Não há nada que Rafael Nadal tenha feito nesta final, que Novak Djokovic não tenha sido melhor. Nesse tom, por incrível que seja, o tenista sérvio fez tudo parecer muito fácil nessa decisão do Aberto da Austrália. Isso é resultado de um trabalho árduo e o perfeccionismo demonstrado pelo campeão.
Sempre Djokovic busca pelo melhor. Mesmo que isso signifique alguns tropeços, desencontros e decisões longe das ideais. Não há muito tempo, o sérvio mexeu drasticamente em seu staff, até voltar a tranquilidade do trabalho com Marian Vajda. Passou por momentos difíceis e de inconformismo. Na sua volta ao circuito não conseguia jogar o seu melhor tênis. Sofreu pela falta de paciência, até chegar ao nível que demonstrou em Melbourne.
Para chegar a esse ponto, Novak Djokovic demonstrou seu lado mais exigente. E na busca da perfeição, muitos interpretam que o tenista sérvio é chato, antipático. Mas, ao meu ver, é necessário entender os critérios por ele utilizados.
A fama de um jogador antipático nos bastidores surgiu por conta do pessoal da própria ATP e até mesmo da ITF. É que dentro de seus critérios, Djokovic não se revela um bajulador e nem aceita todas as normas. E, por isso, há rumores que o atual número 1 do mundo está em briga com Chris Kermode e quer tirá-lo da presidência da associação de tenistas.
Já conhecia a fama de antipático – e até estava convencido disso, confesso – quando estive pela primeira vez em contato com Djokovic. Este encontro aconteceu na despedida de Gustavo Guga Kuerten do torneio de Miami. O sérvio tinha sido surpreendido logo na estreia da competição e aceitou o convite para a celebração do brasileiro em uma churrascaria da cidade. Djokovic foi de ônibus, ao lado de um montão de gente, e esteve na festa com simpatia, carinho com todos e simplicidade.
Certa vez, em Roland Garros, tinha uma entrevista exclusiva com Djokovic. Nesse dia, Guga tinha acompanhado o jogo do sérvio na tribuna Presidencial da Philippe Chatrier. Iniciei a conversa falando deste fato e ao perceber que se tratava de uma entrevista a brasileiro abriu um largo sorriso e confessou que Kuerten merece todo o respeito e privilégios concedidos a ele em Paris. O papo estava fluindo de forma agradável, quando entrei na parte técnica perguntando de suas perspectivas no torneio etc e tal. Neste momento o agente da ITF interrompeu e disse que meu tempo tinha acabado. Djokovic, mais uma vez não cumpriu as normas, olhou feio para o lado e deixou que eu terminasse o meu trabalho com tranquilidade.
Não satisfeito, o agente de comunicações da ITF procurou-me horas depois para dar uma bronca, que eu não poderia ter ficado tanto tempo na entrevista e coisas assim. Ao final, confessou que Djokovic o havia também repreendido. E, é claro, deixou a entender que na sua interpretação o tenista sérvio não era dos mais fáceis no tratamento.
Apesar de tantas informações em contrário, não vejo como não entender os posicionamentos de Djokovic e estou convencido, agora com opinião própria, que o sérvio não só faz muito bem ao tênis mundial, como também é simpático. E isto pode ser visto, mais uma vez, num pedaço da entrevista coletiva do campeão do Aberto da Austrália, quando faz uma ironia das mais engraçadas com o jornalista italiano Ubaldo Scanagatta. O trecho está nas mídias sociais.