Não é apenas a sucessão incrível de vitórias, títulos e façanhas. Acima de tudo, está a forma com que Carlos Alcaraz roubou a cena do circuito internacional de tênis. Mal completou 19 anos, possui uma seleção de golpes que poucas vezes se viu no circuito, traz uma proposta diferenciada e vistosa de jogar, demonstra enorme capacidade emocional e possui empatia contagiante. Não é à toa que todo mundo está de boca aberta.
Levantou o título de Madri com vitória sobre quatro dos 11 melhores do ranking e derrotou sucessivamente os monstros sagrados do saibro Rafael Nadal e Novak Djokovic, os dois aliás no terceiro set. Conseguiu reencontrar concentração e força para bater o ídolo Rafa após torção no tornozelo e superou o número 1 no tiebreak final, com uma maturidade e ousadia tão evidentes que até mesmo Nole ficou impressionado.
A vitória neste domingo sobre um estafado Alexander Zverev foi até um anticlímax, porque o alemão não jogou nada. O saque ainda o salvou no começo do jogo, mas a partir do momento que o espanhol encontrou o ritmo das devoluções o resultado foi um massacre. Ganhou 24 dos últimos 34 pontos da partida. Sascha, com enorme razão, desceu a lenha na organização por ter feito sempre a última partida das rodadas, que para seu azar começaram muito além do previsto e invadiram a madrugada. Saiu da semifinal à 1h da manhã local e teve apenas 15 horas para se recuperar.
Ele próprio sabe que Alcaraz era o favorito em qualquer circunstância, mas essa falha prejudicou uma final que poderia ter sido bem divertida. É muito provável que os promotores de Madri pouco se importem com isso, já que a ascensão de Alcaraz causa um furor na Espanha. A semi contra Djokovic liderou a audiência da tv local com mais de 34% dos aparelhos sintonizados.
O volume de jogo de Alcaraz, considerando-se aí a capacidade ofensiva e a postura tão positiva, apimenta de vez a expectativa por Roland Garros, ainda mais agora que ele optou corretamente por não ir a Roma. Conforme explicou, o tornozelo ainda dói e o sensato é tratar e descansar duas semanas. Fica assim uma dúvida salutar, uma vez que Paris está muito mais para Roma do que para Madri. Terá ele capacidade de manter esse padrão em condições mais lentas e por muito mais sets?
A discussão vai dominar o tênis até o Aberto francês chegar, daqui a dois domingos. Uma coisa é certa: ninguém vai querer ficar no mesmo lado da chave que Alcaraz.
As façanhas de Carlitos
- Ganhou todas as últimas nove finais que disputou desde outubro de 2020, o que inclui três challengers, o NextGen Finals e cinco ATPs
- Único tenista a derrotar Nadal e Djokovic num mesmo torneio sobre o saibro
- Mais jovem a ganhar cinco torneios de ATP desde Nadal, que tinha 18 anos em 2005
- Mais jovem a derrotar o número 1 do mundo em 15 anos
- Mais jovem a bater três dos top 5 num mesmo torneio, superando Djokovic em 2007
- Aos 19 anos e 4 dias, é segundo mais jovem a ganhar dois Masters 1000, atrás de Nadal, que tinha 18 e 340 dias em 2005
- Sete vitórias seguidas sobre adversários top 10 e oito em 10 na temporada
- Mais jovem campeão de Miami e de Madri
- Mais jovem campeão de ATP 500 ao vencer no Rio
- Já ganhou mais Masters 1000 do que Wawrinka e Del Potro
- Terceiro mais novo a ganhar um Masters 1000
- Passa a ser número 6 do mundo, 114 postos acima do que ocupava um ano atrás
- Assume liderança da temporada em títulos (4) e vitórias (28)
- É o número 2 no ranking da temporada, apenas 70 pontos atrás de Nadal
Reações
“Do jeito que está jogando, ele é tão favorito para Roland Garros quanto Nadal e Djokovic” (Andy Roddick)
“Você é no momento o melhor tenista do mundo. É excepcional para o tênis ter este superstar, que irá ganhar muitos Slam e ser número 1” (Alexander Zverev)
“Para alguém de sua idade, jogar de forma tão madura e valente é impressionante“. (Novak Djokovic)
“Quando sua adrenalina sobe, ele é praticamente imparável“. (Rafael Nadal)
“Neste momento, a ordem é ‘fuja do Alcatraz’ para vencer Roland Garros, mais até do que ‘vamos Rafa‘” (Yevgeny Kafelnikov)