John Isner está longe de ser um dos meus tenistas favoritos, muito em função do estilo um tanto cansativo que impõe nas partidas, baseado quase o tempo inteiro no primeiro saque. Mas sua campanha em Miami e a notável virada que obteve em cima de Sascha Zverev na final deste domingo nos força a muitos elogios. Principalmente quando lembramos que Crandon Park não tem um piso sintético veloz e portanto obriga até mesmo os grandes sacadores a mostrar a mínima competência no fundo de quadra.
Um número particularmente me chama a atenção no duelo diante de Zverev: eliminados os aces (18 a 10), o norte-americano marcou 26 winners contra 12 em golpes da base ou nos raros voleios. O todo-poderoso backhand do alemão, de longe seu melhor golpe, produziu uma única bola vencedora em 33 games disputados, enquanto o sempre frágil backhand do gigante de 2,08m obteve sete.
O fato evidente é que Isner procurou mais o jogo e isso não tem nada a ver com seu bombástico serviço. Era o norte-americano quem arriscava uma bola mais difícil, buscava paralelas, tentava a rede. Zverev fez uma exibição para lá de pragmática, à espera de erros, sem criatividade nem ousadia. Ignorou inúmeras chances de buscar a paralela com o backhand, preferia voltar a bola na cruzada. Mereceu perder.
Na entrevista oficial, Isner destacou a parte mental do tênis. Incrível como ele chegou a Miami desacreditado, com duas vitórias na temporada, e não se entregou. Quem sabe, o título de duplas em Indian Wells tenha feito a diferença, porque o vimos bem mais confiante nas vitórias sobre Marin Cilic, Juan Martin del Potro e Zverev, ou seja, três dos seis melhores do ranking atual e reconhecidos talentos sobre a quadra dura. Também superou o recorde negativo que tinha contra Hyeon Chung e diante de Sascha. Estava tudo contra ele, porém nada o deteve.
Isner pode não ser o tenista mais vistoso do circuito, mas em Miami ele deu uma bela lição ao circuito de como vale a pena ser persistente.
Algo semelhante cabe a Sloane Stephens, porque ainda aos 25 anos a sua passagem pelo circuito tem sido de desafios constantes. Todo mundo sabe de como superou longa parada por problema no pé antes de conquistar o US Open no ano passado. Sua temporada também era apática até Miami, com atuações ruins e derrotas bobas.
A final de sábado contra Jelena Ostapenko foi sofrível. Jogo nervoso demais, as duas deixando claro a fraqueza dos serviços, a pressa em se livrar da bola. Stephens ao menos se soltou ao ganhar o primeiro set e a partir daí produziu um tênis mais digno. Ostapenko ainda precisa dosar seus impulsos e cortar os erros. Parece sempre excessivamente acelerada e vem aí a defesa de Roland Garros, enorme peso nos ombros.
Façanhas
– A 25 dias de completar 33 anos, Isner se tornou o tenista de maior idade a conquistar seu primeiro Masters 1000.
– No geral, ele é o terceiro mais idoso campeão desse nível, atrás somente de Andre Agassi e Roger Federer.
– Isner também obteve um triunfo raro, que é ganhar simples e duplas de Masters num mesmo ano, algo que não acontecia desde Rafa Nadal, em 2012. O espanhol tem o feito máximo de ganhar simples e duplas no mesmo Masters (Monte Carlo, em 2008).
– Com os títulos de Delpo em Indian Wells e de Isner em Miami, é a primeira vez desde 2003 que dois jogadores não europeus faturam Masters consecutivos, repetindo Lleyton Hewitt e Andre Agassi.