra Felix Aliassime. Há uma ótima chance de o vencedor chegar até a semi e desafiar Djokovic.