Ainda que Rafael Nadal não esteja no seu melhor momento, vencê-lo sobre o saibro continua a ser uma façanha. O garoto Carlos Alcaraz, logo na terceira tentativa, abraçou sua chance. Jogou um tênis de primeiríssima linha, tomou a necessária postura ofensiva e, mesmo após um enorme susto com a torção de tornozelo, foi superior ao ídolo por considerável margem. Para coroar mais um momento mágico na sua arrancada, ainda deu uma aula de controle de ansiedade e de ousadia na sempre difícil hora de concluir uma vitória de tamanha relevância.
O primeiro set foi assustador. Alcaraz partiu para cima e fechou a parcial com uma contabilidade notável: 19 winners e apenas 10 erros. Rafa pareceu acreditar que seria possível administrar as trocas de bola, evitando o risco, mas isso foi um erro de avaliação. Mesmo colocando 74% do primeiro saque em quadra, só ganhou 43% desses pontos porque o forehand não tinha a penetração necessária. Marcou meros dois winners e errou oito bolas, sinais evidentes de sua passividade.
Tentou mudar essa postura no começou do segundo set, mas é pouco provável que teria alcançado placar tão elástico se Alcaraz não sofresse perigosa torção de pé logo de início. Ele claramente perdeu confiança e embalo, passou a apressar os pontos e chegou a tentar saque-voleio no segundo serviço num sintoma evidente de que estava perdido.
O susto passou e aí Alcaraz recuperou o domínio. Nadal vivia altos e baixos, com ótimos lances e grandes bobagens, e bastou uma quebra para que a diferença fosse determinada. Alcaraz ainda precisou sacar três vezes e suportou a pressão. Começou o game derradeiro com um saque-voleio de extrema qualidade, surpreendeu com uma curtinha pouco depois e fechou a batalha com enorme correria e poder defensivo. Marcou a décima vitória sobre um top 10, seis em oito nestes quatro meses de temporada.
Não vai dar tempo de festejar porque a próxima tarefa é nada menos que um duelo inédito contra o número 1 Novak Djokovic, com quem treinou durante a semana. Claro que Nole também não vive seu ápice e desta vez a torcida será maciça a favor do espanhol, mas Nole possui ingredientes diferenciados aos de Nadal que Alcaraz terá de lidar: saque mais incisivo, devoluções agressivas e posicionamento em cima da linha. Vamos ver como o pupilo de Juan Carlos Ferrero se adaptará a isso.
A atuação de Hubert Hurkacz foi tão ruim nesta sexta-feira que até fica difícil dizer se Djokovic subiu de nível em relação ao jogo contra Gael Monfils. O polonês se mexeu muito mal, parecia sempre atrasado e fez muito pouco com seus golpes de base, evitando um vexame maior graças ao saque. O fato é que sua irregularidade não deu grande ritmo ao sérvio, que já vinha de um dia inesperado de folga por conta do abandono de Andy Murray. De qualquer forma, estar numa semifinal de gabarito é um alívio e deve deixar Nole bem mais solto.
A outra semi não é menos interessante. O atual campeão Alexander Zverev elevou mais um pouquinho a qualidade até chegar no final do segundo set e aí deu uma incrível ‘viajada’, abusando das duplas faltas e dos erros, que reanimaram Felix Aliassime e esticou o jogo para além da meia-noite local. Contra Stefanos Tsitsipas, carregará um pequeno tabu quando se trata da terra batida, tendo perdido os três duelos para o grego. O primeiro deles foi exatamente em Madri há três anos, outro aconteceu em Roland Garros do ano passado e o mais recente veio na recente semi de Monte Carlo.
Tsitsipas venceu um jogo duro diante de Andrey Rublev. Seu ponto realmente positivo é a versatilidade que consegue no saibro, já que possui todas as variações e tem explorado bem a transição para a frente, não raramente com swing-volley. Como prometeu, mostrou paciência na parte defensiva contra o bombardeio russo. Pode decidir seu segundo Masters seguido e quem sabe repetir a final de Madri de 2019 diante de Djokovic.