As últimas duas semanas sobre quadra de grama mudaram repentinamente o humor e a confiança de Taylor Fritz. O campeão de Indian Wells vinha da contusão no pé e havia perdido completamente o rumo, batido estreias de Hertogenbosch e Queen’s e ainda tendo de defender o título de Eastbourne. Então tudo mudou. Perdeu apenas 2 de seus últimos 22 sets disputados, nenhum deles neste Wimbledon, e de forma inesperada um tanto inesperada está nas quartas de final de um Grand Slam pela primeira vez.
Wimbledon é um lugar especial para ele. Desde criança, sempre ouviu que era “o torneio” e há pouco tempo viu o jogo em que sua mãe enfrentou Billie Jean King ali. “Não parece real”, afirmou ele ao bater sem sustos o australiano Jason Kubler. E tentou explicar o que torna a grama tão compativel com seu estilo: “Meu backhand melhora muito, porque a bola quica mais baixo. É verdade que perco um pouco do forehand pelo mesmo motivo, mas se consigo sacar bem fica tudo mais fácil”.
Fritz se diz pronto e ansioso para reencontrar Rafael Nadal, a quem venceu naquela final atípica de Indian Wells, em março, em que ele vinha de torção de pé e o espanhol sentia a fratura na costela. “Ele vai querer muito ganhar de mim e vamos ver o que acontece com os dois saudáveis”, avaliou. Sua tática para quarta-feira? A mais simples possível: “Tenho que ser agressivo o tempo todo. Isso é até mais fácil porque é uma tática única, não há mais no que pensar. Claro que terei de jogar num nível muito alto e será um alívio poder enfim jogar livre. Em todos os jogos até agora, fui o favorito”.
Ele que se prepare, porque Nadal mostrou mais evolução na vitória sobre o holandês Botic van Zandschulp. Até abrir 5/2 no terceiro set, havia errado apenas dez bolas e fazia perfeitas transições à rede. O primeiro set foi impecável e talvez seja o nível que o espanhol espera sustentar nas rodadas decisivas.
Depois, o primeiro saque caiu muito – apenas 48% de acerto no segundo set – e isso o obrigou a trocar mais bolas. Ainda assim era muito superior ao holandês. Podia ter evitado o aperto do final de jogo, já que sacou com 5/3, e errou longe um backhand quando sacou com match-point no tiebreak. Porém, não correu qualquer risco real.
Apesar de tantas surpresas desde torneio, não se pode esperar tarefa fácil na reta final de um Grand Slam. Se passar pela promessa ofensiva de Fritz, é bem possível que reencontre o imprevisível Nick Kyrgios e a final mais lógica seria diante do hexacampeão Novak Djokovic. Há muito trabalho pela frente.
Jogo a jogo
Kyrgios sofre de novo – O australiano Nick Kyrgios superou um dia instável e dor no ombro para vencer sua quinta partida em cinco sets em Wimbledon. Brandon Nakashima impôs inesperada resistência e ganhou muitos elogios do australiano. “Sempre que pisei na Central, eu era a zebra. Hoje, pela primeira vez, fui o favorito e isso se tornou completamente diferente. Foi um inferno jogar com ele”. Kyrgios gostou muito de sua postura emocional, ao lidar bem com os erros e as limitações, afirmando que está de bem com a vida e foi a Londres para erguer o troféu.
Garin espetacular – Para quem não se lembra, o chileno Cristian Garin era o adversário de estreia de Matteo Berrettini. Deu considerável sorte e agora está em inéditas quartas de Slam, ainda por cima na grama. O duelo contra Alex de Minaur tirou o fôlego. O australiano abriu 2 a 0, perdeu inúmeras chances e teve até dois match-points, porém Garin jamais se entregou na batalha de 4h34. Louvável a mudança tática, com bolas mais forçadas e tentativas junto à rede. Ele é o quarto chileno nas quartas de Wimbledon, depois de Luis Ayala, Ricardo Acuña e Fernando González.
Halep rumo ao bi – A romena Simona Halep voltou à Central depois de três anos, justamente no jogo de seu título de 2019, e fez gato e sapato de Paula Badosa. Quando precisou ser consistente, sobrou. Na hora de definir pontos, estava precisa. É exatamente a receita para encarar a debutante Amanda Anisimova, que chega pela segunda vez nas quartas de um Slam, a primeira na grama. Também em 2019, quando tinha 17 anos, Anisimova surpreendeu com a campanha no saibro de Roland Garros, mas contusões e problemas pessoais atrasaram seu amadurecimento.
Rybakina invicta – A outra vaga para a semi estará entre Elena Rybakina e Ajla Tomljanovic. A cazaque de 23 anos também fez suas primeiras quartas de Slam no saibro de Paris. Ainda não perdeu set nesta campanha, com atuações firmes diante de Coco Vandeweghe e Bianca Andreescu, e contou que ainda sente sequelas da covid que pegou em janeiro. A australiana repete a campanha do ano passado com virada em cima de Alizé Cornet sempre no estilo ofensivo.