Milão (Itália) – Ex-número 1 do mundo e dono de seis títulos de Grand Slam, Boris Becker relembrou um dos capítulos mais duros de sua vida ao comentar os 231 dias que passou na prisão em 2022. Condenado por fraude financeira e levado diretamente ao presídio de Wandsworth, na Inglaterra, o alemão descreve no livro Inside, recém-lançado pela Harper Collins, como o choque inicial o obrigou a encarar a própria trajetória.
Becker foi condenado a dois anos e meio de prisão por, durante seu processo de insolvência, ter omitido parte de seus bens que poderiam ser usados para pagar credores. Detido em 29 de abril de 2022, no início de um feriado prolongado, passou os primeiros dias isolado na cela em meio ao caos do presídio, que ele descreve como as noites mais difíceis de sua vida. Libertado antecipadamente e deportado para a Alemanha em dezembro daquele ano, Becker está com 57 anos e conta como se conseguiu reencontrar alguma serenidade após anos de turbulência pessoal.
“A vida na prisão é um verdadeiro castigo. Você precisa encarar a realidade, porque lá dentro as pessoas enlouquecem, se machucam ou até tiram a própria vida”, disse Becker, em entrevista ao jornal The Guardian. “Mas, olhando agora, talvez tenha sido bom para mim parar por um longo tempo. Para entender o que aconteceu antes e assumir responsabilidade total pelo bem e pelo mal que fiz”. Ele afirma que refletir sobre isso o ajudou a compreender por que muitos presos reincidem: “Você tem que se disciplinar nos pensamentos e encontrar uma conclusão positiva. A reabilitação é possível, mas começa dentro de você”.
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Becker conta que uma das viradas em sua rotina carcerária veio após o contato com um agente penitenciário, Andy Small, que o incentivou a estudar o estoicismo. “Isso me ajudou e, com o tempo, virei uma espécie de professor, contando minha história aos mais jovens, mostrando como é possível ter tudo, perder tudo e ainda assim não se entregar”, traduz o ex-tenista. Segundo ele, a filosofia o guiou a um entendimento mais profundo de suas próprias escolhas e o motivou a tentar evitar que outros seguissem o mesmo caminho. “Hoje recomendo o estoicismo a quem enfrenta problemas. É mais necessário do que nunca”.
O alemão fala sobre o impacto emocional de reviver essas experiências no livro e admite que nunca imaginara enfrentar noites tão difíceis quanto as primeiras em Wandsworth. Ele descreve a sensação de isolamento, o ritmo lento das horas e o medo de não suportar a rotina da cela. “Você tem de encontrar um jeito. O tempo é seu inimigo ali dentro, porque o relógio anda devagar demais”, relata. Mesmo assim, Becker reconhece que parar e encarar-se sem distrações foi decisivo para reconstruir sua vida. “Só estou bem hoje porque assumi responsabilidade por tudo. Mas quem disser que a vida na prisão é fácil estará mentindo”.
Generosidade de Djokovic à família
Em meio a esse período turbulento, Becker guarda lembranças positivas, especialmente as ligadas ao tênis. Ele recorda que assistiu à campanha de Novak Djokovic em Wimbledon de dentro da cela, em 2022, usando uma pequena televisão. A cada jogo vencido pelo sérvio, os presos batiam nas portas das celas em comemoração. “Depois daquela final eletrizante contra Kyrgios, eu já não tinha mais medo”, conta. Quando Djokovic ergueu o troféu, Becker repetiu o gesto sozinho. Ele já treinou o sérvio entre 2013 e 2016.
As emoções se intensificaram porque Djokovic havia providenciado ingressos para sua esposa, Lilian, e para seu filho mais velho, Noah, que estiveram presentes em todos os jogos. “Esse é o verdadeiro significado de amizade: não ser esquecido”, disse Becker, que agradece ao sérvio até hoje por esse gesto de solidariedade. Ele afirma que a presença de sua família no box o ajudou a manter a sanidade emocional no momento mais vulnerável de sua vida.
Becker também comentou, na entrevista, o papel de Djokovic no tênis atual e seu legado. Apesar de não ser mais seu técnico, ele acredita que o sérvio continua sendo um exemplo para as novas gerações. “Ele mostra o nível de dedicação necessário para chegar ao topo e permanecer lá. Está atrás do 25º Grand Slam e ainda alcançou as semifinais dos quatro majors este ano. Quem somos nós para duvidar dele?”, opinou.
Vida nova na Itália

Livre das dívidas e da pena, Becker vive agora em Milão com Lilian e trabalha intensamente na televisão italiana, cobrindo tênis e futebol. Ele conta que precisou aprender habilidades básicas atrás das grades, como fazer café com uma chaleira, e que hoje leva a vida com mais simplicidade. “A Itália é um país maravilhoso e a vida está boa no momento. Não dá para prever o futuro, mas tento viver bem com minha esposa e minha família”, afirmou.
À espera do primeiro filho com Lilian, Becker diz reconhecer essa fase como uma segunda chance. “Apaixonei-me por ela no pior momento da minha vida, quando eu estava insolvente e minha segunda esposa tinha me deixado. Mas ela ficou comigo, mesmo não precisando”, relatou. Agora, prestes a ampliar a família, o ex-número 1 admite que se pega surpreso com sua própria trajetória. “É quase um filme de Hollywood. Eu me belisco às vezes para acreditar. Sei que é uma segunda chance de verdade e estou tentando aproveitá-la ao máximo”.












O bom e velho Djokovic dentro e fora das quadras mostra ser um atleta de primeira linha e um homem de caráter. Suas boas qualidades são evidentes em alguns episódio como ajudar seu povo duranta enchentes desastrosas, quando ele doou sua premiação na Itália.
Nao aceitou as exigências das autoridades australianas no Aus Open, e não jogou o grand slam. E mais outros episódios em sua brilhante carreira marcam sua personalidade e seu caráter como o grande ser que ele é. Estendeu sua mão e ajudou Boris Becker quando o mesmo estava necessitado de ajuda.
Djoko e seu temperamento forte pode deixar alguns de fracos de temperamento e personalidade um pouco perplexos por não entenderem gestos e atitudes de alguém com esses predicados.
Djoko é um servio, yugoslavo raiz, um povo bravo, de muita garra, demonstrada em diferentes modalidades de esporte. Djoko faz muito bem a quem aprecia qualidades e virtudes tão carentes nesses nossos tempos.
Quando ele deixar as quadras de tênis e dedicar seu tempo a sua família, vou sentir sua falta, como sinto falta de bons esportistas nas diferente modalidades. Parabéns Djoko.
Dev
Com um texto desse so me resta bater palmas!!! Ele é tudo isso e ainda mais.
Tecto tão gigante quanto o Djoko!
E um detalhe importante, prezado Sergio Barreto: só tomamos conhecimento desse fato, através de Boris Becker, pois o próprio sérvio jamais se autopromoveu por ajudar alguém.